Zum, zum
Cardoso Filho
“Oi!
Zum, zum, zum, zum zum, zum, está faltando um...”
A ótima marchinha carnavalesca “Zum,
zum”, composta por Paulo Soledade e Fernando Lobo, em 1950, e gravada por Dalva
de Oliveira, fez grande sucesso no Carnaval de 1951. Foi feita em homenagem ao
Comandante Edu, Carlos Eduardo de Oliveira, morto quando pilotava o Constellation
da Panair que caiu próximo a Porto Alegre, em 28 de julho de 1950. Edu foi o
fundador do famoso Clube dos Cafajestes, turma da fuzarca que fez furor nas
noites e carnavais cariocas nos anos 1940 e 1950.
Lembrei-me do estribilho diante da
prisão preventiva de José Dirceu realizada pela Polícia Federal, em 03.08.2015,
em prosseguimento da Operação Lava-Jato, que devassa a alta corrupção brasileira
praticada por políticos, grandes empresários donos de empreiteiras de obras e
executivos de empresas estatais. José Dirceu é mais um nome, digamos, ilustre,
melhor caberia dizer notório, para a galeria dos que já se encontram recolhidos
ao xadrez à espera de pronunciamento da Justiça Federal. O laço, como se vê,
vai-se apertando. Mas, zum, zum, zum, zum, zum, zum, está faltando um.
Pois
é. O estribilho me fez pensar. Nesse cardume de saqueadores, falta o peixe mais
graúdo, aquele que dá o troféu ao pescador em concurso de pesca. Penso em Lula.
É possível que alguém ainda acredite que ele nunca soube das grossas
maracutaias que envolveram seu governo, que nunca viu nem ouviu coisa alguma.
Que não tem seus nove dedos enterrados na massa de podridão que vai sendo
exposta pelo escândalo do petrolão, continuidade do escândalo do mensalão. Que,
quando ainda presidente da república, na sala ao lado de seu gabinete, petistas,
lobistas, operadores da corrupção e aliados políticos negociavam e acertavam os
assaltos aos cofres das estatais e ele, angelicamente, desconhecia os fatos. É
possível. Por ingenuidade, tolice ou pura sordidez, há quem continue agarrado à
fantasia de que Lula é a virgem do meretrício. Mas vai chegando o tempo de o
cerco fechar-se de vez.
Diante do quadro desesperador, que
fazem os petistas? Lançam mão do surrado recurso de se fazerem de vítimas.
Vítimas “dazelites”. Segundo eles, há uma conspiração golpista para tirá-los do
poder, e a Operação Lava-Jato seria parte da trama para liquidar com o Partido
dos Trabalhadores. Eis que, de repente, explode uma bombinha em frente ao
prédio onde funciona o Instituto Lula, em São Paulo. Quem teria cometido a
besteira? Eis um mistério rasteiro. Uma possibilidade, vá lá, seria que um brasileiro
desempregado, sem dinheiro para abastecer a mesa da família, batendo de porta em
porta em busca de serviço, que não há, e a inflação comendo seus restantes
trocados, em desespero diante da situação sem saída visível, com a paciência, e
diria saco, mas resisto em respeito às prezadas leitoras, já além dos limites
com o caos econômico gerado pela irresponsabilidade do governo, foi a uma loja
de venda de fogos, comprou uma bomba de São João e a jogou em frente ao prédio
do Instituto Lula. Seria o protesto isolado do desespero, da raiva pelo buraco
em que os governos petistas nos enfiaram, e Lula é figura emblemática dessa
derrocada. Muito mais provável, porém, é que os próprios petistas tenham feito
o serviço, em busca do mote para saírem a gritar que foi terrorismo, que estão
sendo vítimas dos golpistas, que é a burguesia partindo para a violência, para
a guerra.
Felizmente,
como se viu, não colou. O brasileiro vai-se vacinando contra as mentiras,
artimanhas e tentativas de vitimização de um partido que chegou ao poder como
símbolo de ética e sairá dele pela tubulação do esgoto.
“Oi! Zum, zum, zum, zum, zum, zum,
está faltando um...”
Agosto de 2015.
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