Bom companheiro
Cardoso Filho
Apanhei o telefone celular e busquei a
lista de meus contatos. Fui à letra “O” e, com pesar, retirei o nome de Osny
Schmal, falecido recentemente. Um dos homens mais decentes que conheci.
Advogado ético e competente, cordialíssimo, leal e fraterno, de polidez incapaz
de um gesto ou palavra de alguma aspereza. Nos últimos tempos, víamo-nos na
última quinta-feira de cada mês, em jantar de velhos companheiros de trabalho
na Copel, reunidos por iniciativa de Gilberto Bachmann na Churrascaria do Coxa.
E, ali, à mesa, Osny Schmal, afável e sorridente como sempre, trocava com os
amigos, entre um pedaço e outro de assados que saboreava com saudável apetite,
reminiscências, divertia-se com as amenidades e opinava sobre as coisas tristes
deste Brasil tão pilhado por políticos desonestos, assunto inescapável nos dias
sofridos que correm. Depois, a enfermidade o afastou e ficamos na expectativa
de que retornasse logo. Infelizmente, não deu.
O simples gesto, de apagar com um
toque de dedo o nome do estimado amigo de minha lista de contatos no telefone
celular, funcionou como alegoria da morte. Assim acontece. Num certo momento, quase
sempre impressentido, um dedo misterioso nos apaga da lista dos viventes e
despacha nossa essência etérea para o espaço, para o infinito, para algum lugar
certamente melhor do que este plano cruento e insensato, e é consolador pensar que,
lá, os bons, como Osny Schmal, recebem a recompensa justa pela lisura com que
viveram.
Na esteira do gesto, vieram as breves
considerações sobre o saudoso amigo. Uma pausa entre tantos textos em que tenho
insistido sobre os danos morais e econômicos cometidos pelos governos petistas
e seus aliados contra o Brasil. Males contra os quais Osny Schmal também se
insurgia com veemência, amargurando-se com os descaminhos pelos quais o petismo
nos enfiou. Deplorava, por igual, o muito de errado que havia na Justiça
brasileira, emperrada no funcionamento por recursos processuais quase
inesgotáveis e afetada por graves anomalias morais. Diante de quadro tão feio,
ele, na altura de seus mais de oitenta anos, tinha dificuldade de acreditar que
veria surgir um Brasil melhor, e sua perspectiva temporal tendia a dar-lhe
razão.
Pode
que, pelos mesmos motivos, alguns de nós não alcancemos o Brasil que os
brasileiros decentes merecem. Também a Moisés foi recusado chegar à Terra
Prometida. De modo que nada justifica virar as costas e dar de ombros à
criminosa governança petista, como fazem alguns desfibrados que se alienam sob
o fatalismo derrotista de que não tem jeito, que é assim mesmo, que o Brasil
não muda e seguirá em seu destino de galinheiro do mundo, e nessa arenga se
refugiam nos gozos da vida. É preciso combater sem tréguas aos que lesam e
desgraçam o Brasil, mesmo que nossa finitude possa negar-nos a ventura de
chegar à pátria desejada. Mesmo que um Brasil, livre da corrupção devastadora
que se instalou no estado dominado pelo petismo de Lula, seja esperança
flutuando num horizonte fora de nosso alcance. Não importa. Lutar contra a
canalhice é dever que a consciência nos impõe. Amanhã, haverão de proclamar que
fomos, os vivos e os mortos, jovens e velhos, bravos e vitoriosos na peleja
pela decência e moralidade do País.
Agosto de 2015.
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