sexta-feira, 28 de agosto de 2015

Bom companheiro

Bom companheiro



Cardoso Filho

          Apanhei o telefone celular e busquei a lista de meus contatos. Fui à letra “O” e, com pesar, retirei o nome de Osny Schmal, falecido recentemente. Um dos homens mais decentes que conheci. Advogado ético e competente, cordialíssimo, leal e fraterno, de polidez incapaz de um gesto ou palavra de alguma aspereza. Nos últimos tempos, víamo-nos na última quinta-feira de cada mês, em jantar de velhos companheiros de trabalho na Copel, reunidos por iniciativa de Gilberto Bachmann na Churrascaria do Coxa. E, ali, à mesa, Osny Schmal, afável e sorridente como sempre, trocava com os amigos, entre um pedaço e outro de assados que saboreava com saudável apetite, reminiscências, divertia-se com as amenidades e opinava sobre as coisas tristes deste Brasil tão pilhado por políticos desonestos, assunto inescapável nos dias sofridos que correm. Depois, a enfermidade o afastou e ficamos na expectativa de que retornasse logo. Infelizmente, não deu.
          O simples gesto, de apagar com um toque de dedo o nome do estimado amigo de minha lista de contatos no telefone celular, funcionou como alegoria da morte. Assim acontece. Num certo momento, quase sempre impressentido, um dedo misterioso nos apaga da lista dos viventes e despacha nossa essência etérea para o espaço, para o infinito, para algum lugar certamente melhor do que este plano cruento e insensato, e é consolador pensar que, lá, os bons, como Osny Schmal, recebem a recompensa justa pela lisura com que viveram.
          Na esteira do gesto, vieram as breves considerações sobre o saudoso amigo. Uma pausa entre tantos textos em que tenho insistido sobre os danos morais e econômicos cometidos pelos governos petistas e seus aliados contra o Brasil. Males contra os quais Osny Schmal também se insurgia com veemência, amargurando-se com os descaminhos pelos quais o petismo nos enfiou. Deplorava, por igual, o muito de errado que havia na Justiça brasileira, emperrada no funcionamento por recursos processuais quase inesgotáveis e afetada por graves anomalias morais. Diante de quadro tão feio, ele, na altura de seus mais de oitenta anos, tinha dificuldade de acreditar que veria surgir um Brasil melhor, e sua perspectiva temporal tendia a dar-lhe razão.
Pode que, pelos mesmos motivos, alguns de nós não alcancemos o Brasil que os brasileiros decentes merecem. Também a Moisés foi recusado chegar à Terra Prometida. De modo que nada justifica virar as costas e dar de ombros à criminosa governança petista, como fazem alguns desfibrados que se alienam sob o fatalismo derrotista de que não tem jeito, que é assim mesmo, que o Brasil não muda e seguirá em seu destino de galinheiro do mundo, e nessa arenga se refugiam nos gozos da vida. É preciso combater sem tréguas aos que lesam e desgraçam o Brasil, mesmo que nossa finitude possa negar-nos a ventura de chegar à pátria desejada. Mesmo que um Brasil, livre da corrupção devastadora que se instalou no estado dominado pelo petismo de Lula, seja esperança flutuando num horizonte fora de nosso alcance. Não importa. Lutar contra a canalhice é dever que a consciência nos impõe. Amanhã, haverão de proclamar que fomos, os vivos e os mortos, jovens e velhos, bravos e vitoriosos na peleja pela decência e moralidade do País.

Agosto de 2015.  
         


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