sexta-feira, 24 de fevereiro de 2017

Helena

Helena
Cardosofilho
A perda repentina de Helena foi para Álvaro um golpe lancinante. Encontrou-a dormindo, assim lhe pareceu. Como a manhã já se adiantava, aproximou-se e chamou-a com suavidade. Não houve resposta. Sacudiu-a levemente. Ao tocá-la, a frieza do corpo lhe revelou a verdade terrível. A morte se insinuara durante o sono e a arrebatara. Álvaro gritou em desespero, clamando por ela uma, duas, três vezes. E, então, explodiu num choro convulsivo.
Viveu o funeral como se vagasse num pesadelo horrendo. Queria acordar e descobrir que tudo não passava de um sonho mau. Depois, teve de enfrentar a realidade e mergulhou em depressão. O golpe fora inaceitável e ele amaldiçoou a força misteriosa que o perpetrara. A maldita mão que a havia levado embora.
Apegou–se às lembranças felizes vividas com Helena. Mergulhou na solidão em que só ele e ela habitavam, e de tal modo que o comportamento se tornou doentio, e os amigos se preocuparam. Acabaria morrendo de um jeito ou outro. Não seria o primeiro. Era preciso resgatá-lo do poço, antes que fosse tarde, e a opinião unânime era que Álvaro tinha de mudar de morada, para se desprender do mórbido apego às recordações de sua vida com Helena.  Assim começou o insistente trabalho de convencê-lo a deixar a casa, primeiro passo na tentativa de recuperá-lo da prostração.
João Carlos, amigo mais próximo, se empenhou, mais que todos, na tarefa. Visitava-o com frequência e insistia: “Álvaro, você precisa deixar esta casa. Venda-a e compre um apartamento. Deixe para trás o passado. Não é esquecer, que a gente não esquece, mas acomodá-lo onde doa menos. Aqui, suas dores estão muito vivas e o maltratam demais”.
Álvaro fitou o amigo com a tristeza que o ensombrecia desde a morte de Helena. “Como deixar esta casa, João Carlos? Tudo que tive está aqui, cercado por estas paredes. Aqui, fui feliz com Helena, por trinta e dois anos. Aqui, cresceram meus três filhos. Se eu deixar a casa, viro um bicho sem dono, sem morada. Serei um estranho num apartamento qualquer, despido de mim, de minhas recordações, sem identidade”.
Deixaram o assunto. Forçar não ajudaria. João Carlos o retomaria em outra visita. O convencimento, se fosse possível, requeria a paciência da água batendo na pedra. Conversaram mais um tempo, beberam um cafezinho, depois João Carlos apanhou o chapéu, despediu-se, voltaria em breve.
Álvaro fechou a porta e foi sentar-se no sofá. Pensou em ligar o rádio, ou a televisão, mas desistiu. Queria permanecer quieto, sem nada a interferir nos pensamentos. A conversa reavivara lembranças. Sim, quase um ano depois de morta, Helena continuava presente. Quase podia senti-la pela casa. Olhou para a poltrona que ela preferia. Ah, por que não estava mais ali? Por que foi embora tão cedo, tão de repente? Cinquenta e cinco anos! Muito pouco. Era ainda uma mulher bonita, como fora desde mocinha. Pelos olhos da memória, a revia aos dezessete anos, quando a conheceu. Demorou a namorá-la. Cerca de um ano. Ela, muito jovem, não tinha pressa, queria escolher bem, e ele precisou de toda a sedução de que era capaz para conquistá-la. Namoro e noivado consumiram seis anos. Ela contava vinte e três, quando se casaram. Ele, trinta. Diferença boa, sete anos, já se sentiam com maturidade para enfrentar a vida a dois. O casamento deu certo. Foram felizes, e os desencontros, alguns motivados por seu ciúme, resolveram-se sem traumas. Sim, Álvaro fora ciumento desde o começo, de ciúme que não arrefeceu com o passar do tempo. Helena chamava a atenção, atraía os olhares dos outros homens, e ele se incomodava, cioso de sua pretensa posse. Será que ela devolvia algum olhar? Longe dele, flertaria com alguém?, e a possibilidade fazia lhe arder o sentimento. Helena, entretanto, ao que se sabia, jamais lhe deu motivo real para a preocupação. Apesar disso, Álvaro costumava comentar com os mais íntimos, como que brincando, mas, no fundo, a sério, que ser marido de mulher muito bonita era encargo pesado, requeria ciência.
João Carlos voltou dias depois. Conversaram amenidades, riram um pouco, Álvaro esquecia a dor por uns momentos e voltava a ser espirituoso como em outros tempos. Foram nessa toada até João Carlos voltar ao repisado assunto. Álvaro precisava deixar a casa, para seu próprio bem.  Fechar a porta do passado. A vida seguia, e ele não podia pôr-se à margem, agarrado de modo tão obsessivo a lembranças. Álvaro, no entanto, repetia os argumentos, não, não podia, seria como trair suas recordações mais valiosas, seria abandonar o que havia ainda de Helena na casa. João Carlos ouviu a argumentação costumeira. Preparara-se para isso.  Guardava o último cartucho, à espera de que Álvaro gastasse a munição. Então, ponderou: o apego tão forte de Álvaro à memória de Helena, procurando-a nos mínimos detalhes da casa, nas toalhas, nas louças e talheres, nos vestidos, nos sapatos, nos perfume e cremes sobre o toucador, recusando-se a deixar o passado, talvez a fizesse sofrer. Ele, de algum modo, poderia estar retendo-a por invisíveis laços, não permitindo que seguisse o caminho a ela destinado em outra dimensão. E, quem sabe, o espírito de Helena se atormentasse, vendo-o em sofrimento que a impedia de se libertar. Seria bom, seria justo impedi-la de seguir adiante? Fazê-la padecer?
Álvaro emudeceu. Baixou a cabeça. Pensou durante longos segundos. Rebateu, por fim. Aquilo constituía mera hipótese. Quem garantia que fosse daquele modo? Que Helena sofresse com seu apego tão forte a lembranças? João Carlos devolveu-lhe a indagação: e quem podia garantir que não fosse? A dúvida insolúvel estava posta. Álvaro arriscaria, dali em diante, fazer o espírito de Helena, mulher que ele amara com intensidade, sofrer com sua fixação? Valeria a pena apostar?  João Carlos levantou-se da poltrona, apanhou o chapéu e despediu-se. Estivesse certo, o assunto se encerrava ali. Não voltariam a ele, prometeu, e Álvaro que refletisse e resolvesse como achasse melhor.
Álvaro afligiu-se durante longo tempo, dias, talvez, diante da hipótese levantada pelo amigo, e chegou a detestá-lo por abalar sua dor. Mas, devagar, a insistência da água infiltrou-se em seu entendimento. Suas recordações podiam carregar o egoísmo de contemplar somente o seu sofrimento? E se Helena precisasse mesmo libertar-se para sempre dos vínculos terrenos?  Seria assim que acontecia? Quem o saberia dizer? Na dúvida, que não fosse ele a impedi-la, concluiu. Continuaria a lembrá-la com o amor e ternura que nada, nem o tempo, nem ninguém, diminuiriam, mas sem a obsessão que o atormentara, e em imaginação a viu alar-se como um passarinho rumo ao azul do infinito. E ocorreu-lhe pensar que a morte prematura de Helena concedera a ela a compensação de continuar eternamente bela.

Fevereiro de 2017.

terça-feira, 21 de fevereiro de 2017

O Travo e a Trova

O Travo e a Trova
O Travo brigou com a Prosa
Adverso
Travou
O Verso
Há dias o nascedouro de ideias está seco! Poderia titular o texto como: “Deu um Branco”! Muito comum e sem Criatividade! Mesmo que a aquarela da capa induza á caixas cranianas esbranquiçadas... Existe um momento em que o sangue recomeça a correr nas têmporas! Destravar a mente, nem que seja como um parto a fórceps ou por vácuo extrator (ventosa) é mais fácil que pegar galinha pela orelha! O medo de se expor aumenta. Além disso, sempre me lembro de “O Filho DO HIPNOTIZADOR e outras histórias de estranhas pessoas” de Dennis D:
“Escrever é revelar-se. Por isso, talvez, já disseram que toda escritura – como ofício ou como arte – é apenas uma das muitas faces do exibicionismo humano.”
“Acreditem, mostrar a bunda na janela pode ser menos constrangedor do que expor, em letras, as entranhas da própria sensibilidade”.
Pablo Neruda diz que “Escrever é fácil. Você começa com uma letra maiúscula e termina com um ponto final. No meio você coloca ideias”.
Será? Mesmo o meio sendo uma “merda”?
“A verdade é que não há verdade.”
Pablo Neruda
Por isso e por todo o risco que corro agora, escrevendo, invoco o mestre que diz:
“A timidez é uma condição alheia ao coração, uma categoria, uma dimensão que desemboca na solidão”.
Pablo Neruda
Estamos vivendo um momento mundial carregado de intempéries e incongruências. Os meios de comunicação nos “metralham” com todo tipo de disritmias entre os povos e entre as nações! Há desgaste cultural em civilizações milenares! Um esvaziamento da massa encefálica dos indivíduos e do consciente coletivo torna a superficialidade fator dominante, favorecendo ao tal do “branco da mente”.
O Travo brigou com a Prosa
Prosa é o nome que se dá à forma de um texto escrito em parágrafos. O termo deriva do latim prosa, que significa discurso direto, livre, em linha reta. Trata-se da expressão do "não eu" (ou do objeto), por meio de metáforas univalentes.
Aristóteles já observava, em sua "Poética", que nem todo texto escrito em verso é "poesia", pois na época era comum se usar os versos até em textos de natureza científica ou filosófica, que nada tinham a ver com poesia. Da mesma forma, nem tudo que é escrito em forma de prosa tem conteúdo de prosa.
Mudando o rumo dessa Prosa, na ansiosa tentativa de punir o Travo, com o sangue já circulando nas têmporas, vamos falar de Arte!
Arte geralmente é entendida como a atividade humana ligada a manifestações de ordem estética ou comunicativa, realizada a partir da percepção, das emoções e das ideias, com o objetivo de estimular essas instâncias da consciência e dando um significado único e diferente para cada obra. A arte se vale para isso de uma grande variedade de meios e materiais, como a arquitetura, a escultura, a pintura, a escrita, a música, a dança, a fotografia, o teatro e o cinema.
Quem sabe se pelo fato de encontrar-me em algumas dessas variadas formas de expressão, tenha que pagar o “preço” do desgaste de criar, com o famoso “branco”?
Quantas “calorias mentais” são gastas para colorir um desenho?
Seria melhor fazer uma Trova?
Ato de falar e tentar convencer a outra pessoa da sua ideia. Falar “abobrinhas” e fazer com que a pessoa acredite. Pode-se também dizer que seria como um “xaveco”. Trovadores são pessoas que te convencem a algo somente com a fala? Com a escrita é Poeta?
A Criatividade é assunto de reflexão de alguns cientistas e escritores como Vygotsky, Dostoievski, Damásio, Leo Szilard e Jonas Salk.
Em sua obra “Criação e imaginação”, Vygotsky afirma que é a atividade criadora que faz do homem um ser que se volta para o futuro, erigindo-o e modificando o seu presente.
Para esse psicólogo e educador, a criação é a condição necessária da existência e tudo que ultrapassa os limites da rotina deve sua origem ao processo de criação do homem e que a obra de arte reúne emoções contraditórias, provoca um sentimento estético, tornando-se uma técnica social do sentimento.
Para Dostoievski a necessidade de criar nem sempre coincide com as possibilidades de criação e disso surge um sentimento penoso de que a idéia não foi para a palavra.
Antonio Damásio, em seu livro "O Erro de Descartes" diz que criar consiste não em fazer combinações inúteis, mas em efetuar aquelas que são úteis e constituem apenas uma pequena minoria.
Para esse neurocientista, inventar é discernir, escolher. Aponta idéias idênticas às suas quando ele apresenta, em seu livro, afirmações feitas por Leo Szilard e Jonas Salk. Szilard: “O cientista criador tem muito em comum com o artista e o poeta”.
O pensamento lógico e a capacidade analítica são atributos necessários a um cientista, mas estão longe de ser suficientes para o trabalho criativo.
“Aqueles palpites na ciência que conduziram a grandes avanços tecnológicos não foram logicamente derivados de conhecimento preexistente: os processos criativos em que se baseia o progresso da ciência atuam no nível do subconsciente”.
Jonas Salk defende que a criatividade assenta numa “fusão da intuição e da razão”.
Criatividade é, portanto, para mim, a capacidade humana de escolher algumas dentre as várias possibilidades preexistentes e mesclá-las, criando algo inusitado.
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Esse personagem da foto acima comeu bastante maracujá... Ficou calminho... Calminho!
Como era dado a projeções de vidências avançadas, se irritou tanto que criou a Teoria da Relatividade.
E o ano novo começou! O litoral descongestionou. A megalópole se entupiu outra vez. O trânsito voltou a sangrar. Deveriam distribuir suco de maracujá para os motoristas... Se os peixinhos não tiverem comido todos lá no mar do sul.
No resto do Brasil... Varonil... O Travo e a Trova!
As Trevas! Alfafas... E... As Favas!
http://www.gibanet.com/wp-content/uploads/2012/10/jos%C3%A9-Genoino.jpg
Google – Imagem
Sem comentário... E agora José?
Vai de ônibus ou vai a pé?

Mamãe Eu Quero / Tico Tico No Fubá / Aquarela do Brasil.

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2017

Fotografias

Fotografias
Cardosofilho
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Lendo o poeta Mario Quintana, deparei com a palavra álbum. Bastou para me acudir um fluxo de reminiscências. Lembrei-me dos álbuns de fotografias. Bons tempos em que faziam parte de nossos guardados importantes, encarregados de preservar momentos de nossas histórias familiares em imagens em branco e preto, depois, em cores, estas a partir da segunda metade do século XX. Mas beleza clássica e o glamour das antecessoras permaneceram.
Cheguei por aqui em maio de1945, dias depois do término, na Europa, da II Guerra Mundial (o encerramento definitivo aconteceu só em agosto do mesmo ano, com a rendição do Japão). Época em que poucas casas possuíam câmeras fotográficas, e as primeiras que conheci, amadoras, eram no formato de pequena caixa, na cor preta (seria afrocor?), chamadas por isso de “caixotes”, primitivas aos olhos de agora como os dinossauros.
Abro parêntese para lembrar os álbuns de poesias, em que as mocinhas permutavam sonetos românticos e mensagens de carinho. Também concediam a honra de escrever em seus álbuns a moços escolhidos por amizade ou interesse sentimental escondido no coração sonhador. Para onde foram esses álbuns? Só as mocinhas de ontem sabem. Assim eram aqueles dias.   
Mas as ciências trabalhavam febrilmente. Por volta da década 1990, as câmeras fotográficas convencionais rumaram para a galeria de antiguidades, empurradas pela facilidade e instantaneidade das câmeras digitais, e demoraria bem pouco para que estas fossem incorporadas aos telefones celulares. Resultado foi que as fotografias que necessitavam de rolo de filme e revelação praticamente desapareceram do mercado, e nem a gigante Kodak, marca emblemática na produção de filmes, processos de revelação e máquinas fotográficas populares, suportou a competição e acabou falindo. Hoje, a qualquer momento, em qualquer lugar, todos sacam de seus aparelhos celulares com câmeras e fotografam ou filmam tudo. Em festas, é um desassossego geral, tantos os pedidos para fotografar ou ser fotografado. E nem falemos das “selfies”, que se disseminaram como epidemia.
Em uma palavra – bem mais que uma –, as câmeras digitais banalizaram e depreciaram as fotografias. Fotografa-se, repito, tudo, e, nessa abundância de imagens, em grande parte irrelevantes, as fotos são esquecidas, para sempre, em arquivos digitais, ou, o mais comum, apagadas logo que cumprida a finalidade momentânea de ilustrar páginas do Facebook, WhatsApp ou de outras redes sociais. Pouquíssimas ganham a distinção de ilustrar um álbum.
Assim é. Os álbuns exilaram-se em gavetas, baús e sótãos (se ainda existem), em resistência heroica ao pó e desgaste do tempo e aos furtos familiares que os desfalcam e deixam, no lugar das fotografias subtraídas sorrateiramente, vestígios desoladores de cola ou as cantoneiras inúteis.
É, meus amigos, há inovações que não nos melhoram em nada.  

Fevereiro de 2017.

sábado, 18 de fevereiro de 2017

Facilitador do Novo CPC 2017 - Doutor Luiz Fernando Queiroz,

Lançamento da Editora Bonijuris reúne juristas em Curitiba

CURITIBA, 17/02/2017 – Um dos mais esperados lançamentos deste ano, o livro “Facilitador do novo CPC”, uma publicação da Editora Bonijuris, reuniu diversos juristas na noite de ontem (16/02) na Livraria Saraiva do Shopping Crystal. Com organização do advogado Luiz Fernando de Queiroz, fundador da editora, a obra contou com a participação de um Conselho Curador com 26 juristas de renome do país. O novo livro, produção curitibana, traz 450 temas processuais subdivididos em mais de 7 mil enunciados.

Att.
--
Jéssica Petersen Dpto. de  Marketing 
Editora Bonijuris
( 55 (41) 2169-5724 / 3323-4020
Skype: jessica.bonijuris





Um encontro casual com nossa Confreira mas, acima de tudo, Ministra dos Direitos Humanos, Desembargadora Luislinda Dias de Valois Santos

sábado, 4 de fevereiro de 2017

Carlos Gomes - Quem Sabe? - Who Knows?





Publicado em 4 de jul de 2013
Quem sabe? - Música de Antônio Carlos Gomes (modinha, 1859)
Letra: poema de Francisco Leite de Bittencourt Sampaio
Interpretação de Maria Lúcia Godoy, cantora lírica brasileira
Imagens: pinturas de artistas brasileiros

Who Knows? is a Brazilian "modinha", a popular and sentimental love song of the 18th to the beginning of 19th century. The modinha was sung in the streets or as an outdoor serenade.
Antônio Carlos Gomes (July 11, 1836 — September 16, 1896) maestro composer, was the most successful opera composer of the Americas in the 19th century.
Lyrics: Francisco Leite de Bittencourt Sampaio poem
Singer: Maria Lúcia Godoy, Brazilian classical singer

Letra:
Tão longe de mim distante
Onde irá, onde irá teu pensamento
Tão longe de mim distante
Onde irá, onde irá teu pensamento
Quisera, saber agora
Quisera, saber agora
Se esqueceste, se esqueceste
Se esqueceste o juramento.
Quem sabe se és constante
Se ainda é meu teu pensamento
Minh'alma toda devora
Dá a saudade dá a saudade agro tormento
Tão longe de mim distante
Onde irá onde irá teu pensamento
Quisera saber agora
Se esqueceste se esqueceste o juramento.

Edição: Ida Monica
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A DUALIDADE DO SER... A OUTRA FACE!

A DUALIDADE DO SER... A OUTRA FACE!
Somos o que somos? E o que somos? Bipolares? Tripolares? Entes polares ou... Entre polares?
Ontem foi um dia “daqueles”! Assisti a um programa na televisão falando sobre agorafobia. Agorafobia vem do grego (ágora - assembleia; reunião de pessoas; multidão + phobos – medo) e é originalmente o medo de estar em espaços abertos ou no meio de uma multidão. Em realidade, o agorafóbico teme a multidão pelo medo de que não possa sair do meio dela caso se sinta mal e não pelo medo da multidão em si. Muitas vezes é sequela de transtorno do pânico. Quando o medo surge é difícil saber se estamos tendo um ataque de pânico ou agorafobia, porque ambos têm quase os mesmos sintomas. Parecia que nada iria dar certo. O dia passou e a noite chegou mais amena. Demorei a dormir, tendo conseguido já na madrugada de hoje. O sono vem “com tudo” bem na hora de levantar. Para quem tem hora, é claro! Quem não tem horário a cumprir pode ficar com as juntas encrencadas de tanto ficar na cama. Por razões da dinâmica de ir e vir, o novo dia foi bem diferente do anterior. Mas até que isso acontecesse, foram horas de elucubrações quase psicodélicas. Lisérgicas eu diria!
Como venho dedicando-me a escrever já há algum tempo, fiquei me perguntando sobre a minha identificação com o relato de uma personagem do romance de Khaled Hosseini, “O silêncio das montanhas”. A personagem Nila Wahdati era escritora, escrevia poemas. Ela dizia que não se orgulhava de seus poemas. Fiquei com “meus botões” imaginando se seria o mesmo comigo. Não que eu escreva poemas... Mas escrevo! E basta por enquanto! A personagem pondera sobre conseguir distanciar o seu trabalho do próprio processo criativo. Aí é que me veio o questionamento.
Ela, respondendo a uma entrevista, disse:
Eu vejo o processo criativo como um empreendimento necessariamente desonesto. Aprofunde-se num lindo texto escrito, monsieur Boustouler, e vai encontrar todos os tipos de desonra. Criar significa vandalizar a vida de outras pessoas, transformando-as em participantes involuntários e inconscientes. Nós roubamos desejos alheios, seus sonhos e embolsamos seus defeitos. Pegamos o que não nos pertence. E fazemos isso conscientemente.”
É a compulsão que a dominava... E me domina!
Ainda lépido, na madrugada que parecia não ter fim, lembrei-me de Mario Quintana escrevendo:
“... Dizem que sou modesto. Pelo contrário, sou tão orgulhoso que acho que nunca escrevi algo à minha altura. Porque poesia é insatisfação, um anseio de auto superação”.
http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/f/fb/Drummond_e_Quintana.jpg/439px-Drummond_e_Quintana.jpg
Monumento a Mário Quintana (dir.) e Carlos Drummond de Andrade, na Praça da Alfândega de Porto Alegre, obra de Francisco Stockinger.
Levantei... Fiz alguma coisa... Voltei ao travesseiro, esteio dos meus pensamentos de vigília noturna.
Sim, como poderia escrever algo para ser “bem lido”? Que me satisfizesse o amago do ego?
Acabara de ler um livro de Elie Wiesel, “Uma Vontade Louca de Dançar”, onde ele preconiza que “... Quando a gente chora, não choramos pelos outros e, sim por nós mesmos”.
http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/3/3b/Elie_Wiesel_2009.jpg/250px-Elie_Wiesel_2009.jpg
Elias "Elie" Wiesel (Sighetu Marmaţiei, 30 de setembro de 1928) é um judeu sobrevivente dos campos de concentração nazistas, que recebeu o Nobel da Paz em 1986 pelo conjunto de sua obra de 57 livros, dedicada a resgatar a memória do Holocausto e a defender outros grupos vítimas das perseguições.
Consequentemente, mergulhamos nas profundezas do egocentrismo e do interesse como mola mestra das nossas boas ações.
Agora a coisa encrencou de vez!
Já num limbo literário meu avô José Alzamora me apareceu, em dimensão mística e cósmica, com um exemplar do livro de Menotti Del Picchia.
Meu avô adorava fazer citações. Acho que estou incorporando-o!
Em “OBRAS COMPLETAS – CONTOS – 1946”:
“No fundo de cada renuncia há um interesse. Quando um mal se torna bom, sua bondade é um disfarce acidental da sua perfídia: é uma metamorfose meramente formal da maldade assim transmudada pelo interesse. Uma generosidade que se faz mais intensa, um perdão que varre uma culpa, tudo encapota o interesse. Raspe-se a casca de qualquer ação humana que, no fundo, encontra-se o interesse...”.
http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/2/26/Menotti_del_Picchia.jpg/500px-Menotti_del_Picchia.jpg
Menotti Del Picchia
Paulo Menotti Del Picchia (São Paulo, 20 de março de 1892 — São Paulo, 23 de agosto de 1988) foi um poeta, jornalista, tabelião, advogado, político, romancista, cronista, pintor e ensaísta brasileiro.
No ensaio da vida, percorremos caminhos onde encontramos tudo, que existe no universo, aos pares. Nada existe sem seu oposto.
O bem e o mal, o claro e o escuro, o dia e a noite, a alegria e a tristeza o tudo e o nada, a dinâmica e a estática e etc...
Porém alguns mistérios, e por serem mistérios não são explicados, se apresentam em incógnitas.
Na lei da dualidade, assim como na da lei ação e reação, duas situações não apresentam seus reais opostos.
Uma delas é a questão da dinâmica e da estática. No universo tudo vibra e está em movimento.
As leis da estática foram formuladas por Albert Einstein para justificar a referida dualidade dos opostos.
Se não houvesse isso, haveria o desequilíbrio.
A outra é retórica. É no mínimo intrigante pensar o que ocorre na dualidade “tudo /nada”.
No tudo, pode-se considerar a presença do nada (Se é tudo, até o nada faz parte).
No nada, o tudo não existe (Ou não faz parte). No nada não existe nada.
http://giancot.no.comunidades.net/imagens/albert-einstein.jpg
Albert Einstein
É conhecido por desenvolver a teoria da relatividade.
Acho que ando meio “relativista” mesmo!
Assim, nos tornamos eternos buscadores e não nos incluímos na teoria estática de Einstein.
Sempre estaremos num movimento continuo, até mesmo com a transição da alma.
Como meu pensamento vaga... Que vague com AMOR!
Assim conclamo o poeta maior... Quem sabe?
Ninguém melhor que Carlos Gomes!
Tão longe de mim distante
Onde irá, onde irá teu pensamento
Quisera, saber agora
Se esqueceste, se esqueceste
Quem sabe se és constante
Se ainda é meu teu pensamento
Minh'alma toda devora
Dá a saudade dá a saudade agro tormento
Tão longe de mim distante
Onde irá onde irá teu pensamento
Quisera saber agora

Se esqueceste se esqueceste o juramento!

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