quinta-feira, 30 de junho de 2016

Espera

Espera
Cardoso Filho

          Olhou pela janela o entardecer bonito, o Sol baixando e alaranjando o poente. Um resto agradável de calor e claridade flutuavam na tarde que se desfazia. Com leve emoção, apreciava a beleza da despedida. Cenários assim, quase indiferentes antes, sensibilizavam mais, agora. O coração vinha fraquejando, sinalizava cansaço, podia ser a qualquer instante a pane definitiva, como o motor fatigado de um velho avião. De sua parte, havia momentos de querer ir, outros, de não querer. Reconhecia que o coração tinha dado o que podia e a existência cheia de não pode isso e aquilo cansava e desanimava. Mas queria um pouco mais. Abrigava ainda alguns planos, alguns desejos, entre os quais ver Toninho, o último neto, graduar-se na universidade. Queria também andar outra vez de motocicleta. Uma loucura, achavam, talvez fosse, mas que importava? Loucura boa que traria prazer e seria como voltar no tempo vinte, trinta anos. Sentiu o coração se acelerar. Palpitava com lembranças guardadas com carinho. O Sol se deitou mais e o céu ganhou tons violáceos, cedendo às primeiras sombras. Logo surgiriam as estrelas, as poucas que o céu da cidade ainda mostrava, e lembrou-se de outro desejo, agora tão remoto que se convertia em tolice: ver o céu de um deserto. Que fosse o de Atacama, no Chile, mais próximo, e lembrou-se de Saint-Exupéry referir-se poeticamente ao céu noturno do Saara, empoeirado de astros, como um áquario de estrelas. Ah, que felicidade seria contemplar o firmamento saturado delas! E suprema ventura seria, num estalo, num último clarão de consciência, partir contemplando a amplidão faiscante de cristais. Adormecer para sempre sob a luz pálida de bilhões e bilhões de estrelas, recoberto pela beleza do universo. Não seria pedir muito. Seguir tendo por última visão o que mais apreciava. Para o mar, não ligava. Tinha medo, e a ideia de morrer afogado sempre o apavorara. Achar doce morrer no mar era coisa para Dorival Caymmi. E o que menos gostava era da cidade entulhada de edifícios, de carros, de gente. O caos urbano. Triste fim, acabar nesse amontoado fuliginoso e barulhento, distante dos campos verdes e das montanhas azuis. Os últimos raios de sol se apagavam e havia agora no horizonte apenas tênue claridade. Mais um dia se esgotava nessa espera sem angústia, sem tortura, apenas incerta e vedadora de planos mais encompridados. Não fora hoje, podia ser amanhã. Estava preparado para o encontro marcado desde o começo, sem nenhum medo especial. Sem se entregar, mas sem resistir, deixando que as coisas tomassem seu livre curso, como a natureza desejasse e o coração abatido permitisse. Só queria que houvesse sol. Que fosse um dia claro e cálido, melhor se de primavera. Um desejo à toa, sabia, porque não desfrutaria dessa derradeira luz.
          O alarido da casa o retirou da janela e afastou os pensamentos. A vida seguia em seu compasso imutável e eterno. Se não fosse naquela noite, se não fosse no outro dia, e enquanto não viesse, continuaria a sonhar com campos verdes, montanhas azuis e o céu estrelado sobre um deserto.


Junho de 2016.

segunda-feira, 27 de junho de 2016

O Universo dentro e fora do ser humano



1 – A complexidade da Natureza ultrapassa tremendamente nossa capacidade de compreensão
2 – A existência do Universo para fora e para dentro de nós é possível graças a leis perenes e se mudam isso acontece em função de outras leis.
3 – A vida é um fato acima de nossa compreensão.
4 – afirmações sobre a “criação” do Universo são frágeis diante da complexidade de tudo o que existe.


O Universo vai da tremenda complexidade do menor segmento material ao conjunto de galáxias e outros imensos fenômenos naturais ultrapassando nossa capacidade de compreensão e demonstração da própria vida.


Em noite limpa e local sem as luzes das cidades podemos ver um número enorme de estrelas, pontinhos luminosos sem cintilação que são os planetas, uma parte da Via Látea, eventualmente meteoros e olhando melhor nebulosas numa abóbada que parece querer despencar sobre a gente.
Mais e mais observatórios do Universo são criados assim como veículos automatizados disparados para o infinito. Gradativamente astrônomos, físicos e até filósofos aprendem mais e se surpreendem com inúmeras descobertas.
Com certeza muitos cientistas usam o que sabem para fazer afirmações imperativas, mas notamos que não é raro tudo mudar graças a supergênios capazes de unir conhecimentos e deduzir hipóteses e teses surpreendentes. Note-se que vivemos tempos de imensos centros de processamento de dados, e daí?
Em qualquer laboratório ou filme científico teremos condições de mergulhar dentro de nós mesmos, descobrindo complexidades inimagináveis e até simbioses que nos mantêm vivos.
Sentimos nossa dimensão infinitesimal olhando para cima e percebemos a distância de explicações simplificadas e a realidade da vida estudando simples bactérias.
Nesse cenário é difícil querer explicar tudo, pior ainda, simplificar atribuindo tudo a um ser mais complexo. As dúvidas, se tivermos coragem de alimentá-las, são enormes.
A impossibilidade de saber e entender é algo real, inevitável. Muitos pensadores partiram desse princípio (céticos)[1] e estavam certos. A Ciência descobre mais e mais detalhes sobre o Universo, criando mais dúvidas do que certezas.
Não é prático, contudo, simplesmente duvidar, assim a adoção de algum figurino pode acontecer por puro pragmatismo, ingenuidade ou “revelação”[2].
Precisamos, contudo, fazer opções, pois elas são exigidas e listadas por terceiros. Não temos liberdade de fazer afirmações contrárias às convicções dos poderosos e de muitas pessoas com tantas convicções.
De qualquer forma a Humanidade precisa evoluir para poder sobreviver. Dos povos mais rudes aos mais sofisticados, todos, sem exceção, precisam rever comportamentos e se ajustarem aos desafios da sobrevivência, para isso todos têm direitos e deveres de ajustamento de conduta.
Uma boa ferramenta no desenvolvimento de códigos realistas de ética é o Cálculo aplicado a todas as hipóteses de sobrevivência. Precisamos de condições de contorno, parâmetros, bancos de dados, ferramentas de cálculo e simulação etc. para podermos criar recomendações sensatas e honestas.
Ou seja, a Lógica (A LÓGICA NA MATEMÁTICA) merece aplicação em nossos comportamentos e sua evolução é uma demonstração de limitações e esperanças.



1 – O Universo, por si só, merece nossa admiração e respeito.


1 -  Exercitar a humildade intelectual.
 2 – Admitir que estaremos abaixo do potencial necessário e suficiente à compreensão do Universo.
3 – Estimular o prazer de ser e estar num cenário tão fantástico.
4 – Estudar sempre a Natureza como um todo.
Cascaes
27.06.2016

Adelmo R. de Jesus, Eliana P. Soares, Elinalva V. Vasconcelos, Graça Luzia D. Santos, Ilka Rebouças Freire, Miriam F. Mascarenhas. A LÓGICA NA MATEMÁTICA. s.d. 3 de 9 de 2015. .





[1] O ceticismo filosófico se manifestou na Grécia clássica, aparentemente um de seus primeiros proponentes foi Pirro de Elis (360-275 a.C.) que estudou na Índia e defendia a adoção de um "ceticismo prático". Carneades discutiu o tema de maneira mais minuciosa e contrariando os estoicos, dizia que a certeza no conhecimento, seria impossível. Sexto Empírico (200 a.C.) é tido como a autoridade maior do ceticismo grego.9 Mesmo atualmente o ceticismo filosófico costuma ser confundido com o ceticismo vulgar e com aquilo que a tradição cética denominou de "dogmatismo negativo". Nada mais está tão em desacordo com o espírito do ceticismo do que a reivindicação de quaisquer certezas, seja as positivas ou as negativas. 10 11
Na Filosofia islâmica, o ceticismo foi estabelecido por Al-Ghazali (1058–1111), conhecido no Ocidente como "Algazel", era parte da Ash'ari, a escola de teologia islâmica, cujo método de ceticismo compartilha muitas semelhanças com o método de René Descartes. Wikipédia

[2] Revelação divina é a denominação, de modo genérico, para todo conhecimento transmitido ao homem diretamente por um deus ou deuses (muitas vezes o meio por onde este conhecimento foi passado também é chamado assim).
A revelação é o ato de revelar ou desvendar ou tornar algo claro ou óbvio e compreensível por meio de uma comunicação ativa ou passiva com a Divindade. A Revelação pode originar-se diretamente de uma divindade ou por um intercessor ou agente, como um anjo ou santidade; alguém que tenha experienciado tal contato é denominado profeta. Wikipédia em 27 de junho de 2016.




PERCA TEMPO - O BLOG DO MURILO: Cuidar das delações – EDITORIAL FOLHA DE SP

PERCA TEMPO - O BLOG DO MURILO: Cuidar das delações – EDITORIAL FOLHA DE SP: Folha de S. Paulo - 27/06 Para sorte de todos os brasileiros que desejam um país melhor, a Operação Lava Jato alterou o paradigma de combate...

domingo, 26 de junho de 2016

Intolerância


Tolerância
O ex-prefeito de Nova York, Rudolf Giuliani tornou famosa a defesa da tolerância zero, adotada como norma pela polícia de sua cidade. A iniciativa mais elogiada do que criticada, rendeu bons resultados e até hoje há quem a defenda como solução para a criminalidade.
Parece não haver divergência de que a medida funcionou para a cidade de Nova York, contudo, em relação ao resto do país, a fórmula não se mostrou verdadeira. Muito ao contrário, o sistema jurídico-penitenciário americano vem buscando soluções mais adequadas à nova realidade social.
A despeito de posições mais conservadoras, os responsáveis pela política jurídico-criminal americana vem levantando fortes questionamentos sobre a descriminalização das drogas, mas, também de outros delitos, especialmente daqueles relacionados à contrafação de direitos autorais – copyright, no sistema americano.
Se a questão da tipologia penal vem sendo posta em cheque, a que se refere a cumprimento das sansões e as formas de cumprimento sofrem um debate ainda mais acirrado, especialmente no que se refere aos estabelecimentos prisionais administrados pela iniciativa privada.
Ante um quadro mundial de grandes mudanças, de avanços tecnológicos de ritmo alucinante, a ambiência social vem sendo palco de necessárias e inexoráveis transformações que exigem respostas efetivas, sob pena do sistema legal deixar de atender à realidade dos fatos.
Face aos surpreendentes acontecimentos jurídico-legais que se verificam no país, que vem se desencadeando na esteira dos procedimentos legais, denominados de operação Lava-Jato e de seus desdobramentos, grande número de cidadãos brasileiros questionam o fato de alguns dos réus, altamente comprometidos, estarem já a cumprirem pena em regime domiciliar, ainda que com tornozeleiras eletrônicas.
É compreensível que assim pensem, mas, com um pouco mais de reflexão, veremos que não há razão para se manter em regime fechado condenados que não representem real perigo para a sociedade; além do mais é elevado o custo de manutenção de detentos nas penitenciárias, entre muitos outros argumentos que se pode arrolar.
Ademais, o isolamento e o alienamento que daí advém já vem sendo criticado há muitas décadas como demonstra Erving Goffman, em seu livro “Manicômio, Prisões e Conventos”.
Naturalmente, estas penas mais brandas decorrem dos dispositivos legais – “delação premiada”, que permitem ao juiz considerar o auxílio prestado pelo réu na elucidação do delito, quando da aplicação de sua pena; por outro lado, não fosse essa possibilidade quantos outros réus teriam seus delitos revelados e sujeitos à apreciação do judiciário?
Qualquer tendência ao acomodamento, em uma época como a nossa, se afasta da realidade dinâmica e mutante que nos conduz ao futuro. Prevejo que teremos grandes problemas sociais se deixarmos de participar com consistência das discussões e polêmicas que nos afetam.
A multidisciplinariedade, tão louvada na doutrina e em trabalhos acadêmicos, não pode mais ser negligenciada, seja na elaboração legislativa, seja na aplicação da lei ou de suas decisões. E mais, é preciso que os agentes que participam dessas fases se comuniquem, mantenham um constante diálogo institucional.
Se quisermos ter um Estado eficiente, e a época em que vivemos exige, precisaremos ter a coragem de acabar com as divisões e as compartimentações; o que não é fácil, já que até hoje não conseguimos unificar as polícias; ainda que tenhamos plena consciência do exercício de funções diferenciadas.
Alternativa interessante, adotada em outros países seria o juizado multidisciplinar, tanto para o julgamento quanto para a execução das decisões, que pode ser utilizado para a questão penal, mas, igualmente, de menores, família e outros casos, tais como meio ambiente e consumo.  Estamos avançando. Não vejo razão para intolerância.

Curitiba, 26 de junho de 2016

Joatan Marcos de Carvalho












sábado, 25 de junho de 2016

Alerta Total: Vamos além dos remédios amargos?

Alerta Total: Vamos além dos remédios amargos?: - Deixa eu lhe falar uma coisa. Esses meninos da Polícia Federal e esses meninos do Ministério Público, eles se sentem enviado de Deus...

sexta-feira, 24 de junho de 2016

Não passarão

Não passarão
Cardoso Filho
          Nada como a dor, o sofrimento ou o medo para despertar a solidariedade entre as pessoas. Em momentos de aflição, surge vigoroso o sentimento de fraternidade. Duas pessoas que, no corriqueiro dos dias, jamais se olhariam e jamais se cumprimentariam, em situação de sofrimento em comum são capazes de se abraçar, de conversar, de querer saber da dor alheia e, no extremo, de se expor ao risco de morrer para salvar o outro. Relatos de guerra contam sobre isso. A fraternidade nascida em campos de batalha, sob medo e riscos de vida intensos, é das mais fortes que os seres humanos podem desenvolver. Os combatentes se tornam irmãos de farda, se cuidam mutuamente e, se preciso, entregam a vida pelo outro. E sofrem com atroz intensidade a perda de um companheiro.
          Dias atrás, tive contato com o cotidiano de um hospital e testemunhei o sofrimento alheio motivado, no caso, por enfermidades. Vê-se de tudo, e se constata que, em situações como essa, nasce entre as pessoas um sentimento de solidariedade, de irmandade. Conversam entre si, se perguntam sobre os males e as dores, confortam-se e compartilham o momento difícil. Rebrota aí, na consciência de cada uma, a fragilidade comovedora de nossa existência, e esse perceber as aproxima e as faz mais irmãs. Sentimentos que costumamos esquecer em dias melhores.
Por esse caminho, chego à realidade da saúde pública brasileira, tão precária que comove e indigna. Precisava ser muito melhor, e o brasileiro, para escapar dela, necessita pagar caro por planos de saúde nem sempre corretos na hora de atendimento a doenças mais dispendiosas. Mas paga por eles quem pode; quem não pode, a maioria esmagadora, vai engrossar a fila dos desassistidos e desesperados, condenados a filas, agendamentos de consultas médicas para meses depois, como se as enfermidades pudessem esperar com resignação, greves dos funcionários públicos e, não raro, consulta ligeiras com o doutor cheio de pressa e impaciência porque a fila lá fora é grande. De quebra, a possibilidade de morrer sem assistência médica, numa maca num corredor lúgubre de um hospital em miséria. Ou na porta.
          Essa é uma das tragédias produzidas pela corrupção desenfreada e desgoverno. Bilhões e bilhões de reais se perdem na sangria provocada pelos criminosos de colarinho branco, enquanto serviços essenciais, como saúde segurança públicas, seguem afundados em precariedade vergonhosa. Então, se olha para a Operação Lava-Jato. Ela é o começo de nossa redenção moral. Mas há perigo no ar. Os enrolados em corrupção com o dinheiro público trabalham em sinistra surdina para melar as investigações e ações da Justiça. A ideia seria um enorme conluio, um acordão envolvendo partidos de todas as cores, para salvamento das ratazanas gordas via mudanças na legislação. Como aconteceu na Itália com a Operação Mãos Limpas.
          Pois ficamos assim: se correr por conta da livre vontade da classe política, altamente infeccionada pela corrupção, a Operação Lava-Jato vai para o brejo e teremos jogado fora a oportunidade histórica de moralizar o País. A alternativa é a opinião pública manter-se atenta, mobilizada e intransigente em defesa da Lava-Jato.  Não se pode, meus amigos, em nenhuma hipótese, entregá-la aos bandidos. Eles não passarão.


Junho de 2016.   

terça-feira, 21 de junho de 2016

Te desejo O nada!

Te desejo O nada!
June 20, 2016
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Ariadne Zippin

Você já se pegou pensando sobre como preencher um vazio em sua vida? Parou para sentir o que estava faltando em sua empresa?

O que normalmente está faltando em nossa vida e para que tenhamos o equilíbrio necessário para chegarmos onde queremos é o vácuo!

Quando criança estudamos sobre as descobertas de Arquimedes. Ele descobriu que dois corpos não podem ocupar o mesmo espaço. Sendo assim, em nossas vidas, vamos em busca de preencher tanto um “vazio” que não sobra espaço para coisas novas e boas. As coisas precisam fluir e para fluir elas precisam encontrar espaços vazios.

Parece um tanto complicado, mas é simples, para nos preencher, precisamos nos esvaziar.

Digamos que você more em um apartamento com apenas uma garagem e não tenha outra para alugar. Você ganhou um carro em um sorteio. O que você faz? Se desfaz de um deles para que o outro (que for melhor pra você) fique! Em nossos relacionamentos acontece a mesma coisa. Não existe espaço para algo novo e bom, se não deixarmos a vaga vazia. Na nossa empresa muitas vezes nos vemos cheio de tarefas que acabamos cancelando compromissos que nos fariam bem e poderiam até nos dar mais lucro do que o compromisso que já tínhamos. O medo de não ter o que fazer ou o sentimento de ociosidade nos deixa aflitos e estamos sempre em busca de ficarmos “lotados” de serviço. Pense quanta coisa boa para seus negócios poderiam acontecer se você tivesse espaço vazio em sua agenda.

A meditação, hoje em dia, mais que moda, já está virando uma necessidade. As pessoas estão em busca de encontrar e criar esse vácuo. A necessidade e ao mesmo tempo a dificuldade de criar esse silêncio da mente, tem feito com que mais e mais pessoas busquem meditar. A meditação, nada mais é que colocar o vácuo, dentro de si. Acalmar a mente para deixar que coisas boas entrem.

O desapego também é extremamente importante para nosso bem estar. Perceba a diferença entre duas pessoas. Uma pessoa guarda dinheiro pois no final da vida tem medo de envelhecer e não ter onde morar ou não ter dinheiro para comprar remédios e a outra que guarda dinheiro para fazer uma viagem de volta ao mundo quando se aposentar. Qual você diria que está certa? Não cabe a mim julgar as escolhas mas cabe a mim apontar a diferença vibratória e o preenchimento errôneo de seu ser.

A que guarda dinheiro com medo de envelhecer já carrega o medo e atrai o envelhecimento para sua vida. Atrai também o medo e a doença. Atrai o medo da solidão. Essa pessoa está preenchendo a vida dela de coisas negativas, atraindo tudo que ela não deseja, pois só em pensar nessas possibilidades, elas são lançadas ao universo, trazendo a elas aquilo que deseja. A outra almeja viajar, conhecer e viver.  Qual das duas você acredita que terá um futuro melhor?

Quando falo que dois corpos não conseguem ocupar o mesmo espaço, afirmo que se você está preenchido de coisas boas as ruins não entram e a recíproca é verdadeira.

Se você está na porta do mercado segurando suas sacolas e alguém joga para você um vale presente de um ano de mercado grátis, você não consegue pegar, não é mesmo? Você pode se perguntar agora, mas qual a possibilidade disso acontecer? Eu te digo que acontece todos os dias.

Você reclama do seu trabalho e não tem tempo de ir procurar outro. Você é convidada para jantar mas devido ao trabalho resolve recusar e deixa de conhecer o amor de sua vida, um grande cliente ou um novo amigo. Te convidam para ser sócia de uma empresa e o medo de arriscar faz com que desista. Isso se chama ser preenchida!

Busque o vácuo. Deixe com que as oportunidades fluam. Deixe espaço para que as energias boas circulem.

Deixe espaço na sua vida para as coisas que são suas e estão a caminho. Pare um pouco de pensar, apenas seja e sinta. Deixe o vácuo tomar conta da sua vida. No vácuo o som não se propaga. Nele você não ouve os outros. Você não ouve o medo. Você escuta a sua intuição. Você escuta o seu ser e aí sim saberá o caminho a seguir e saberá o que deve ficar e o que deve desapegar, deixar ir para que o novo e o bom tenha espaço de chegar em sua vida e na sua empresa.


Desejo a você leitor, que sua vida seja repleta de nada e que esse nada seja repleta de vácuo e que isso te faça feliz!!!

domingo, 19 de junho de 2016

O que entendo por Deus

O que entendo por Deus


O livro (Ética - Demonstrada à Maneira dos Geômetras) de Baruch Spinoza[1] dá uma visão dele sobre a figura do Criador em uma época em que se declarar ateu ou até agnóstico poderia significar a morte e torturas aplicadas pelos fanáticos após qualquer denúncia. Seu livro só foi publicado após sua morte e sob cuidados especiais. É uma obra extraordinária que merece leitura e releitura inúmeras vezes.
Assim, lembrando, mas fugindo do seu rigor matemático, o roteiro de Spinoza proponho a seguinte definição para o que seria ou é Deus:
1 – Entendo como ser universal, a quem denomino Deus, o ente formado pelo conjunto das leis que governam a Natureza (não o contrário).
2 – O Universo é absolutamente tudo o que existir de forma material (no binômio “matéria- energia” enquanto não se descobrir mais nada).
3 – A natureza de Deus é inacessível por qualquer objeto ou ser de sua criação.
4 – Deus, sendo o que é, não modifica sua vontade arbitrariamente.
5 – Deus é absolutamente infinito, isto é, um conjunto material/energia eterno e com leis definidas objetivamente (sem paixões).
6 – O que é perfeito e onipotente não muda e não depende de esforços humanos.


Ponderações


A Humanidade inventou a figura de Deus para ter proteção e esperanças. O conceito do que possa ser Deus é manipulável, pois é vago e pessoal, apesar dos seres humanos fazerem afirmações peremptórias, tanto mais veementes quantos mais ingênuas, ignorantes, oportunistas e/ou medrosas forem. A falta de instrução, a ausência de conhecimentos em Ciências Exatas assim como de História e Filosofia fortalecem comportamentos radicais, que também aparecem quando o jovem é submetido a uma educação dirigida fortemente para alguma religião.
Podemos qualificar a Humanidade e o comportamento de nações a partir de suas religiões dominantes. A história e o noticiário atual em qualquer época (antes, agora e ) adiante sempre ilustrarão as convicções existentes.
Deus, existindo de alguma forma, seja ela qual for, estará infinitamente acima de nossa capacidade de verificação e questionamentos diretos. Podemos, quando muito, intuir e aceitar, até mesmo acreditar com forte convicção, mas isso será sempre algo singular, íntimo.
Imaginando que Deus exista e de alguma forma transmita seus “recados” temos o direito de fazer meditações, análise de nossas consciências mais nobres e até perversas. É pouco verossímil imaginar que um Ser Supremo seja instigador de atos agressivos, maus, vingativos etc.
A visão antropomórfica do Grande Arquiteto do Universo é perigosa, pois temos defeitos demais para acreditar que fomos “feitos à imagem e semelhança de Deus”.
Imaginar Deus com atributos positivos e lembrar que Ele não será bajulável, não é algo à espera de rituais, rezas e promessas ajuda a entender a responsabilidade que carregamos sobre nossos destinos.
O peso da consciência é monumental e proporcional à inteligência e cultura que pudermos acumular. Quem não as tem por natureza e, ou educação é inimputável, é um simples animal. Tendo tido a oportunidade de crescer intelectualmente tornamo-nos reféns do que aprendemos...

Cascaes
19.6.2016



[1] Baruch de Espinoza1 (também Benedito Espinoza; em hebraico: ברוך שפינוזהtransl. Baruch Spinoza) (24 de novembro de 1632Amsterdã — 21 de fevereiro de 1677Haia) foi um dos grandes racionalistas do século XVII dentro da chamada Filosofia Moderna, juntamente com René Descartes e Gottfried Leibniz. Nasceu em Amsterdã, nos Países Baixos, no seio de uma família judaica portuguesa e é considerado o fundador do criticismo bíblico moderno. Wikipédia

quinta-feira, 16 de junho de 2016

Antologia ALJA

Com a Palavra o confrade Celso Portugal

Leitura e análise de ata da última reunião da ALJA

Ponderações iniciais e o destaque: Desembargadora, Embaixadora da Paz e Secretária Nacional Luislinda Dias de Valois Santos

Início de reunião ALJA em 15 de junho de 2016

O orador

O orador
Cardoso Filho

          Conversavam no velório. “Foi um bom sujeito”, disse um. E o outro: “É verdade, muito boa gente”. Seguiram nas frases convencionais dessas ocasiões, entre elas a inevitável “para morrer basta estar vivo”, dita sempre com um suspiro filosófico de quem afirma algo inédito, definitivo e incontestável. Amado lá estava, esticado no caixão, com expressão serena, parecia dormir, efeito da boa maquiagem. “Mas cometeu lá seus deslizes”, disse o primeiro, fazendo concessão aos fatos. “É, cometeu, mas quem não comete, né?”, ressalvou o outro. Um terceiro, desconhecido, bem-trajado, de terno e gravata, ouvia ao lado e se aproximou. Apresentou-se como velho amigo de Amado, sabedor como ninguém de sua vida, conviveram desde a adolescência, assistira aos seus altos e baixos. “Creio que ninguém o conheceu mais do eu”, afirmou com certa arrogância, chamando para si toda a competência sobre a matéria. “E vou lhes dizer uma coisa: no fundo da alma, foi um romântico, um sonhador, um nostálgico. Coisas que só a nossa estreita convivência permitia perceber.  Além do mais, carregava segredos que nem eu descobri. Sabe aquela caixa escondida que cada um tem guardada no peito, na alma, sei lá, e não abre para ninguém? Pois é, Amado tinha a sua, não falava a respeito, mas arrisco dizer que um pouco do conteúdo eu sabia.  Outro detalhe é que deixou de acreditar na humanidade, sem endurecer o espírito. Continuou o mesmo, fazendo o que achava certo e preciso, embora com certa amargura”. Parou um instante e foi atalhado: “Desilusão, na certa. O Amado teve algumas”. Retomou a apreciação: “Teve sim suas decepções, mas nunca culpou ninguém. Achava que, no final das contas, era ele o responsável pelas coisas que lhe aconteciam, não jogava responsabilidade para os outros e reconhecia os erros. Teve lá seus impulsos, aquelas decisões fatais que cobraram seu preço”.
          Afastou-se dali, circulou por outras rodas na condição de amicíssimo de Amado. Até que foram chamados para a oração que um padre capuchinho faria. O padre, idoso, de longa barba branca, apoiado numa bengala, vestido numa gasta batina marrom e calçado de velhas sandálias, de vez em quando precisando sentar-se para breve descanso das pernas e costas doídas, fez as orações, entremeando-as com considerações sobre a vida e a morte. A morte não era o fim, se morria para renascer na ressurreição prometida, segundo a crença em Cristo. E acrescentou que Amado tivera, afinal, uma existência cristã, se não pela presença assídua nos templos, pelo menos no comportamento em geral. Por isso, seria bem acolhido na outra vida, na que não se morre, pois Deus haveria de lhe conceder o perdão pelos eventuais pecados não saldados por aqui, e cada qual dos presentes refletiu sobre suas dúvidas e misérias.
          Antes de o corpo baixar à sepultura, um familiar indagou se alguém queria dizer algumas palavras, e os olhos se voltaram para o amigo que alardeara ser o que mais o conhecera. Ele aceitou aparentando modéstia, abeirou-se mais da cova, pigarreou para limpar a garganta, apanhou um lenço no bolso e começou: “Conheci muito bem o Amado. Não sei se conseguirei dizer o que gostaria em sua homenagem, não por falta de motivos, que muitos há, mas porque a emoção ameaça me embargar a voz. Pois bem, serei breve, meu fraterno Amado, amigo de tantas jornadas e confissões mútuas. Nós, aqui presentes neste momento solene e pleno de mistério, e todos os que o conheceram, somos testemunhas desta verdade: se todos os homens fossem como você, o mundo seria um lugar bem melhor e mais digno. Viveste com dignidade o que te foi dado viver. Segue, pois, Amado amigo, para a Eternidade, sob os louros de teus bravos feitos e acompanhado de nosso sentido pranto e saudade. Foste um vencedor! Que Deus, em Sua misericórdia infinita, te acolha e os Anjos exultem à tua passagem! Colhe nos páramos celestiais a recompensa que fez por merecer”. Enxugou os olhos com o lenço e recolheu-se ao silêncio contristado e profundo, só interrompido por cumprimentos ligeiros, sob os olhares agradecidos e emocionados dos familiares do morto.
          Findo o sepultamento, um dos presentes dirigiu-se ao orador, que se afastava com bastante pressa. Cumprimentou-o pelo breve mas belo discurso e manifestou a curiosidade de não o ter conhecido antes, pois também fora muito amigo do Amado. O orador segurou-o pelo braço, pararam, aproximou-se como se fosse cochichar e confidenciou: “Vou lhe revelar um segredo: gosto muito de enterro. Não sei por quê, mas desde pequeno sou assim. É esquisito, eu sei, mas é o meu jeito. Chega a ser vício. E gosto demais de discursar. Vou a todos os funerais que posso e faço isso, de discursar, sempre que dá. Aproveito qualquer deixa. Só não discurso em enterro de suicida. Aí fica difícil. Também não dá em enterro de criança ou de jovem e muito menos de mulher, que pegaria mal. No restante, é fácil. Na verdade, não conheci o Amado, mas isso não importa, o discurso é sempre o mesmo. Circulo pelo velório, converso, colho alguns dados junto aos presentes, mudo um pouco aqui e ali, adapto ao caso, à religião, dou uns enfeites e pronto! Não tem erro”. E despediu-se feliz.


Junho de 2016

GRATIDÃO OS HEROIS DA PANDEMIA