terça-feira, 25 de agosto de 2015

Roendo pedra

Roendo pedra
Cardoso Filho

Tem coisas que encasquetam. Vejam bem: em março deste ano, houve as primeiras passeatas contra a esculhambação em que virou o Brasil, nas mãos do Partido dos Trabalhadores – PT, Lula e Dilma à frente. Foi um sucesso tremendo e tremeram as instituições da república. No mês seguinte, vieram novas passeatas, e as adesões diminuíram. Ficou a impressão de que o fato de as segundas terem sido tão próximas das primeiras determinou o decréscimo numérico. Fomos em frente. A situação brasileira não melhorou um centímetro. Ao contrário, piorou. Os crimes descobertos pela Operação Lava-Jato aumentaram e já estamos roendo pedra e continuaremos assim por longo tempo. É inflação, é desemprego, é aumento de impostos, é o diabo, e o prestígio da presidente Dilma Rousseff e de seu mentor Lula estão abaixo de barriga de cobra (adaptei o dito em respeito às senhoras e senhoritas). Quando novas passeatas foram marcadas, para 16 de agosto, supôs-se que superariam às de março, e motivos havia de sobra. Mas não aconteceu assim. Também não foram, nem de longe, um fracasso. Em termos numéricos, ficaram apenas atrás das de março e podem ser consideradas um sucesso, pela mensagem contundente de repúdio ao governo incompetente e à corrupção monumental que o PT institucionalizou no País, e de apoio às atuações do juiz Sérgio Moro, do Ministério Público Federal e da Polícia Federal na Operação Lava-Jato, que vai expondo as vísceras apodrecidas do estado brasileiro. De qualquer modo, poderiam ter sido melhores.
          Dizia um companheiro de passeata, em tom de lamento, dono da bandeira brasileira que carregávamos em quatro pessoas: “O brasileiro é ridículo; se fosse na Argentina...”.  Era seu modo amargo de constatar que tinha vindo menos gente à rua do que se esperava. Queria-se uma multidão imensa, por todo o Brasil, a desfilar nas ruas seu protesto, sua indignação e sua náusea. Não chego a tanto no lamento. A comparação com os argentinos não serve, por ora. Também eles vão roendo suas pedrinhas, sob o governo de outra mulher incompetente e despreparada, a maquiadíssima Cristina Kirchner. Estamos, pois, brasileiros e argentinos, de mãos dados no infortúnio, e me pergunto que cruel desígnio é esse que concede uma Margaret Thatcher à Inglaterra e uma Ângela Merkel à Alemanha, e dá ao Brasil uma Dilma Rousseff e, à Argentina, uma Cristina Kirchner.
          Talvez a causa tenha sido o tempo. Temos tido dias ensolarados, de primavera em pleno inverno, e até os passarinhos e as árvores confundem-se com o calor fora de época. E esse tempo bom e cálido deve ter chamado muita gente às praias e parques, ou a um domingo de churrasco em casa, com amigos, regado a cerveja e arrematado com doce preguiça no restante da tarde (ao futebol, não, que não houve jogos em Curitiba). Também nesse embalo podem ter ido os que, tendo participado da passeata de março, ou de abril, ou de ambas, julgaram que já haviam feito sua parte e agora podiam descansar, com a alma leve pelo dever supostamente cumprido.
          Não se iludam os insatisfeitos acomodados. O Brasil só se consertará, e aos poucos, sob a resistência e pressão do povo. Se aliviar, o velho jogo político dos acordos sinistros, das acomodações espúrias, dos conchavos, continuará. E continuaremos a roer pedra. Por sinal, um “acordão” está sendo gestado para livrar Renan Calheiros, presidente do Senado Federal, de ser denunciado por corrupção pela Procuradoria Geral da República, com base nas investigações da Operação Lava-Jato, e, na barganha, o Senado esquecer as chamadas pedaladas fiscais do governo de Dilma Rousseff.
          O inimigo não dorme. Nem vai à praia ou ao churrasco.


Agosto de 2015.

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