Roendo pedra
Cardoso Filho
Tem
coisas que encasquetam. Vejam bem: em março deste ano, houve as primeiras
passeatas contra a esculhambação em que virou o Brasil, nas mãos do Partido dos
Trabalhadores – PT, Lula e Dilma à frente. Foi um sucesso tremendo e tremeram
as instituições da república. No mês seguinte, vieram novas passeatas, e as
adesões diminuíram. Ficou a impressão de que o fato de as segundas terem sido
tão próximas das primeiras determinou o decréscimo numérico. Fomos em frente. A
situação brasileira não melhorou um centímetro. Ao contrário, piorou. Os crimes
descobertos pela Operação Lava-Jato aumentaram e já estamos roendo pedra e
continuaremos assim por longo tempo. É inflação, é desemprego, é aumento de
impostos, é o diabo, e o prestígio da presidente Dilma Rousseff e de seu mentor
Lula estão abaixo de barriga de cobra (adaptei o dito em respeito às senhoras e
senhoritas). Quando novas passeatas foram marcadas, para 16 de agosto, supôs-se
que superariam às de março, e motivos havia de sobra. Mas não aconteceu assim.
Também não foram, nem de longe, um fracasso. Em termos numéricos, ficaram
apenas atrás das de março e podem ser consideradas um sucesso, pela mensagem
contundente de repúdio ao governo incompetente e à corrupção monumental que o
PT institucionalizou no País, e de apoio às atuações do juiz Sérgio Moro, do
Ministério Público Federal e da Polícia Federal na Operação Lava-Jato, que vai
expondo as vísceras apodrecidas do estado brasileiro. De qualquer modo,
poderiam ter sido melhores.
Dizia um companheiro de passeata, em
tom de lamento, dono da bandeira brasileira que carregávamos em quatro pessoas:
“O brasileiro é ridículo; se fosse na Argentina...”. Era seu modo amargo de constatar que tinha
vindo menos gente à rua do que se esperava. Queria-se uma multidão imensa, por
todo o Brasil, a desfilar nas ruas seu protesto, sua indignação e sua náusea. Não
chego a tanto no lamento. A comparação com os argentinos não serve, por ora.
Também eles vão roendo suas pedrinhas, sob o governo de outra mulher
incompetente e despreparada, a maquiadíssima Cristina Kirchner. Estamos, pois,
brasileiros e argentinos, de mãos dados no infortúnio, e me pergunto que cruel
desígnio é esse que concede uma Margaret Thatcher à Inglaterra e uma Ângela
Merkel à Alemanha, e dá ao Brasil uma Dilma Rousseff e, à Argentina, uma
Cristina Kirchner.
Talvez a causa tenha sido o tempo. Temos
tido dias ensolarados, de primavera em pleno inverno, e até os passarinhos e as
árvores confundem-se com o calor fora de época. E esse tempo bom e cálido deve
ter chamado muita gente às praias e parques, ou a um domingo de churrasco em
casa, com amigos, regado a cerveja e arrematado com doce preguiça no restante
da tarde (ao futebol, não, que não houve jogos em Curitiba). Também nesse
embalo podem ter ido os que, tendo participado da passeata de março, ou de
abril, ou de ambas, julgaram que já haviam feito sua parte e agora podiam
descansar, com a alma leve pelo dever supostamente cumprido.
Não se iludam os insatisfeitos
acomodados. O Brasil só se consertará, e aos poucos, sob a resistência e
pressão do povo. Se aliviar, o velho jogo político dos acordos sinistros, das
acomodações espúrias, dos conchavos, continuará. E continuaremos a roer pedra. Por
sinal, um “acordão” está sendo gestado para livrar Renan Calheiros, presidente
do Senado Federal, de ser denunciado por corrupção pela Procuradoria Geral da
República, com base nas investigações da Operação Lava-Jato, e, na barganha, o
Senado esquecer as chamadas pedaladas fiscais do governo de Dilma Rousseff.
O inimigo não dorme. Nem vai à praia
ou ao churrasco.
Agosto de 2015.
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