Quero escrever e expressar com o máximo de sinceridade o que
pensarei até o momento de encerrar este livro (que estou escrevendo, falta
muito para terminar). Somos pessoas influenciáveis e isso impõe cuidados especiais
quando encerramos um texto, tanto mais perigoso quanto maior for. Com certeza
poderei continuar mudando, aí o jeito será procurar o que gravei, falei e escrevi
em meus blogs e YouTube para corrigir pensamentos.
Mudamos sempre a menos que sejamos bonecos de pedra.
É fundamental ter em mente a nossa incapacidade de percepção
plena da vida e do Universo. Sempre falamos e escrevemos com o que somos
capazes de ver e entender, ou assim imaginamos que o seja.
A realidade é um conjunto de sensações que podem ser corretas
ou erradas.
A própria visão é uma ilusão. Entre qualquer objeto líquido
ou sólido existem gases e processos energéticos (ondas, corpúsculos) que não
captamos. As cores são uma convenção cerebral assim como o cheiro, o paladar, a
audição e até o tato, isso para não falar dos efeitos de glândulas imperativas
dentro de qualquer ser humano. Nosso corpo é um conjunto de sensores,
servomecanismos, emissores químicos e elétricos que junto ao que denominamos de
cérebro mais softwares, sistema operacional etc. e arquivos que, juntos,
viabilizam o que somos.
Tudo fica mais complexo se lembrarmos que mudamos hora a hora
por efeito de alimentos, bebidas, remédios, cansaço, impactos emocionais e
muito mais.
Podemos até perguntar, quem sou eu nesse instante?
Filósofos deram outras explicações, mas na realidade somos
máquinas bem elaboradas e hipercomplexas; explicação de engenheiro
eletromecânico que gosta de Informática.
Incorro no erro e riscos do meu primeiro livro (Conversando Com Meus Filhos) , quando o que
escrevi foi sincero e cheio de “boas intenções”, mas os erros de redação e
impressão infelizmente mataram o trabalho além de, obviamente, sofrermos
transformações que afetam o que afirmamos a qualquer tempo. Sua publicação
aconteceu em pleno período de uma grave doença em meus olhos, complicando
tudo...
O fantástico em relação a esse livro (Cascaes, Conversando Com Meus Filhos) foi o momento em que
minha esposa entrou em meu escritório; naquele momento tinha o primeiro
exemplar para me apresentar e eu a idade que meu pai viveu (o número de anos,
meses e dias e horas que meu pai vivera até o dia de sua morte material). Digo
morte material, pois tenho inúmeros incidentes em que a presença dele e sua
orientação devem ter acontecido (ou algo muito mais improvável) após o 27 de
novembro de 1966 ao entardecer.
Na condição de engenheiro eletricista raspei a morte por
acidente em quase acidentes e acidentes reais como rotina, inexplicavelmente
tomei a decisão certa no último instante ou simplesmente escapei do pior.
Quando a sobrevivência dependeu de decisões, ela aconteceu no último instante,
algo feito com convicção e sem qualquer outra explicação, exceto aquelas
metafísicas tão comuns aos espíritas.
Mais
um pouco de minha família
Alguns livros, filmes e experiências pessoais ensinam muito e
na “terceira idade”, fantasiosamente denominada “a melhor idade”, devemos e
podemos avaliar tudo o que aprendemos, sabemos e experimentamos. O esforço é
sempre válido para que nossos descendentes não repitam os erros dos pais...
A partir de momentos especiais que mexem com a capacidade de
qualquer jovem (puberdade por excelência) reagir contra conselhos dos mais
velhos é rotina.
Em família temos experiências decisivas para nossa formação.
Meu pai, por exemplo, tinha livros que, acredito, escondia.
Aos poucos entrei na biblioteca dele, com destaque numa obra que ele me disse
para ler só quando fosse adulto, ou seja, apesar da imensa dificuldade de
entender palavras especiais fiz a leitura juvenil do livro (Os grandes sonhos da Humanidade - Condutores de Povos, Sonhadores e
Rebeldes) .
Em aulas de religião no Colégio Santo Antônio dedicadas a estudos da Bíblia
Cristã alguém perguntou sobre (Bertrand
Russell) ,
a reação negativa do frei Odorico Durieux convenceu-me a procurar esse autor e,
naturalmente apaixonei-me por suas ideias ao descobrir a genialidade e
honestidade intelectual desse filósofo inglês.
Na década de sessenta, principalmente a partir da censura
após 64 contra os “esquerdistas”, existiu um bom motivo para estudar as obras
de seus líderes. No determinismo equivocado dos ditadores veio a inspiração
para uma dedicação especial a escritores e teatrólogos, cineastas e lideranças
dedicados a teses revolucionárias.
Assim, dentro de um processo de ação e reação formei meu
caráter. Essa experiência, analisada inúmeras vezes, gerou o que sou, onde do
lado materno senti todo o peso do rigor, dos julgamentos apressados e castigos
físicos.
Minha mãe era mulher lindíssima, extremamente trabalhadora,
uma artista com uma voz excepcional, apaixonada por tudo quanto fosse belo. Com
certeza seria romântica radical se meu pai não fosse tão materialista.
Infelizmente, como já disse, aprendeu a ser dura e radical com os filhos. Dela
guardo lembranças, de meu pai uma tremenda lição de vida e uma convivência
espiritual altamente positiva que só o filho mais velho tem o privilégio de
contar.
No espaço blumenauense de grandes contradições eu, minha irmã
Sônia Maria e o Pedrinho (Pedro Filho) nascemos e crescemos, cada um seguindo
seu caminho, escalando montanhas, caindo e se levantando sem desistir de viver.
Destaco meu pai pelo senso de responsabilidade e disciplina
que assumiu após seu casamento com a minha mãe, Chiquinha (Francisca). Era um
indivíduo livre, optou pela jovem Francisca e a família que construiu.
O respeito e o amor sem exibicionismo de meu pai por seus
filhos, esposa, parentes e amigos e amigas eram uma característica que marcava
sua personalidade profundamente, algo inegável a quem o conhecesse bem.
Minha atual família em sua origem era espartana, nasceu e
cresceu com imensas dificuldades; casamos e geramos nossos filhos; vencemos
(eu, minha esposa e filhos) superando situações extremamente difíceis. Posso
dizer que sobrevivemos praticando esportes radicais.
Nesse sentido o livro (A Arqueologia do Saber) é um espelho dessa
vivência. Lamentavelmente quem ler, espero que todos aqueles que amo e admiro o
façam, estará também afetado por suas limitações e compulsões, mas é sempre na
esperança do entendimento pleno do que existe à época que nos expressamos
quando queremos educar. Ou seja, dentro do cenário do período de infância e
juventude certamente tivemos o que de melhor nossos pais puderam dar. Seria
fantástico ler e estudar algum livro semelhante ao Arqueologia do Saber,
tratando da Arqueologia da Educação Familiar naqueles tempos para melhor
compreendê-los. É normal os filhos reagirem aos pais, nem sempre com sucesso.
Isso prejudica análises pessoais e pode até gerar ressentimentos.
Tem mais, contudo.
O que Michel Foucault teria a ver com minha família?
O culto à verdade, o apego à honestidade, a vontade de ser
responsável e o registro de comportamentos, linguagens, o significado da vida
em tempos distantes assim como a rebeldia, um anarquismo pessoal
impressionante.
Meu pai era um missionário de filosofia e lógicas sensatas.
Em sua juventude, contudo, a comunicação e o acesso à cultura universal eram
precaríssimos. Foram tempos de “glória” das ideologias mais radicais. Ele foi
essa pessoa fruto de uma época complexa num Brasil em permanente convulsão.
À semelhança dos pregadores mais conscientes, Pedro Cascaes
exercia a sinceridade com seu filho mais velho. Que momentos fantásticos tive
conversando com ele...
E agora?
Envelhecendo e aprendendo muito dia a dia, estudando muito,
afinal sou apaixonado por História, Sociologia e Filosofia, além das artes
típicas de minha profissão tenho algumas convicções que podem estar erradas,
mas, infelizmente, pouco vi que contrarie o que estou escrevendo e coloco à
público de diversas maneiras graças aos sistemas de registro e comunicação
modernos (Cascaes, TInformando meus
blogues) .
O ser humano era extremamente cruel e violento, se comparado
ao atual em nosso mundinho. Vivia pouco, sua vida era dominada por vaidades,
medos, rituais, convicções e disposição para matar, se necessário, por muito
pouco. Essa cultura persiste em muitos lugares e, até em nossa terra, é fácil
de perceber isto. A Selvageria fortuita obriga-nos a recomendar cuidados e
distanciamentos de pessoas potencialmente perigosas.
A esperança com certeza é a Humanidade viver mais e mais com
saúde mental. Superar a fase de império dos hormônios é fundamental à leveza de
pensamento e condições de ver algo mais do que simplesmente a beleza ou
sentimentos de alguém que nos atraia.
Paradoxalmente o amor verdadeiro pelo ser humano em geral
depende desse desprendimento, pois o sexo gera competição, desafios, mentiras e
fantasias que ajudam muito pouco a pensar.
Com certeza o amor que se desenvolve após a fase mais
agressiva do acasalamento é talvez mais terno e real. Aí, mais uma vez,
percebemos entre pessoas em geral que a tolerância substitui o amor.
O desafio é aprender a viver, a ser, ter e amar.
Com certeza o amor é essencial à felicidade, e deve ser
cultivado, sustentado, estejam as pessoas em que condição estiverem.
Criar bons relacionamentos e saber viver é uma arte divina.
Assim o desafio deste livro (que estou escrevendo e publicando
experimentalmente em capítulos) é procurar transmitir conselhos e informações
que ajudem a viver de maneira saudável e gratificante.
Nada pior do que o arrependimento e as boas oportunidades não
costumam se repetir.
João Carlos Cascaes
Curitiba
14 de agosto de 2016
Bertrand Russell. s.d. Wikipédia. <http://pt.wikipedia.org/wiki/Bertrand_Russell>.
Cascaes, João Carlos. s.d.
<http://tinformando-meus-blogues.blogspot.com.br/>.
—. Conversando Com Meus Filhos. Curitiba: Ócios
do Ofício, 1996.
Foucault, Michel. A Arqueologia do Saber. Rio
de Janeiro: Editora Forense Universitária Ltda., 2010.
Miller, René Fülöp -. Os grandes sonhos da
Humanidade - Condutores de Povos, Sonhadores e Rebeldes. Trad. Mario
Quintana René Ledoux. Porto Alegre: Livraria do Globo, 1937.
Prezado Cascaes,
ResponderExcluirApreciei seu texto confessional. Aprendizado de uma vida, com todos os percalços, descidas e subidas. Heranças de um pai cuja presença espiritual pode ser pressentida em seu (teu) escrito, pequena amostra do que virá em livro. Uma vida que tem valido a pena, por sua sede de aprender, de entender a complexidade de existir, de tentar desvendar o grande enigma que somos. A par de tudo, a capacidade de permutar amor e ternura. Aguardemos, pois, com ansiedade, o novo livro que seu intelecto privilegiado vai gestando.
Abraços,
Joaquim