domingo, 14 de agosto de 2016

No dia dos pais em 14 de agosto de 2016





Quero escrever e expressar com o máximo de sinceridade o que pensarei até o momento de encerrar este livro (que estou escrevendo, falta muito para terminar). Somos pessoas influenciáveis e isso impõe cuidados especiais quando encerramos um texto, tanto mais perigoso quanto maior for. Com certeza poderei continuar mudando, aí o jeito será procurar o que gravei, falei e escrevi em meus blogs e YouTube para corrigir pensamentos.
Mudamos sempre a menos que sejamos bonecos de pedra.
É fundamental ter em mente a nossa incapacidade de percepção plena da vida e do Universo. Sempre falamos e escrevemos com o que somos capazes de ver e entender, ou assim imaginamos que o seja.
A realidade é um conjunto de sensações que podem ser corretas ou erradas.
A própria visão é uma ilusão. Entre qualquer objeto líquido ou sólido existem gases e processos energéticos (ondas, corpúsculos) que não captamos. As cores são uma convenção cerebral assim como o cheiro, o paladar, a audição e até o tato, isso para não falar dos efeitos de glândulas imperativas dentro de qualquer ser humano. Nosso corpo é um conjunto de sensores, servomecanismos, emissores químicos e elétricos que junto ao que denominamos de cérebro mais softwares, sistema operacional etc. e arquivos que, juntos, viabilizam o que somos.
Tudo fica mais complexo se lembrarmos que mudamos hora a hora por efeito de alimentos, bebidas, remédios, cansaço, impactos emocionais e muito mais.
Podemos até perguntar, quem sou eu nesse instante?
Filósofos deram outras explicações, mas na realidade somos máquinas bem elaboradas e hipercomplexas; explicação de engenheiro eletromecânico que gosta de Informática.
Incorro no erro e riscos do meu primeiro livro (Conversando Com Meus Filhos), quando o que escrevi foi sincero e cheio de “boas intenções”, mas os erros de redação e impressão infelizmente mataram o trabalho além de, obviamente, sofrermos transformações que afetam o que afirmamos a qualquer tempo. Sua publicação aconteceu em pleno período de uma grave doença em meus olhos, complicando tudo...
O fantástico em relação a esse livro (Cascaes, Conversando Com Meus Filhos) foi o momento em que minha esposa entrou em meu escritório; naquele momento tinha o primeiro exemplar para me apresentar e eu a idade que meu pai viveu (o número de anos, meses e dias e horas que meu pai vivera até o dia de sua morte material). Digo morte material, pois tenho inúmeros incidentes em que a presença dele e sua orientação devem ter acontecido (ou algo muito mais improvável) após o 27 de novembro de 1966 ao entardecer.
Na condição de engenheiro eletricista raspei a morte por acidente em quase acidentes e acidentes reais como rotina, inexplicavelmente tomei a decisão certa no último instante ou simplesmente escapei do pior. Quando a sobrevivência dependeu de decisões, ela aconteceu no último instante, algo feito com convicção e sem qualquer outra explicação, exceto aquelas metafísicas tão comuns aos espíritas.

Mais um pouco de minha família


Alguns livros, filmes e experiências pessoais ensinam muito e na “terceira idade”, fantasiosamente denominada “a melhor idade”, devemos e podemos avaliar tudo o que aprendemos, sabemos e experimentamos. O esforço é sempre válido para que nossos descendentes não repitam os erros dos pais...
A partir de momentos especiais que mexem com a capacidade de qualquer jovem (puberdade por excelência) reagir contra conselhos dos mais velhos é rotina.
Em família temos experiências decisivas para nossa formação.
Meu pai, por exemplo, tinha livros que, acredito, escondia. Aos poucos entrei na biblioteca dele, com destaque numa obra que ele me disse para ler só quando fosse adulto, ou seja, apesar da imensa dificuldade de entender palavras especiais fiz a leitura juvenil do livro (Os grandes sonhos da Humanidade - Condutores de Povos, Sonhadores e Rebeldes). Em aulas de religião no Colégio Santo Antônio dedicadas a estudos da Bíblia Cristã alguém perguntou sobre (Bertrand Russell), a reação negativa do frei Odorico Durieux convenceu-me a procurar esse autor e, naturalmente apaixonei-me por suas ideias ao descobrir a genialidade e honestidade intelectual desse filósofo inglês.
Na década de sessenta, principalmente a partir da censura após 64 contra os “esquerdistas”, existiu um bom motivo para estudar as obras de seus líderes. No determinismo equivocado dos ditadores veio a inspiração para uma dedicação especial a escritores e teatrólogos, cineastas e lideranças dedicados a teses revolucionárias.
Assim, dentro de um processo de ação e reação formei meu caráter. Essa experiência, analisada inúmeras vezes, gerou o que sou, onde do lado materno senti todo o peso do rigor, dos julgamentos apressados e castigos físicos.
Minha mãe era mulher lindíssima, extremamente trabalhadora, uma artista com uma voz excepcional, apaixonada por tudo quanto fosse belo. Com certeza seria romântica radical se meu pai não fosse tão materialista. Infelizmente, como já disse, aprendeu a ser dura e radical com os filhos. Dela guardo lembranças, de meu pai uma tremenda lição de vida e uma convivência espiritual altamente positiva que só o filho mais velho tem o privilégio de contar.
No espaço blumenauense de grandes contradições eu, minha irmã Sônia Maria e o Pedrinho (Pedro Filho) nascemos e crescemos, cada um seguindo seu caminho, escalando montanhas, caindo e se levantando sem desistir de viver.
Destaco meu pai pelo senso de responsabilidade e disciplina que assumiu após seu casamento com a minha mãe, Chiquinha (Francisca). Era um indivíduo livre, optou pela jovem Francisca e a família que construiu.
O respeito e o amor sem exibicionismo de meu pai por seus filhos, esposa, parentes e amigos e amigas eram uma característica que marcava sua personalidade profundamente, algo inegável a quem o conhecesse bem.
Minha atual família em sua origem era espartana, nasceu e cresceu com imensas dificuldades; casamos e geramos nossos filhos; vencemos (eu, minha esposa e filhos) superando situações extremamente difíceis. Posso dizer que sobrevivemos praticando esportes radicais.
Nesse sentido o livro (A Arqueologia do Saber) é um espelho dessa vivência. Lamentavelmente quem ler, espero que todos aqueles que amo e admiro o façam, estará também afetado por suas limitações e compulsões, mas é sempre na esperança do entendimento pleno do que existe à época que nos expressamos quando queremos educar. Ou seja, dentro do cenário do período de infância e juventude certamente tivemos o que de melhor nossos pais puderam dar. Seria fantástico ler e estudar algum livro semelhante ao Arqueologia do Saber, tratando da Arqueologia da Educação Familiar naqueles tempos para melhor compreendê-los. É normal os filhos reagirem aos pais, nem sempre com sucesso. Isso prejudica análises pessoais e pode até gerar ressentimentos.
Tem mais, contudo.
O que Michel Foucault teria a ver com minha família?
O culto à verdade, o apego à honestidade, a vontade de ser responsável e o registro de comportamentos, linguagens, o significado da vida em tempos distantes assim como a rebeldia, um anarquismo pessoal impressionante.
Meu pai era um missionário de filosofia e lógicas sensatas. Em sua juventude, contudo, a comunicação e o acesso à cultura universal eram precaríssimos. Foram tempos de “glória” das ideologias mais radicais. Ele foi essa pessoa fruto de uma época complexa num Brasil em permanente convulsão.
À semelhança dos pregadores mais conscientes, Pedro Cascaes exercia a sinceridade com seu filho mais velho. Que momentos fantásticos tive conversando com ele...
E agora?
Envelhecendo e aprendendo muito dia a dia, estudando muito, afinal sou apaixonado por História, Sociologia e Filosofia, além das artes típicas de minha profissão tenho algumas convicções que podem estar erradas, mas, infelizmente, pouco vi que contrarie o que estou escrevendo e coloco à público de diversas maneiras graças aos sistemas de registro e comunicação modernos (Cascaes, TInformando meus blogues).
O ser humano era extremamente cruel e violento, se comparado ao atual em nosso mundinho. Vivia pouco, sua vida era dominada por vaidades, medos, rituais, convicções e disposição para matar, se necessário, por muito pouco. Essa cultura persiste em muitos lugares e, até em nossa terra, é fácil de perceber isto. A Selvageria fortuita obriga-nos a recomendar cuidados e distanciamentos de pessoas potencialmente perigosas.
A esperança com certeza é a Humanidade viver mais e mais com saúde mental. Superar a fase de império dos hormônios é fundamental à leveza de pensamento e condições de ver algo mais do que simplesmente a beleza ou sentimentos de alguém que nos atraia.
Paradoxalmente o amor verdadeiro pelo ser humano em geral depende desse desprendimento, pois o sexo gera competição, desafios, mentiras e fantasias que ajudam muito pouco a pensar.
Com certeza o amor que se desenvolve após a fase mais agressiva do acasalamento é talvez mais terno e real. Aí, mais uma vez, percebemos entre pessoas em geral que a tolerância substitui o amor.
O desafio é aprender a viver, a ser, ter e amar.
Com certeza o amor é essencial à felicidade, e deve ser cultivado, sustentado, estejam as pessoas em que condição estiverem.
Criar bons relacionamentos e saber viver é uma arte divina. Assim o desafio deste livro (que estou escrevendo e publicando experimentalmente em capítulos) é procurar transmitir conselhos e informações que ajudem a viver de maneira saudável e gratificante.
Nada pior do que o arrependimento e as boas oportunidades não costumam se repetir.


João Carlos Cascaes
Curitiba

14 de agosto de 2016

Bertrand Russell. s.d. Wikipédia. <http://pt.wikipedia.org/wiki/Bertrand_Russell>.
Cascaes, João Carlos. s.d. <http://tinformando-meus-blogues.blogspot.com.br/>.
—. Conversando Com Meus Filhos. Curitiba: Ócios do Ofício, 1996.
Foucault, Michel. A Arqueologia do Saber. Rio de Janeiro: Editora Forense Universitária Ltda., 2010.
Miller, René Fülöp -. Os grandes sonhos da Humanidade - Condutores de Povos, Sonhadores e Rebeldes. Trad. Mario Quintana René Ledoux. Porto Alegre: Livraria do Globo, 1937.




Um comentário:

  1. Prezado Cascaes,
    Apreciei seu texto confessional. Aprendizado de uma vida, com todos os percalços, descidas e subidas. Heranças de um pai cuja presença espiritual pode ser pressentida em seu (teu) escrito, pequena amostra do que virá em livro. Uma vida que tem valido a pena, por sua sede de aprender, de entender a complexidade de existir, de tentar desvendar o grande enigma que somos. A par de tudo, a capacidade de permutar amor e ternura. Aguardemos, pois, com ansiedade, o novo livro que seu intelecto privilegiado vai gestando.
    Abraços,
    Joaquim

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