O que entendo por Deus
O livro (Ética - Demonstrada à Maneira dos Geômetras) de Baruch Spinoza[1]
dá uma visão dele sobre a figura do Criador em uma época em que se declarar
ateu ou até agnóstico poderia significar a morte e torturas aplicadas pelos
fanáticos após qualquer denúncia. Seu livro só foi publicado após sua morte e
sob cuidados especiais. É uma obra extraordinária que merece leitura e
releitura inúmeras vezes.
Assim, lembrando, mas fugindo do seu rigor matemático, o
roteiro de Spinoza proponho a seguinte definição para o que seria ou é Deus:
1 – Entendo como ser universal, a quem denomino Deus, o ente
formado pelo conjunto das leis que governam a Natureza (não o contrário).
2 – O Universo é absolutamente tudo o que existir de forma
material (no binômio “matéria- energia” enquanto não se descobrir mais nada).
3 – A natureza de Deus é inacessível por qualquer objeto ou
ser de sua criação.
4 – Deus, sendo o que é, não modifica sua vontade
arbitrariamente.
5 – Deus é absolutamente infinito, isto é, um conjunto
material/energia eterno e com leis definidas objetivamente (sem paixões).
6 – O que é perfeito e onipotente não muda e não depende de
esforços humanos.
Ponderações
A Humanidade inventou a figura de Deus para ter proteção e
esperanças. O conceito do que possa ser Deus é manipulável, pois é vago e
pessoal, apesar dos seres humanos fazerem afirmações peremptórias, tanto mais
veementes quantos mais ingênuas, ignorantes, oportunistas e/ou medrosas forem.
A falta de instrução, a ausência de conhecimentos em Ciências Exatas assim como
de História e Filosofia fortalecem comportamentos radicais, que também aparecem
quando o jovem é submetido a uma educação dirigida fortemente para alguma
religião.
Podemos qualificar a Humanidade e o comportamento de nações a
partir de suas religiões dominantes. A história e o noticiário atual em
qualquer época (antes, agora e ) adiante sempre ilustrarão as convicções
existentes.
Deus, existindo de alguma forma, seja ela qual for, estará infinitamente
acima de nossa capacidade de verificação e questionamentos diretos. Podemos,
quando muito, intuir e aceitar, até mesmo acreditar com forte convicção, mas
isso será sempre algo singular, íntimo.
Imaginando que Deus exista e de alguma forma transmita seus
“recados” temos o direito de fazer meditações, análise de nossas consciências
mais nobres e até perversas. É pouco verossímil imaginar que um Ser Supremo
seja instigador de atos agressivos, maus, vingativos etc.
A visão antropomórfica do Grande Arquiteto do Universo é
perigosa, pois temos defeitos demais para acreditar que fomos “feitos à imagem
e semelhança de Deus”.
Imaginar Deus com atributos positivos e lembrar que Ele não
será bajulável, não é algo à espera de rituais, rezas e promessas ajuda a
entender a responsabilidade que carregamos sobre nossos destinos.
O peso da consciência é monumental e proporcional à
inteligência e cultura que pudermos acumular. Quem não as tem por natureza e,
ou educação é inimputável, é um simples animal. Tendo tido a oportunidade de
crescer intelectualmente tornamo-nos reféns do que aprendemos...
Cascaes
19.6.2016
[1] Baruch de Espinoza1 (também Benedito
Espinoza; em hebraico: ברוך שפינוזה, transl. Baruch Spinoza) (24 de novembro de 1632, Amsterdã — 21 de fevereiro de 1677, Haia) foi um dos grandes racionalistas do século XVII dentro
da chamada Filosofia Moderna, juntamente com René Descartes e Gottfried Leibniz. Nasceu em Amsterdã, nos Países Baixos,
no seio de uma família judaica portuguesa e é considerado o fundador do criticismo bíblico moderno.
Wikipédia
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