quinta-feira, 16 de junho de 2016

Ideologias


A visão idealista criou ideologias[1] e uma coleção interminável de derivativos. A visão idealista da vida é um dos efeitos das religiões, sempre induzindo as pessoas a acreditarem em seres superiores e verdades transcendentais. Muitas desses figurinos de opção política serviram para o endeusamento de ditadores e políticos, simplesmente. Em tempos modernos, graças a tecnologias de marketing e repressão é fácil inventar fórmulas e deuses.
Os séculos 19 e 20 [ (Hobsbawm, A Era do Capital 1848 - 1875), (Arendt, As Origens do Totalitarismo), (Hobsbawm, A Era das Revoluções 1789-1848), (U. Eco, O Cemitério de Praga), (Ferry), (Foucault, A Arqueologia do Saber), (Hobsbawm, Era dos Extremos)] serviram de campo de conflitos entre teóricos e militantes de propostas de organização social que mergulharam a Humanidade em muitas guerras colossais.
A negação do conhecimento pleno, saber da impossibilidade de dominar ciências tão difusas quanto muitas que afetam a vida humana ajuda no desprezo pelos figurinos, e isso é extremamente importante.
Não existe ainda outra proposta melhor do que a da defesa da liberdade, a da igualdade de oportunidades e a preocupação com a fraternidade entre os povos, nações, tribos, pessoas.
Acrescente-se a tudo isso a preocupação crescente com o meio ambiente, o futuro próximo das condições de sobrevivência e veremos que a união dos povos em torno de sua sobrevivência é essencial.
Temos condições técnicas de até desviar corpos celestes previamente identificados, poderemos, entretanto, desaparecer por efeito de montanhas de lixo que produzimos sem pensar no que isso significa.
Podemos considerar valores comportamentais como essenciais ao aprimoramento da vida humana, talvez entre elas a valorização da sinceridade, da verdade, da preparação das pessoas para ouvirem e falarem a verdade.
Michel Foucault ([org.], Foucault - a coragem da verdade) ] desenvolve com profundidade o tema “a força da verdade” e resgata a Escola Cínica[2] talvez querendo valorizar o imperativo categórico de Kant:
(fonte Wikipédia) Imperativo categórico é um dos principais conceitos da filosofia de Immanuel Kant. Sua ética tem como conceito esse sistema. Para o filósofo alemão, imperativo categórico é o dever de toda pessoa doar conforme os princípios que ela quer que todos os seres humanos sigam, se ela quer que seja uma lei da natureza humana, ela deverá confrontar-se realizando para si mesmo o que deseja para o amigo. Em suas obras Kant afirma que é necessário tomar decisões como um ato moral, ou seja, sem agredir ou afetar outras pessoas.
O imperativo categórico é enunciado com três diferentes fórmulas (e suas variantes), são estas:
1)Lei Universal: "Age como se a máxima de tua ação devesse tornar-se, através da tua vontade, uma lei universal."
a)Variante:"Age como se a máxima da tua ação fosse para ser transformada, através da tua vontade, em uma lei universal da natureza."
2)Fim em si mesmo: "Age de tal forma que uses a humanidade, tanto na tua pessoa, como na pessoa de qualquer outro, sempre e ao mesmo tempo como fim e nunca simplesmente como meio"
3)Legislador Universal(ou da Autonomia): "Age de tal maneira que tua vontade possa encarar a si mesma, ao mesmo tempo, como um legislador universal através de suas máximas."
a)Variante: "Age como se fosses, através de suas máximas, sempre um membro legislador no reino universal dos fins."
 Ou seja, desde tempos imemoriais, de uma forma ou de outra, grandes profetas e filósofos defenderam ou estruturaram suas propostas a partir de algo tão simples como poderíamos dizer: ame seu próximo como a si mesmo sendo sincero, honesto, justo. Naturalmente na submissão a seres superiores a maioria absoluta desses líderes passados e presentes escora suas convicções no medo de desagradar algum ser superior e/ou na convicção de trocas de simpatias com os deuses, quem sabe usando esses argumentos para serem aceitos...
O essencial, contudo, é que a vida pode ser muito melhor, gratificante e produtiva quando a maioria das pessoas acredita na força da verdade e trabalha com a preocupação de interagir e ser útil.
Qualquer que seja a relação econômica e política entre as pessoas os resultados podem ser bons.
Qualquer estrutura dá bons resultados se as pessoas forem boas, competentes, e esse é o grande mandamento de qualquer empresa ou sociedade: bons resultados.
Convicções que criam conflitos violentos, inimizades, rancores e demolição mútua são a negação da inteligência.
A prática da sinceridade é o grande instrumento de aprimoramento da vida, é a grande ideologia.
Mas, e as ideologias?
Apesar dos discursos não passam de leves tinturas que desaparecem ao primeiro esforço de tirá-las. Com raras exceções as pessoas se apegam a modismos e figurinos mentais sem convicção, na maioria das vezes a partir de motivações triviais [merecem leitura (U. Eco, O Pêndulo de Foucault), (Llosa, Conversa no Catedral)].
O que fazemos ao escolher um clube de futebol para torcer e até morrer de melancolia ou explosões de fúria é o que criamos ao declarar simpatias políticas, raramente lúcidas.
Ao longo da vida vimos a evolução e regressão de praticamente todos os líderes que nos empolgaram. Simplesmente mostraram que eram humanos, demasiadamente humanos, lembrando Nietsche (NIETZCHE).

Cascaes
16.6.2016

[org.], Frédéric Gros. Foucault - a coragem da verdade. Trad. Marcos Marcionilo. Parábola Editorial, s.d. <http://livros-e-filmes-especiais.blogspot.com/2013/09/foucault-coragem-da-verdade.html>.
Arendt, Hannah. As Origens do Totalitarismo. Trad. Roberto Raposo. São Paulo: Companhia das Letras, 2007.
Eco, Umberto. O Cemitério de Praga. São Paulo: Editora Record, 2011.
—. O Pêndulo de Foucault. Bestbolso, 2009.
Ferry, Luc. Aprender a Viver - Filosofia para os novos tempos. Trad. Vera Lúcia dos Reis. Rio de Janeiro: Objetiva, 2006.
Foucault, Michel. A Arqueologia do Saber. Rio de Janeiro: Editora Forense Universitária Ltda., 2010.
Hobsbawm, Eric. A Era das Revoluções 1789-1848. Trad. Marcosd Penchel Maria Tereza Lopes Teixeira. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2004.
—. A Era do Capital 1848 - 1875. Trad. Luciano Costa Neto. São Paulo: Paz e Terra, 2007.
—. Era dos Extremos. Trad. Maria Célia Paoli Marcos Santarrita. Companhia das Letras, 1998.
Llosa, Mario Vargas. Conversa no Catedral. ALFAGUARA, s.d.
NIETZCHE, FREDERICO. Vols. HUMANO, DEMASIADO HUMANO. s.d. 16 de 6 de 2016. <https://saudeglobaldotorg1.files.wordpress.com/2013/08/te1-nietzsche-humano.pdf>.










[1] Ideologia é um termo que possui diferentes significados e duas concepções: a neutra e a crítica. No senso comum o termo ideologia é sinônimo ao termo ideário, contendo o sentido neutro de conjunto de ideias, de pensamentos, de doutrinas ou de visões de mundo de um indivíduo ou de um grupo, orientado para suas ações sociais e, principalmente, políticas. Para autores que utilizam o termo sob uma concepção crítica, ideologia pode ser considerada um instrumento de dominação que age por meio de convencimento (persuasão ou dissuasão, mas não por meio da força física) de forma prescritiva, alienando a consciência humana.
Para alguns, como Karl Marx, a ideologia age mascarando a realidade. Os pensadores adeptos da Teoria Crítica da Escola de Frankfurt consideram a ideologia como uma ideia, discurso ou ação que mascara um objeto, mostrando apenas sua aparência e escondendo suas demais qualidades. Já o sociólogo contemporâneo John B. Thompson também oferece uma formulação crítica ao termo ideologia, derivada daquela oferecida por Marx, mas que lhe retira o caráter de ilusão (da realidade) ou de falsa consciência, e concentra-se no aspecto das relações de dominação.
A ideologia também foi analisada pela corrente filosófica do pós-estruturalismo, a qual é apontada por muitos autores como a superação do marxismo.

[2]cinismo foi uma corrente filosófica fundada por um discípulo de Sócrates, chamado Antístenes, e cujo maior nome foi Diógenes de Sínope, por volta de 400 a.C., que pregava essencialmente o desapego aos bens materiais e externos. O termo passou à posteridade como caraterização pejorativa de pessoas sem pudor, indiferentes ao sofrimento alheio (que em nada se assemelha a origem filosófica da palavra).
Esta atitude era parte de uma procura da independência pessoal. Alguns foram longe demais, rejeitando mesmo as decências básicas. Para poderem manter a compostura face à adversidade, reduziam as suas necessidades ao mínimo para garantir a sua autossuficiência. Mais do que uma teoria, era um modo de vida.  Para os Cínicos, a vida virtuosa consiste na independência, obtida através do domínio de desejos e necessidades, para encorajar as pessoas a renunciarem aos desejos criados pela civilização e pelas convenções. Os cínicos empreenderam uma cruzada de escárnio anti-social, na esperança de mostrar, pelo seu próprio exemplo, as frivolidades da vida social. Wikipédia

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