quinta-feira, 2 de junho de 2016

No tempo dos faroestes

No tempo dos faroestes
Cardoso Filho
Em antigos filmes de faroeste, quando ocorriam confrontos entre brancos e índios, já se sabia: no final, quase não sobravam índios. Essas cenas de matança poderiam ser consideradas lamentáveis aos olhos de hoje, mas, na época, a molecada que lotava os cinemas nas matinês de domingo, na simplicidade da infância e ainda distante do engulhoso e trapaceiro “politicamente correto”, explodia em gritos, assovios e bateção de pés no assoalho, especialmente quando, em situação de extremo apuro para os brancos, a cavalaria do exército americano surgia para salvá-los.
Lembrei-me delas diante dos acontecimentos da política nacional, sob a ação da Operação Lava-Jato ora empreendida pela Justiça, Ministério Público e Polícia Federais. Do jeito que caminham as investigações, estimuladas pelo fogo nutrido das delações premiadas, sobrarão poucos índios.
Eis por que boa parte dos políticos de Brasília, aterrorizada pelo avanço das investigações, tenta por todos os modos brecá-las. Eles não conseguiram e não conseguirão. A Operação Lava-Jato se tornou um patrimônio moral que a população não entregará aos bandidos. Um símbolo da justiça que queremos.
Observei esse ânimo em recente episódio. Apanhara um táxi e no trajeto até minha residência conversava com Marco, o taxista. Como é quase inevitável nos dias que correm, acabamos falando sobre a terrível situação econômica em que se encontra o Brasil, por obra dos nefandos governos petistas, e ele me contou que sua classe estava sofrendo bastante com a contração da economia; povo sem dinheiro evita tomar táxi. Próximo de meu destino, ele, a coroar seu ponto de vista sobre a situação, manifestou enorme orgulho pela República de Curitiba.
A expressão nasceu de uma conversa de Lula com Dilma Rousseff, em que ele, Lula, atormentado pelo avanço da Lava-Jato, dizia temer a República de Curitiba. O dito ajustou-se como luva à realidade e caiu no gosto popular. Em virtude da ação do Juiz Federal Sergio Moro, da 13ª. Vara Federal de Curitiba, ao lado do Ministério Público e Polícia Federais, Curitiba protagoniza e emblematiza a já histórica devassa promovida pela referida Operação, a ponto de parecer pairar sobre a realidade brasileira, marcada pela impunidade secular, como fosse um estado independente a mostrar o modelo de uma justiça digna e tenaz no combate aos crimes praticado por figurões da política e dos grandes negócios.
Naquele momento, o taxista Marco verbalizava o ufanismo paranaense e a disposição da maioria massacrante dos brasileiros de não permitir interferências que emperrem a Lava-Jato. Somos, pois, a República de Curitiba, berço da Operação que vai mudando a história brasileira.
Mas voltemos à lembrança dos velhos filmes de faroeste. Preocupa demais haver por aqui muito índio e muito bandoleiro. Mocinho tem pouco. Ainda bem que a cavalaria azul, comandada por Sérgio Moro, avança a toda brida contra os malfeitores, sob a intensa emoção do antigos meninos.

Junho de 2016.

          

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