No tempo dos
faroestes
Cardoso Filho
Em antigos filmes de faroeste,
quando ocorriam confrontos entre brancos e índios, já se sabia: no final, quase
não sobravam índios. Essas cenas de matança poderiam ser consideradas lamentáveis
aos olhos de hoje, mas, na época, a molecada que lotava os cinemas nas matinês
de domingo, na simplicidade da infância e ainda distante do engulhoso e
trapaceiro “politicamente correto”, explodia em gritos, assovios e bateção de
pés no assoalho, especialmente quando, em situação de extremo apuro para os
brancos, a cavalaria do exército americano surgia para salvá-los.
Lembrei-me delas diante dos
acontecimentos da política nacional, sob a ação da Operação Lava-Jato ora empreendida
pela Justiça, Ministério Público e Polícia Federais. Do jeito que caminham as
investigações, estimuladas pelo fogo nutrido das delações premiadas, sobrarão
poucos índios.
Eis por que boa parte dos
políticos de Brasília, aterrorizada pelo avanço das investigações, tenta por
todos os modos brecá-las. Eles não conseguiram e não conseguirão. A Operação
Lava-Jato se tornou um patrimônio moral que a população não entregará aos
bandidos. Um símbolo da justiça que queremos.
Observei esse ânimo em recente
episódio. Apanhara um táxi e no trajeto até minha residência conversava com
Marco, o taxista. Como é quase inevitável nos dias que correm, acabamos falando
sobre a terrível situação econômica em que se encontra o Brasil, por obra dos nefandos
governos petistas, e ele me contou que sua classe estava sofrendo bastante com
a contração da economia; povo sem dinheiro evita tomar táxi. Próximo de meu
destino, ele, a coroar seu ponto de vista sobre a situação, manifestou enorme orgulho
pela República de Curitiba.
A expressão nasceu de uma conversa
de Lula com Dilma Rousseff, em que ele, Lula, atormentado pelo avanço da
Lava-Jato, dizia temer a República de Curitiba. O dito ajustou-se como luva à
realidade e caiu no gosto popular. Em virtude da ação do Juiz Federal Sergio
Moro, da 13ª. Vara Federal de Curitiba, ao lado do Ministério Público e Polícia
Federais, Curitiba protagoniza e emblematiza a já histórica devassa promovida
pela referida Operação, a ponto de parecer pairar sobre a realidade brasileira,
marcada pela impunidade secular, como fosse um estado independente a mostrar o
modelo de uma justiça digna e tenaz no combate aos crimes praticado por
figurões da política e dos grandes negócios.
Naquele momento, o taxista Marco verbalizava
o ufanismo paranaense e a disposição da maioria massacrante dos brasileiros de
não permitir interferências que emperrem a Lava-Jato. Somos, pois, a República
de Curitiba, berço da Operação que vai mudando a história brasileira.
Mas voltemos à lembrança dos
velhos filmes de faroeste. Preocupa demais haver por aqui muito índio e muito bandoleiro.
Mocinho tem pouco. Ainda bem que a cavalaria azul, comandada por Sérgio Moro, avança
a toda brida contra os malfeitores, sob a intensa emoção do antigos meninos.
Junho de 2016.
Belo texto! como soe acontecer com todos os seus escritos. Parabéns
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