As perturbações institucionais a partir da criação de novos
conceitos de formação de estados e governos com a geração de propostas
ideológicas laicas e radicalmente diferentes das utilizadas pelos estados
monárquicos e feudais foram equivalentes a muitas chuvas de meteoritos, grandes
terremotos, maremotos etc. sobre a cabeça dos seres humanos a partir do século
18 de nossa era.; com certeza foi o resultado do crescimento do número de
pessoas em condições de ler, estudar mover-se pelos diversos cantos do planeta
e assim, em redes sociais primitivas, escaparem do controle dos poderosos de
plantão.
A Humanidade mudou, começou a se transformar aceleradamente,
inovando, retomando valores antigos e esquecidos, duvidando e procurando novas
soluções terrenas para seus problemas, um comportamento que na civilização
ocidental estagnara com a preocupação radical de conquistar algum paraíso após
a morte, no terrorismo criado por exércitos de fanáticos e submissão de nações
inteiras a lideranças conservadoras.
A estruturação monárquica, feudal e clerical dos países
europeus mais desenvolvidos era um obstáculo severo ao progresso intelectual. A
prioridade determinada pelas crenças e seitas era a construção de templos,
monastérios, ambientes públicos, discretos e secretos de discussões semânticas
e filosóficas. Isso significou um atraso fatal diante de invasões de outros
povos assim como o desprezo pela formação e organização de cidades e nações
saudáveis.
Critérios da Idade Média fizeram lindíssimas catedrais e
cidades cheias de templos, mas significaram também a exposição de seus
habitantes a pragas, endemias, epidemias e, repetindo, à violência de outros
povos que lutavam por espaços vitais aqui na Terra.
As mudanças de comportamento e cenários diferentes merecem
estudos minuciosos, agora com muitos recursos de análise. Um fator decisivo na
História do ser humano foi, é e sempre será o padrão de clima e topografia
existente, base de migrações permanentes. Vale, por exemplo, pensar no que era
a superfície terrestre há dez mil anos. Existindo há três milhões de anos, a
espécie humana superou mudanças colossais. A diferença em relação aos tempos
atuais é a fragilidade física e comportamental, a interdependência que cruza
oceanos assim como a criação de centros extremamente concentrados de pessoas.
O que podemos imaginar para tudo isso se a Terra der um
rearranjo de grandes proporções para nós, seres infinitesimais formigando a
superfície terrestre?
A divisão rígida da sociedade humana em classes permanentes,
modificando continuamente à força bruta fronteiras de domínio de dinastias (o
povo “pertencia”, era parte das propriedades dos poderosos) era a regra entre
seres humanos que nunca contestavam quem pudesse dominar tropas e sacerdotes.
Isso é uma condição de sobrevivência de uma espécie de vida eventualmente
racional e que tinha instintos de organização semelhantes às alcateias e
famílias de feras que vagavam pelos campos, florestas e savanas.
A natureza humana é isso e tem sido objeto de estudos mais e
mais detalhados de especialistas. As teorias de Charles Darwin, Sigmund Freud e
outros e a constatação de que mudanças rápidas podem acontecer por acidentes,
guerras e doenças, assusta ou encanta. Os principais fatores de mudança
política entre seres humanos já intelectualmente capazes foram as revoluções
dos meios de comunicação e as guerras, destruindo, substituindo e dando
motivações para o desenvolvimento técnico acelerado e mudanças institucionais.
O crescimento da população em condições de ler e escrever é,
com certeza, o principal fator revolucionário recente, apesar de períodos de
penúria e desespero que ainda acontecem.
A vida lastreada em instintos primários e pregadores
oportunistas até a invenção de Gutemberg e os ensinamentos de Martinho Lutero foi
um tempo complexo e com variações imensas.
A redução dos custos e alfabetização em massa viabilizaram, a
partir de Gutemberg, o sonho da Democracia, Liberdade, Fraternidade, Igualdade,
Justiça e valores tão nobres que se colocaram sob a denominação de Direitos
Humanos e similares. Pode-se dizer que eram sentimentos oportunistas, mas,
inequivocamente e infinitamente mais nobres que os precedentes.
A Revolução Industrial quando aconteceu reforçou a base
intelectual necessária e suficiente para a criação de novos valores.
A visão metafísica que se desenvolveu entre dois e três
milênios passados prometendo benefícios após a morte deu lugar à vontade de
viver antes do cemitério, algo que só as elites mais instruídas e espertas
mantinham. O povo acordou!
A soberania do cidadão comum era desprezada tacitamente. A
ignorância quase absoluta da população em geral e a concentração hereditária de
riquezas e tropas especiais e sob comando de quem lhes pagava e convencia
submetiam os povos (isso ainda existe, mas enfrentando coisas “assustadoras”,
tais como os sistemas de comunicação alternativos) a vidas ao gosto e violência
dos senhores da terra, das armas e almas.
As revoluções de fato começaram muito antes. Profetas e
filósofos da era clássica da História da Humanidade (com “H” maiúsculo)
formaram a base das mudanças mais recentes. As dificuldades de registro e
transmissão de ideias eram barreiras colossais, algo que só começou a implodir
(é bom repetir) com Gutemberg e na sociedade cristã com Martinho Lutero
(repetindo). A Reforma propondo o estudo pessoal da Bíblia estimulou a alfabetização,
assustando o clero tradicional e mudando radicalmente o potencial de
transformação.
Matar fisicamente qualquer ser vivo não é difícil.
Pensamentos, culturas, convicções são decisões íntimas e facilmente
desenvolvidas sem percepção dos poderosos; quando têm informação suficiente
tornam-se, eventualmente, forças avassaladoras. Ou seja, não se destrói ideias
com a violência física. Isso entre nós, humanos, foi essencial à nossa
evolução. Passo a passo a Humanidade criou, padeceu, sofreu muito para crescer.
O desafio no século 21 é mais sofisticado, pois já chegamos a
níveis elevados, com fortes oscilações...
Atingimos, contudo, padrões de existência insustentáveis e à
percepção da nossa fragilidade diante da Natureza, para onde vamos?
Temos aí o desafio de novas visões éticas e morais, quais?
Quais serão os direitos e deveres de todos?
E a qualidade das Cortes e corporações?
Cascaes
13.07.2016
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