quarta-feira, 27 de julho de 2016

Ética – um argumento oportunista?



Ética pressupõe a existência de um padrão moral. Qualquer organização inclusive quadrilhas, famílias, ONG, empresas e até o próprio indivíduo (principalmente) desenvolvem seus códigos morais. De forma consciente ou não vamos estabelecendo conscientemente ou não limites ao que outros dizem, lemos, sabemos e queremos. É fácil falar em ética e moral, basta, entretanto, conhecer melhor as pessoas que usam e abusam dessa condição de existência para perceber a falsidade de gente “acima de qualquer suspeita”.
Heidegger[1] (Introdução à Filosofia) coloca uma definição de estar aí, tempo – lugar, como “estar aí” definição de existir, em contraposição de “eu penso, logo existo” (Descartes)[2]. Nessas condições sentimos que a moral e a ética são atributos e conceitos circunstanciais que desafiaram grandes filósofos.
 Nem todas as atividades humanas, contudo, são baseadas em valores morais razoáveis, mais ainda quando a moral estabelecida consensualmente é hostil ao indivíduo, o que é fácil de acontecer diante das muitas crenças e formas de viver, crises, guerras, miséria, perseguições etc.
Existem, contudo, atividades e ambientes onde a moral é firmemente estabelecida e até razoável.
Muitas situações dependem de credibilidade mútua, faltando esse respeito a pessoa ofendida pode alegar rompimento de um código de ética. Assim uma forma agressiva contra qualquer pessoa é dizer que faltou à Ética, disso ou daquilo, deste ou daquele modelo. O que se percebe, contudo, é que esse dardo é frequentemente usado contra desafetos, inimigos, obstáculos a conveniências, vinganças, ofensas e compromissos impossíveis.
É extremamente importante conhecer bem as pessoas quando colocam questões eventualmente confusas, de muitas interpretações possíveis. No ambiente político, por exemplo, podemos ver diariamente o desprezo por qualquer tipo de moral, ética, padrão justo de comportamento. Os fins justificam os meios[3]? Não raramente pessoas de destaque praticamente agridem seus eleitores tomando decisões absolutamente contrárias a programas de partidos e aos seus discursos de campanha.
A democracia criou Cortes e cortesãos...
De modo geral, contudo, para qualquer ser humano a preocupação com a ética é função do que estiver em jogo.
Poucas pessoas poderão dizer que respeitam rigorosamente figurinos morais, que têm ética definida e consciente e não a transgredem. Nada é mais distante da moral e da ética que o jogo sexual, sedução, vida profissional etc..
Com a mesma facilidade com que acusam, escondem o que fazem.
Bertrand Russell (Bertrand Russell) em sua luta por uma sociedade justa e feliz teve imensas dificuldades de sobreviver diante do radicalismo de uma sociedade conservadora, ganhou um espaço justo e merecido na galeria dos grandes pensadores e ativistas políticos[4].
Do blog Paulopes (Lopes) temos um excelente resumo de suas orientações:
1 - Não tenha certeza absoluta de nada.

2 - Não considere que valha a pena esconder evidências, pois elas inevitavelmente virão à luz.

3 - Nunca tente desencorajar o pensamento, pois assim com certeza obterá sucesso. 

4 - Quando encontrar oposição, mesmo que seja de seu cônjuge ou de suas crianças, esforce (sic) para superá-la pelo argumento, e não pela autoridade, porque uma vitória dependente da autoridade é irreal e ilusória.

5 - Não tenha respeito pela autoridade dos outros, porque há sempre autoridades contrárias.

6 - Não use o poder para suprimir opiniões que considere perniciosas, pois as opiniões vão lhe suprimir.

7 - Não tenha medo de possuir opiniões excêntricas, porque todas as opiniões hoje aceitas foram um dia consideradas excêntricas.

8 - Encontre mais prazer em desacordo inteligente do que em concordância passiva, porque, se valorizar a inteligência, chegará a um acordo proveitoso e profundo.

9 - Seja escrupulosamente verdadeiro, mesmo que a verdade seja inconveniente, pois será mais inconveniente se tentar escondê-la.

10 - Não tenha inveja daqueles que vivem num paraíso dos tolos, pois apenas um tolo o consideraria um paraíso.

Fã de Bertrand Russel desde o primeiro livro que li e perdi (emprestando) na década de sessenta tenho por esse filósofo tremenda admiração e o lamento de que sejam tão raros aqueles que agora conhecem sua obra.
Mas, ética seria ser fraterno, simpático, agradável, disciplinado?
Principalmente consultores de “internet” propagam a ideia da bondade, de atitudes respeitosas e carinhosas e valorização das pessoas em qualquer circunstância.
A vida real é competitiva, e isso é essencial ao sucesso e à própria sobrevivência.
Quem aceitaria como técnico de suas seleções pessoas escolhidas por critérios neutros? Alguém, podendo, optaria por atendimento médico padrão, desprezando o melhor? Procuraria se apaixonar por pessoas que seu íntimo rejeita?
A hipocrisia é extremamente prejudicial à vida em geral. Tudo o que consideramos bom ou ruim pode ser visto de forma relativa, pois, acima de tudo, existe o desafio da própria sobrevivência. Ninguém nasce marcado para viver e morrer de um determinado jeito. Fantasticamente podemos superar barreiras incríveis, de modo geral derrotando adversários.
Com a invenção da internet surgiu a figura do hacker, é ruim? Graças a esses vândalos dos sistemas que usam computadores e chips o mundo WEB não para de evoluir. A negação exige solução ou valida a alternativa.
A ética é argumento exaustivo e mal-usado.
Precisamos ter padrões morais, saber e procurar viver dentro de limites santos e amáveis. Isso é possível sempre?
Não!
Ao longo da vida de pessoas e empresas de sucesso vemos exaustivamente a competição, vencendo o mais forte, capaz, determinado etc. No mundo moderno isso faz dos Estados Unidos da América do Norte, por exemplo, a pátria dos melhores e mais eficazes projetos.
Eles não vencem apenas, nós nos deixamos perder. Temos, no Brasil, a lógica cristã do perdão, da comiseração, da aceitação dos mais fracos quando o assunto não é futebol, namoro, política e coisas assim.
O resultado da flacidez é a degradação de organizações públicas e privadas, normalmente dominadas por famílias, corporações fortes e pessoas voluntariosas, eventualmente medíocres.  A mediocridade é um tremendo indicador do mau uso da ética, é isso que queremos e precisamos?
Não podemos esquecer que os desafios em relação à sobrevivência de toda a Humanidade crescem continuamente em torno da sustentabilidade em muitos sentidos, da saúde à oferta de oportunidades de trabalho. Precisamos educar para a luta, para a vontade de enfrentar qualquer situação.
Se o Planeta tiver (e vai ter) grandes transformações só os mais fortes, capazes e bem preparados sobreviverão, se isso for possível. Atenção, o gigantismo é um fator negativo, será que o crescimento físico contínuo do ser humano será uma vantagem? Isso é mostrado à exaustão em filmes de ficção; os homensauros, violentos, musculosos e armados com equipamentos misturando espadas com raios de energia luminosa (é bonito) que viabilizam o confronto de heróis contra bandidos (feios, repulsivos), que mentira!
Sempre, a qualquer momento, as transformações poderão acontecer, principalmente pelas mudanças naturais do Universo.
Se nada de anormal aparecer a própria vida impõe a todos nós desafios crescentes e constantes. O ato de envelhecer é cruel, apesar da magnanimidade da indolência intelectual que vai dominando nossas mentes.
O fundamental é como o jovem e o adulto se comportarão. Nessa fase da vida todos os bons e maus predicados se transformarão em sucesso ou insucesso.
Michel Foucault falava muito da estética da vida. Sim, queremos um figurino que nos dê orgulho, que seja publicável. O que desejamos ser?
A ética que viermos a adotar, conscientemente ou não, será decisiva ao sucesso de nossa vida. Assim, se a intenção for ser dono de suas vontades, precisamos pensar bem no que queremos e poderemos fazer.
Nada pior do que ter vergonha e arrependimentos tardios.


Cascaes
Curitiba, 27 de julho de 2017

Bertrand Russell. s.d. 24 de 7 de 2016. <https://pt.wikipedia.org/wiki/Bertrand_Russell>.
Descartes, René. Significado de Penso, logo existo. s.d. 24 de 7 de 2016. <http://www.significados.com.br/penso-logo-existo/>.
Heidegger, Martin. Introdução à Filosofia. Trad. Marco Antonio Casanova. São Paulo: wmfmartinsfontes, 2009.
Lopes, Paulo. Bertrand Russell, ateu famoso. s.d. <http://www.paulopes.com.br/>.





[1]Wikipédia em 25 de julho de 2016 - Martin Heidegger (Meßkirch26 de setembro de 1889 — Friburgo em Brisgóvia26 de maio de 1976) foi umfilósofo alemão. É um dos pensadores fundamentais do século XX - ao lado de RussellWittgensteinAdornoPopper e Foucault - quer pela recolocação do problema do ser e pela refundação da Ontologia, quer pela importância que atribui ao conhecimento da tradição filosófica e cultural. Influenciou muitos outros filósofos, dentre os quais Jean-Paul Sartre.

[2] Wikipédia em 25 de julho de 2016 - René Descartes (La Haye en Touraine31 de março de 1596 – Estocolmo11 de fevereiro de 1650[1] ) foi umfilósofofísico e matemático francês.[1] Durante a Idade Moderna, também era conhecido por seu nome latino Renatus Cartesius.
Notabilizou-se sobretudo por seu trabalho revolucionário na filosofia e na ciência, mas também obteve reconhecimento matemático por sugerir a fusão da álgebra com a geometria - fato que gerou a geometria analítica e o sistema de coordenadas que hoje leva o seu nome. Por fim, foi também uma das figuras-chave na Revolução Científica.
Descartes, por vezes chamado de "o fundador da filosofia moderna" e o "pai da matemática moderna", é considerado um dos pensadores mais importantes e influentes da História do Pensamento Ocidental. Inspirou contemporâneos e várias gerações de filósofos posteriores; boa parte da filosofia escrita a partir de então foi uma reação às suas obras ou a autores supostamente influenciados por ele. Muitos especialistas afirmam que, a partir de Descartes, inaugurou-se o racionalismo da Idade Moderna.[2] Décadas mais tarde, surgiria nas Ilhas Britânicas um movimento filosófico que, de certa forma, seria o seu oposto - o empirismo, com John Locke e David Hume.

[3] Wikipédia em 24 de julho de 2016 - O fim justifica os meios ou Os fins justificam os meios é uma frase que, atribuída a Maquiavel, quer significar que os governantes e outros poderes devem estar acima da ética e moral dominante para alcançar seus objetivos ou realizar seus planos.
Em sua principal obra, "O Príncipe", Nicolau Maquiavel, cria um verdadeiro "Manual de Política", sendo interpretado de várias formas, principalmente de maneira injusta e pejorativa; o autor e suas obras passaram a ser vistos como perniciosos, sendo forjada a expressão "os fins justificam os meios", não encontrada em sua obra. Esta expressão, significando que não importa o que o governante faça em seus domínios, desde que seja para manter-se como autoridade, entretanto a expressão mesma não se encontra no texto, mas tornou-se uma interpretação tradicional do pensamento maquiavélico.
Comumente escuta-se que o fim justifica os meios numa alusão de que "certos" fins podem, ou devem, ser alcançados através de métodos não convencionais, ou anti-éticos, ou violentos. Este conceito é utilizado com freqüência numa tentativa de minimizar os meios violentos utilizados na guerra, na justificativa de leis severas e repressões impostas a grupos sociaisou religiosos ou étnicos, ou ainda, mas em crescente desuso, na justificativa de sistemas e métodos educacionais rigorosos e punitivos.
Este silogismo defendido pela doutrina do Bem Superior é diretamente contrária à doutrina cristã, que diz exatamente o contrário: O fim não justifica os meios. No entanto, a própria frase parece vir de um manual de ética escrito em 1645 pelo teólogo jesuíta Hermann Busenbaum (Medulla theologiae moralis). Lê-se: cum finis est licitus, etiam media sunt licita ("Quando o fim é bom, também são os meios").

[4] Wikipédia em 24 de julho de 2016 - Bertrand Arthur William Russell, 3.º Conde Russell OM FRS[1] (RavenscroftPaís de Gales18 de Maio de 1872— Penrhyndeudraeth, País de Gales, 2 de Fevereiro de 1970) foi um dos mais influentes matemáticosfilósofos elógicos que viveram no século XX. Em vários momentos na sua vida, ele se considerou um liberal, um socialista e um pacifista. Mas, também admitiu que nunca foi nenhuma dessas coisas em um sentido profundo.[2] Sendo um popularizador da filosofia, Russell foi respeitado por inúmeras pessoas como uma espécie de profeta da vida racional e da criatividade. A sua postura em vários temas foi controversa.[3]
Russell nasceu em 1872, no auge do poderio económico e político do Reino Unido, e morreu em 1970, vítima de uma gripe, quando o império se tinha desmoronado e o seu poder drenado em duas guerras vitoriosas mas debilitantes. Até à sua morte, a sua voz deteve sempre autoridade moral, uma vez que ele foi um crítico influente das armas nucleares e da guerra estadunidense no Vietnã. Era inquieto.[4]
Recebeu o Nobel de Literatura de 1950, "em reconhecimento dos seus variados e significativos escritos, nos quais ele lutou por ideais humanitários e pela liberdade do pensamento".[5]

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