Há esperança ainda
Cardosofilho
Ainda
bem que 2016 chega ao fim. Ano duro, de crises políticas, crise econômica e
escândalos de corrupção, pacotaço de maldades que a gente esqueceria logo, se
pudesse. Para fechar, como se uma mão sinistra quisesse marcá-lo ainda mais, em
28 de novembro um avião da empresa aérea Lamia caiu na Colômbia e matou 71
pessoas, entre as quais o time de futebol da Chapecoense, comissão técnica,
dirigentes e jornalistas. Salvaram-se apenas cinco. Tragédia tecida com o fio
de incompreensível erro humano: faltou combustível ao avião – a fatal “pane
seca”. Miguel Quiroga, comandante da aeronave, arriscou voar com o combustível no
limite, sem margem de segurança. Bastou pequeno imprevisto para o desastre
acontecer. Sobre o acidente já se escreveu bastante, embora não demais, todos
conhecem os detalhes e a comoção ainda provoca lágrimas. Daqui a cem anos ainda
se falará dele.
Apesar de tudo, algo muito importante
e bom aconteceu em 2016. Ao longo dele, as vísceras da corrupção da política
brasileira foram expostas por inteiro. Doze meses de faxina moral, e dessa
purgação, que seguirá em 2017, poderá sair um país renovado e apto a encontrar
o tal grande destino, até agora existente apenas na retórica ufanista sem
sentido. Diante de tanta sujeira, vem a pergunta: como chegamos a esse ponto? Como
o País pôde abrigar – ainda abriga – e suportar, no mundo político e dos
grandes negócios, tantos demagogos populistas, trapaceiros, canalhas e larápios
do dinheiro público? Dinheiro que falta na saúde, na educação, na segurança, em
estradas, portos, ferrovias e por aí vai. Roubalheira que mata.
Fica-nos uma certeza: ou o Brasil prossegue
até o fim na desratização, caiam quantos caírem sem importar a que partido
político pertençam, ou não sairá da desgraça. Quem deve precisa pagar até o
último centavo. Haverá gritos e ranger de dentes, mas é preciso drenar o pântano.
O novo ano chega desafiador. Há muito a
fazer nessa limpeza ética, e os corruptos, com as cabeças prestes a irem para o
cepo, invocarão e farão o diabo para salvar o pescoço. Exatamente como o PT
prometeu e fez para ganhar a eleição presidencial de 2014, mesmo quebrando o
Brasil e deixando, na esteira da ruína, a inflação, a estagnação dos negócios, o
fechamento de empresas, o desemprego e desespero de milhões de trabalhadores.
Um caos completo. Uma crise como nunca dantes vivida, provocada pela ação
criminosa e má-fé dos governos petistas, particularmente de Dilma Rousseff, de
triste memória. Mas a cadeia haverá de chegar para a bandidagem.
Escreveu-me um amigo leitor
confessando-se cansado da luta contra a corrupção e que jogava a toalha. É até
compreensível. O combate desgasta para valer e chega a nos tentar largá-lo. Respondi,
no entanto, que é isso que os bandidos querem: a exaustão e a entrega dos
pontos por parte dos mocinhos.
O que virá? Na Itália, a luta contra a
grossa corrupção ficou pela metade. Os políticos reagiram e aprovaram leis que
manietaram a Justiça. A lição deixada pelos italianos é exemplar. Mostra o
perigo que nos espreita de sombras sinistras, à espera de que relaxemos a
vigilância.
Devidamente alertados, vamos em frente
com fé e coragem. Feliz Ano-Novo, meus amigos. Como diz a marcha-rancho “As
Flores Estão Voltando”, de Paulo Soledade: Vê
como é bonita a vida, vê, há esperança ainda.
Dezembro de 2016.
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