Invasões
Cardosofilho
Vivemos tempos estranhos e difíceis,
e não vai novidade na afirmação. Cícero, filósofo romano que viveu no século I
a.C., diria hoje, mais uma vez: “O tempora! o mores!” (ó tempos! ó costumes!). Vê-se que avançamos
pouco por aí. Todas as épocas carregam suas dores e mazelas, e assim será até o
apagar final das luzes. A verdade é que sair da cama, a cada manhã, é sempre
início de uma aventura perigosa.
Por
que falo isto? Vejam, meus amigos: além dos muitos e graves problemas que o
País enfrenta, por razões que todos sabem, estamos, agora, assistindo a
invasões de escolas e universidades por alunos e outros e outros, em protesto contra
as propostas do governo federal de reforma do ensino médio e criação de teto
para aumentos dos gastos públicos (PEC 241). Segundo especialistas isentos e
sem partidarismo, as propostas são boas e necessárias. Sobre educação, faz
tempo que se grita contra má qualidade do ensino público brasileiro, colocado entre
os piores do mundo, e é bom lembrar que nossa escola pública, se não foi
primorosa no passado, foi bem melhor do que a de agora, e então não havia
greves do magistério, os professores ensinavam, os alunos estudavam e o ano
letivo se cumpria sem sobressaltos. Mas, se as propostas são boas, contra o que
berram os estudantes? Por que invadem escolas? Por que cometem essa afronta à
propriedade pública, portanto crime passível de ser combatido com reintegração
de posse, pacífica, se possível, ou sob coerção policial, se necessário?
O Brasil mudou muito e não para
melhor. Tempos outros. Vive-se hoje sob a influência do execrável
“politicamente correto”, um pacote de imbecilidades inventado pela
“intelligentzia” de esquerda e empurrado para a mente dos ingênuos e tolos sob a
aparência de criação intelectual sábia e evoluída. Nesse embalo, vamos
cometendo besteiras e aceitando passivamente vigarices e abusos. Esses
brilhantes teóricos condenam, por exemplo, palmadas de correção nos filhos, como
se um tapinha no traseiro ou na mão, em reprimenda a travessuras exageradas ou
desobediência, fosse um desastre pedagógico com danosos efeitos psicológicos
nas crianças; combatem ferozmente a redução da maioridade penal para dezesseis
anos, como se o delinquente dessa idade fosse incapaz de avaliar a gravidade de
seus atos criminosos; na esteira de tantas bobagens, o negro tem de ser chamado
de afrodescendente, o pobre passou a vulnerável social, baderneiros portando
bandeiras vermelhas são movimentos sociais e por aí a coisa segue, como se
eufemismos idiotas pudessem alterar a realidade. O engodo intelectual culmina por
reconhecer a qualquer grupelho, formado sob os mais variados e esdrúxulos
pretextos, o direito de infernizar e causar prejuízos a pessoas, a uma cidade,
a um estado, a um país inteiro, em nome de falsa liberdade e cidadania. Oras,
se democracia for isso, então não presta.
A
confusão é grande e a permissividade toma conta. As esquerdas querem mesmo é
desestabilizar o País. Tentam cumprir o que prometeram. Nascem daí as invasões
de prédios públicos e escolas, interdição de ruas e rodovias, greves atrás de
greves de funcionários públicos, quebra-quebras promovidos por arruaceiros escondidos
sob máscaras pretas. De de outro lado, as autoridades toleram os abusos,
contemporizam e amaciam, intimidadas pelos que se rotulam defensores dos
direitos humanos, o quais, no fechar das contas, mais estimulam a anarquia e
quebra da ordem pública do que contribuem para o avanço social. Nesse passo, a
penosa luta do povo brasileiro por democracia plena, dentro dos limites da
legalidade, civilidade e bom senso, corre sério risco de terminar em baderna. É
os que os estudantes invasores, atuando como massa de manobra dos partidos de
esquerda, sem conhecimento de causa e sem saber exatamente contra o que
protestam, pretendem.
Novembro de 2016.
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