quinta-feira, 3 de novembro de 2016

Invasões

Invasões
Cardosofilho

Vivemos tempos estranhos e difíceis, e não vai novidade na afirmação. Cícero, filósofo romano que viveu no século I a.C., diria hoje, mais uma vez: “O tempora! o mores!”  (ó tempos! ó costumes!). Vê-se que avançamos pouco por aí. Todas as épocas carregam suas dores e mazelas, e assim será até o apagar final das luzes. A verdade é que sair da cama, a cada manhã, é sempre início de uma aventura perigosa.
          Por que falo isto? Vejam, meus amigos: além dos muitos e graves problemas que o País enfrenta, por razões que todos sabem, estamos, agora, assistindo a invasões de escolas e universidades por alunos e outros e outros, em protesto contra as propostas do governo federal de reforma do ensino médio e criação de teto para aumentos dos gastos públicos (PEC 241). Segundo especialistas isentos e sem partidarismo, as propostas são boas e necessárias. Sobre educação, faz tempo que se grita contra má qualidade do ensino público brasileiro, colocado entre os piores do mundo, e é bom lembrar que nossa escola pública, se não foi primorosa no passado, foi bem melhor do que a de agora, e então não havia greves do magistério, os professores ensinavam, os alunos estudavam e o ano letivo se cumpria sem sobressaltos. Mas, se as propostas são boas, contra o que berram os estudantes? Por que invadem escolas? Por que cometem essa afronta à propriedade pública, portanto crime passível de ser combatido com reintegração de posse, pacífica, se possível, ou sob coerção policial, se necessário?
O Brasil mudou muito e não para melhor. Tempos outros. Vive-se hoje sob a influência do execrável “politicamente correto”, um pacote de imbecilidades inventado pela “intelligentzia” de esquerda e empurrado para a mente dos ingênuos e tolos sob a aparência de criação intelectual sábia e evoluída. Nesse embalo, vamos cometendo besteiras e aceitando passivamente vigarices e abusos. Esses brilhantes teóricos condenam, por exemplo, palmadas de correção nos filhos, como se um tapinha no traseiro ou na mão, em reprimenda a travessuras exageradas ou desobediência, fosse um desastre pedagógico com danosos efeitos psicológicos nas crianças; combatem ferozmente a redução da maioridade penal para dezesseis anos, como se o delinquente dessa idade fosse incapaz de avaliar a gravidade de seus atos criminosos; na esteira de tantas bobagens, o negro tem de ser chamado de afrodescendente, o pobre passou a vulnerável social, baderneiros portando bandeiras vermelhas são movimentos sociais e por aí a coisa segue, como se eufemismos idiotas pudessem alterar a realidade. O engodo intelectual culmina por reconhecer a qualquer grupelho, formado sob os mais variados e esdrúxulos pretextos, o direito de infernizar e causar prejuízos a pessoas, a uma cidade, a um estado, a um país inteiro, em nome de falsa liberdade e cidadania. Oras, se democracia for isso, então não presta.
          A confusão é grande e a permissividade toma conta. As esquerdas querem mesmo é desestabilizar o País. Tentam cumprir o que prometeram. Nascem daí as invasões de prédios públicos e escolas, interdição de ruas e rodovias, greves atrás de greves de funcionários públicos, quebra-quebras promovidos por arruaceiros escondidos sob máscaras pretas. De de outro lado, as autoridades toleram os abusos, contemporizam e amaciam, intimidadas pelos que se rotulam defensores dos direitos humanos, o quais, no fechar das contas, mais estimulam a anarquia e quebra da ordem pública do que contribuem para o avanço social. Nesse passo, a penosa luta do povo brasileiro por democracia plena, dentro dos limites da legalidade, civilidade e bom senso, corre sério risco de terminar em baderna. É os que os estudantes invasores, atuando como massa de manobra dos partidos de esquerda, sem conhecimento de causa e sem saber exatamente contra o que protestam, pretendem.

Novembro de 2016.

           

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