TPM – creio que todos sabem o que significa. Pois é: tensão
pré-menstrual, distúrbio que acomete algumas, ou muitas, mulheres. Muito se
fala e se escreve a respeito e o tema tem provocado boas piadas. Algumas
padecentes confessam que a tensão as deixam coléricas, com instintos perigosos.
Agora, novo tipo de tensão está sendo identificado – o TPN.
O que vem a ser isto?
Significa “tensão pré-Natal” e a cada ano
parece atacar mais homens. É possível que também as mulheres estejam sujeitas a
ela, mas, por enquanto, os sintomas têm sido observados em homens. Vou lhes
narrar um exemplo. Ernesto (nome fictício para manter o anonimato) é pequeno
comerciante de materiais elétricos. Sua empresa emprega seis trabalhadores (ou,
como preferem os douradores de pílulas, colaboradores). Às portas de dezembro,
vive o drama de enfrentar o período natalino com falta de dinheiro no caixa
para dar conta do pagamento de salários, mais o décimo-terceiro e todos os
pesados encargos trabalhistas decorrentes. As vendas se arrastam, deprimidas
pela crise econômica que vive o Brasil, esta por culpa vocês bem sabem de quem.
Encurralado, parece ter uma só saída: pedir dinheiro emprestado ao banco. Mas
empréstimo bancário, no Brasil de hoje, é quase suicídio para o devedor. Os
juros são de tal modo indecentes que quem toma dinheiro emprestado passa, na
prática, a trabalhar para o banco. O problema agita e esquenta sua cabeça o dia
todo e não o larga nem de noite. Vai para casa e continua a buscar saída, e a
cabeça dói, toma analgésico, que, por sinal, vem tomando quase todos os dias, dorme
mal, levanta-se de manhã já meio prostrado, sem ânimo e alimenta-se mal por
falta de apetite. Cogita até vender um dos dois carros da família, solução
temporária, acredita, que, contudo, gerará novos problemas, agora no âmbito
doméstico. Além do mais, desfazer-se de um carro por necessidade é confissão
pública de rebaixamento social e dará lenha ao fogo dos comentários de
familiares, amigos, vizinhos e, principalmente, de um concunhado invejoso e
maledicente, ao qual terá de enfrentar por ocasião das festas de fim de ano e
suportar, se for o caso, seu sorrisinho sarcástico e cheio de contentamento.
Tem mais. Comemorações de fim de ano
significam outras despesas. Em sua pequena empresa, Ernesto oferece um
churrasco, ou jantar, de confraternização reunindo empregados, esposas e
filhos. Tornou-se tradição e todos esperam por isso. Mas uma festinha dessas
sairá, no barato, por dois, três mil reais, e, na crise do momento, tal gasto
representará mais um prego no caixão. A opção será chamar o pessoal, explicar a
dificuldade, comunicar que, neste ano, a boca-livre está cancelada e, ao final
da reunião, sob o silêncio da desolação, pedir que todos deem um sonoro e forte
“viva!” à Dilma Rousseff e ao PT. Mas há os gastos inevitáveis. Não dá para
convocar esposa e filhos e comunicar que o Natal de 2016 mixou. Como assim? –
perguntariam, e Ernesto, humilhado, teria de confessar sua quase insolvência.
Não, não, é demais para seu orgulho, e tome mais analgésicos, vamos às despesas
e seja o que Deus quiser!
Por essas atribulações, anda casmurro
(homenagem a Machado de Assis), irritado, respondendo mal a qualquer indagação,
grosseiro até, cabisbaixo, evitando contatos sociais, e nem quer trocar ideias
sobre comemoração de Natal e Ano-Novo. Se pudesse, confessa, riscaria dezembro
do calendário. E se lhe argumentam que Natal é a festa em homenagem ao
nascimento do Menino Jesus, responde que para isso bastaria ir a um templo e
rezar, além do que o Natal virou muito mais Papai Noel da Coca-Cola, consumo
desbragado e, depois da ceia, farra da juventude em boate até o Sol raiar.
Eis, amigos, em passada rápida, a
descrição de um homem afetado pela TPN. Se encontrarem alguém com os sintomas,
tenham compreensão. Pode ser depressão típica de dezembro.
Novembro de 2016.
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