Via crucis
Via dolorosa
Via de
dúvidas, está mesmo acontecendo?
Como crianças
voltamos à dependência total e à inocência de quem não pode sobreviver ou se
defender sozinhos.
Estamos nas
mãos de estranhos que se tornam íntimos, que parecem não ter vida fora dali...
Um lugar de
leitos, máquinas, pacientes, que convivem em meio ao frenesi de providências e
incertezas...
Lugar de
trabalho para alguns, porto de esperança para outros.
Definitivamente,
seu lugar não é ali pai, como ninguém vê? Você não combina aí! Você que é feito
de poesia, que não é nada apático, que se comunica tão bem com todos! Está
nocauteado no meio do salão de estranhos. Você não é o 'Seu José'… É O
Wanderlei, o Wander, o meu pai, “papi”.
Fica a
impressão de que o mundo saiu da realidade e houve um grande engano, um erro na
história, da sua vida, da minha vida. Trocaram ... com certeza ... alguém se equivocou!
O câncer de
novo, o raio repartindo outra vez nossos mesmos corações, quebrando novamente
nossas forças, duramente golpeadas.
Quem é que
pega o pai dos outros e coloca doente, sem qualquer explicação? Claro que não
estou falando de meras suposições científicas e que apesar delas, o que se vê é
muita dor na alma, e muitos semelhantes em igual sofrimento.
Quantos são
eu não sei, mas se multiplicam à minha volta, nas minhas conversas, nas minhas
orações por tantos, e entre tantas pessoas queridas ... de alguém.
Pessoas que
estavam ali vivendo e que foram surpreendidas pela interrupção de suas vidas.
Tantas coisas
se formam e se criam em torno disso, um mundo inteiro de prédios, máquinas,
cursos, empregos, remédios ... e coragem! Sim, surge um mundo especializado,
que gravita e também depende de todo aquele tumor inesperado, indesejado,
inescrutável, que permanece inexorável, quando invade a vida alheia.
Nasce um
sistema para combater a injustiça natural.
Via crucis
... vivemos novas vidas, pedintes,
separados por poucos metros, cortinas, biombos, roupas que não são nossas ...
Visitamos, em
horários que não nos pertencem, alguém que nos deu a vida e seus momentos mais
iluminados, sempre, a qualquer momento, quando precisávamos.
Falta
compreensão de que são nossos, apesar das explicações razoáveis, porque falta
ser real para nós, os que aqui, do lado de fora, ficam esperando as regras de
cada lugar, depois da porta fechada.
Via crucis,
via de dividirmos a cruz, de humildade, de comiseração andando junto com a
pequena multidão daqueles que foram exilados da alegria, da alegria inocente
que pairava num tempo em que não sabíamos o que era medo. Saudosos de um tempo
em que não pensávamos ... apenas tínhamos planos e afazeres, que pareciam ser a
vida, a simples vida.
Via crucis
... quem passa, que chega, quem fica, quem encontra a saída?
Cibele C.F. Resende - 17/10/2015
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