quinta-feira, 3 de dezembro de 2015

A caixa de Pandora

A caixa de Pandora



Cardoso Filho

Cansada das más notícias que chegam pela televisão, jornais, revistas e internet, escreve-me uma amiga: “Bom é comprar um picolé gostoso e ir saboreá-lo num banco, olhando para as árvores”. A imagem é de uma paz encantadora, que nos remete ao picolé da infância e à praça dos namoros de outrora. Ela rem razão. O brasileiro é hoje um ser deprimido e angustiado, dividido entre a esperança e o desalento, ansiando pelo sossego do espírito.
Sejamos pela esperança. A propósito, a vitória da oposição na Argentina, com Maurício Macri eleito para presidente, pode sinalizar que novos ventos soprarão na América Latina e varrerão para o lixo da História o socialismo bolivariano gestado pelo Foro de São Paulo. Abracemos, pois, a esperança. E nos empenhemos na luta, em qualquer circunstância e de todos os modos possíveis e necessários, e não sei se me faço entender, pela ordem social e moralização do país. Sem corrupção política e sem invasões e depredações de propriedades privadas promovidas pelos ditos movimentos sociais, capa que tenta acobertar ações de transgressores da lei e da democracia.
Os acontecimentos desencadeados pela Operação Lava-Jato afirmam que o Brasil inicia uma mudança histórica, embora a resistência feroz dos criminosos. É inconcebível que, diante dos muitos delitos cometidos pelos governos petistas e seus aliados, o país não reaja e continue sendo o paraíso da corrupção; que os ladrões do dinheiro público sigam a agir do mesmo modo, assim que a poeira baixar, como desejam os canalhas agarrados ao que parecia ser nossa predestinação – o país da bandidagem impune dos homens de colarinhos brancos.
          A prisão preventiva do senador petista Delcídio do Amaral abriu novo e fatal buraco na defesa das gordas ratazanas. Delcídio é uma caixa de Pandora. Se resolver abrir o bico em delação premiada, e será idiota se não o fizer – imbecil o Lula já disse que ele é –, as instituições tremerão e figurões da república – Lula e Dilma incluídos – ruirão por completo. Ele, o senador, conhece o submundo da política, em que pululam as relações promíscuas envolvendo o estado, empresas estatais, grandes empreiteiras e parlamentares, feitas de negociatas e pixulecos. Transações criminosas que desviam bilhões de reais de dinheiro público para partidos políticos e bolsos dos ladrões.
Pois bem, preso o senador por autorização do Supremo Tribunal Federal, a medida foi encaminhada à apreciação do Senado Federal, que detém poder para relaxar ou manter a prisão preventiva de seus membros, segundo preceito constitucional. No Senado, vários parlamentares, a exemplo do presidente da Casa, Renan Calheiros, queriam o voto secreto para decidir a respeito, modo perfeito para os pulhas votarem contrariando a moralidade, sem necessidade de oferecer satisfação aos eleitores. Todavia, a forte pressão popular exercida por meio das redes sociais fez prevalecer a escolha pelo voto aberto. Sem a escuridão protetora do escrutínio secreto, mesmo os senadores eventualmente dispostos a votar pelo relaxamento da prisão viram-se forçados a abrir mão do corporativismo e conveniências outras (com exceção de treze) e mantiveram a prisão do senador, como a decência e o decoro exigiam. O episódio ressalta a importância da internet no processo das decisões políticas, ao oferecer ao cidadão poderoso meio de manifestar suas opiniões e cobrar condutas, ao contrário do voto, que silencia, que morre após depositado na urna, e o instinto de sobrevivência dos homens público sabe que é vital ouvir e entender o clamor dos eleitores.
Encerrava o texto quando estourou a notícia de que o presidente da Câmara Federal, deputado Eduardo Cunha, acolheu o pedido de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff, impetrado pelos advogados Hélio Bicudo, Miguel Reale Júnior e Janaina Conceição Paschoal. É mais uma pavorosa aflição para um governo agonizante, cuja enfermidade ele próprio gerou com sua terrível incompetência administrativa e transgressões morais. Na verdade, o governo de Dilma Rousseff já é um cadáver. Falta só fechar a tampa do caixão.


Dezembro de 2015.

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