Cardoso Filho
Cansada
das más notícias que chegam pela televisão, jornais, revistas e internet,
escreve-me uma amiga: “Bom é comprar um picolé gostoso e ir saboreá-lo num
banco, olhando para as árvores”. A imagem é de uma paz encantadora, que nos
remete ao picolé da infância e à praça dos namoros de outrora. Ela rem razão. O
brasileiro é hoje um ser deprimido e angustiado, dividido entre a esperança e o
desalento, ansiando pelo sossego do espírito.
Sejamos
pela esperança. A propósito, a vitória da oposição na Argentina, com Maurício
Macri eleito para presidente, pode sinalizar que novos ventos soprarão na
América Latina e varrerão para o lixo da História o socialismo bolivariano
gestado pelo Foro de São Paulo. Abracemos, pois, a esperança. E nos empenhemos
na luta, em qualquer circunstância e de todos os modos possíveis e necessários,
e não sei se me faço entender, pela ordem social e moralização do país. Sem
corrupção política e sem invasões e depredações de propriedades privadas
promovidas pelos ditos movimentos sociais, capa que tenta acobertar ações de
transgressores da lei e da democracia.
Os
acontecimentos desencadeados pela Operação Lava-Jato afirmam que o Brasil inicia
uma mudança histórica, embora a resistência feroz dos criminosos. É
inconcebível que, diante dos muitos delitos cometidos pelos governos petistas e
seus aliados, o país não reaja e continue sendo o paraíso da corrupção; que os
ladrões do dinheiro público sigam a agir do mesmo modo, assim que a poeira baixar,
como desejam os canalhas agarrados ao que parecia ser nossa predestinação – o país
da bandidagem impune dos homens de colarinhos brancos.
A prisão preventiva do senador petista
Delcídio do Amaral abriu novo e fatal buraco na defesa das gordas ratazanas.
Delcídio é uma caixa de Pandora. Se resolver abrir o bico em delação premiada,
e será idiota se não o fizer – imbecil o Lula já disse que ele é –, as instituições
tremerão e figurões da república – Lula e Dilma incluídos – ruirão por completo.
Ele, o senador, conhece o submundo da política, em que pululam as relações
promíscuas envolvendo o estado, empresas estatais, grandes empreiteiras e parlamentares,
feitas de negociatas e pixulecos. Transações criminosas que desviam bilhões de
reais de dinheiro público para partidos políticos e bolsos dos ladrões.
Pois
bem, preso o senador por autorização do Supremo Tribunal Federal, a medida foi
encaminhada à apreciação do Senado Federal, que detém poder para relaxar ou
manter a prisão preventiva de seus membros, segundo preceito constitucional. No
Senado, vários parlamentares, a exemplo do presidente da Casa, Renan Calheiros,
queriam o voto secreto para decidir a respeito, modo perfeito para os pulhas
votarem contrariando a moralidade, sem necessidade de oferecer satisfação aos
eleitores. Todavia, a forte pressão popular exercida por meio das redes sociais
fez prevalecer a escolha pelo voto aberto. Sem a escuridão protetora do
escrutínio secreto, mesmo os senadores eventualmente dispostos a votar pelo
relaxamento da prisão viram-se forçados a abrir mão do corporativismo e
conveniências outras (com exceção de treze) e mantiveram a prisão do senador,
como a decência e o decoro exigiam. O episódio ressalta a importância da
internet no processo das decisões políticas, ao oferecer ao cidadão poderoso
meio de manifestar suas opiniões e cobrar condutas, ao contrário do voto, que
silencia, que morre após depositado na urna, e o instinto de sobrevivência dos
homens público sabe que é vital ouvir e entender o clamor dos eleitores.
Encerrava
o texto quando estourou a notícia de que o presidente da Câmara Federal,
deputado Eduardo Cunha, acolheu o pedido de impeachment contra a presidente
Dilma Rousseff, impetrado pelos advogados Hélio Bicudo, Miguel Reale Júnior e
Janaina Conceição Paschoal. É mais uma pavorosa aflição para um governo
agonizante, cuja enfermidade ele próprio gerou com sua terrível incompetência
administrativa e transgressões morais. Na verdade, o governo de Dilma Rousseff
já é um cadáver. Falta só fechar a tampa do caixão.
Dezembro de 2015.
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