O Brasil e a saúva
Cardoso Filho
O
pecuarista José Carlos Bumlai, amigo íntimo do ex-presidente Lula, com livre
acesso ao Palácio do Planalto durante o governo do amigo do peito, foi preso
preventivamente pela Polícia Federal, sob suspeita de haver praticado negócio
ilícitos valendo-se da privilegiada amizade, particularmente em empréstimos
junto ao BNDES. Não há, segundo o Ministério Público Federal, indícios claros
de que Lula tenha de algum modo interferido nas operações sob suspeita, fato
que leva os procuradores a dizer, com cautela compreensível, que inexistem, por
enquanto, evidências que envolvam o ex-presidente. Por enquanto, digo eu, mas,
cá entre nós, é indubitável que a lama já bateu nos fundilhos de Lula e vai
subindo.
Por coincidência, dias atrás a Globo
News divulgou recente entrevista concedida por ele. Como sempre, Lula amparou-se
na insuperável arrogância e capacidade de mentir e distorcer fatos. Afirmou,
com irada veemência, que não há ninguém no Brasil capaz de provar que ele
participou ou sabia, de algum modo, de qualquer negociata praticada durante ou
depois de seu governo Lula é
inteligente, sagaz, finório, malandro velho, e estou a dizer o óbvio. Não
chegou de graça a presidente da república. Apesar da pouca escolaridade, fez
com que doutores lhe tirassem o chapéu e o reverenciassem. O fenômeno foi até compreensível.
O Partido dos Trabalhadores – PT, criado em fevereiro de 1980, surgiu pregando
a moralização política, e o apelo ético soou muito sedutor porque trazia à
frente a figura idealizada e romântica de um operário: um simples e humilde, com
aura messiânica, que despontava para libertar o Brasil da corrupção política e
atraso moral produzidos pelas graduadas raposas da república brasileira. Mas o
tempo, sempre senhor da verdade e da razão, aos poucos revelou a farsa. O PT
constituía um partido igual a tantos outros, só que muito mais capaz de
institucionalizar a corrupção como parte de seu projeto comunista de poder.
Para complicar ainda mais o quadro
para Lula, Dilma, PT e aliados, a Polícia Federal prendeu o senador Delcídio do
Amaral, do Mato Grosso do Sul, líder do governo no Senado Federal, por estar
agindo para obstruir as investigações da Operação Lava-Jato. O plano maligno
pretendia impedir a delação premiada de Nestor Cerveró, mediante a compra de
seu silêncio, conseguir sua liberdade junto ao Supremo Tribunal Federal e
fazê-lo fugir para a Espanha, via Venezuela, ou Paraguai, ou Uruguai. De quebra,
acabar com a Lava-Jato. A articulação encontra-se em gravação de posse da
Justiça, também disponível na internet. Nela, Delcídio Amaral trama a operação
com Bernardo, filho de Nestor Cerveró, e o advogado deste, Edson Ribeiro. Certa
altura, ao referir-se a Fernando Baiano, outro dos implicados no assalto à
Petrobras preso pela Justiça Federal, o senador o considerou autor de enorme
canalhice, por haver firmado acordo de delação premiada com a Justiça.
Vejam
a que leva a ausência de qualquer princípio moral: o senador considera
canalhice a delação dos crimes, e não os crimes praticados. A verdade é que, no
lodo em que se afundou a política brasileira sob o comando de Lula e Dilma,
nada mais surpreende, e o senador Delcídio Amaral é mais um retrato do petismo
corrupto e criminoso, a confirmar que nada é mais falso do que as aparências.
Diante
dos fatos que vão nos atropelando, já se petrificou a convicção de que as afirmações
de Lula de que nada sabia da corrupção que o cercava, tramada inclusive na sala
ao lado de seu gabinete presidencial, são infantis e risíveis, exceto se
considerarmos que se trata de um idiota pronto e acabado; um otário ingênuo e
útil às tramas sinistras que se teciam sob sua sombra. Só o mais cínico e
canalha dos petistas poderia insistir na tese de inocência de Lula, que quer é
salvar o pêlo, mesmo que ao preço de abater amigos e aliados.
A
gravação da tramoia pretendida é uma bomba cujos largos e completos estragos
políticos só os dias mostrarão. Além do mais, põe em cheque a honorabilidade do
Supremo Tribunal Federal, ao insinuar que alguns ministros seriam vulneráveis a
“conversas” particulares com Delcídio, Renan etc., com vistas à concessão de
habeas corpus a Cerveró, primeiro passo para sua fuga do país. Nesta altura, diante
de tudo que já foi revelado (e muito mais virá), haverá ainda quem, de boa-fé,
acredite na inocência de Lula e Dilma Rousseff? Ou que Lula não esteja no topo
da gigantesca pirâmide criminosa?
Atribui-se
ao naturalista francês Auguste de Saint-Hilaire (1779-1853) a frase: “Ou o
Brasil acaba com a saúva ou a saúva acaba com o Brasil”. Pois é, o lulopetismo é a nossa saúva
política. Que venham os dias de março.
Novembro de 2015.
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