Palestra proferida em 23 de junho de 2015,
no Centro de Letras do Paraná, na cidade de Curitiba.
Minhas Senhoras e meus
senhores,
Muito me alegra participar
deste encontro, o que, de imediato, me faz destacar os agradecimentos ao Centro
de Letras do Paraná e ao escritor Ney Perracini, que me transmitiu o gentil
convite.
Conforme divulgado, vou
falar sobre 'O limiar entre a realidade e a ficção na literatura artística'.
Há muitos anos, quando lancei
o romance ‘O moinho’ ouvi muitos comentários e o que mais me marcou foi aquele
proferido pelo poeta Laudemiro Telino de Lacerda que, à guisa de elogio, abriu
um carinhoso sorriso e disse: “Alexandre, você é o maior mentiroso que
conheço!”.
Colocado daquela forma, ele
tinha razão, pois, afinal de contas, muitos afirmam que a ‘Ficção’ é o gênero
literário das mentiras.
Para muitos, o nome diz
tudo.
A palavra latina
‘Fictionem’ significa o efeito de fingir, de simular. Ou seja, ‘Ficção’ é a
categoria literária das mentiras. Das invencionices verossímeis ou
inverossímeis, conforme o tamanho da impostura, mas, sempre mentiras.
E os romances, poemas,
contos, novelas, fábulas e, eventualmente, até mesmo, as crônicas (especialmente
aquelas contadas por pescadores) são perfilados no vasto reino dos fingimentos.
A arte de modo geral,
incluindo a literatura, nunca se preocupou em descrever a realidade tal como o
mundo a vê, mas em retratá-la como o artista a sente.
Para Aristóteles, “a arte
literária é a arte que imita pela palavra” e, dessa forma, a função do artista
não é retratar o que acontece, mas o que poderia ter acontecido. Nesta
perspectiva, a obra de arte não precisa ser o retrato fiel da realidade, mas
ter uma coerência interna que a faça assemelhar-se à verdade. E, assim, por
toda a história, a arte é considerada o universo dos sonhos e a literatura, em
especial a ficção, o gênero das mentiras.
Isso, no entanto, nem
sempre é bem aceito pelos escritores.
Numa crítica sutil,
Fernando Pessoa reagiu e, na primeira estrofe do poema ‘Auto-psicografia’,
esclareceu:
O poeta é um fingidor
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é
dor
A dor que deveras sente.
A dor sentida pelo artista
parece fingida aos olhos do expectador apenas por vir na carruagem da arte.
Pois é. No reino da
mentira, a verdade parece mentira.
Mas, o que é a mentira? O
que é a verdade?
Estaria mentindo a pessoa
que, sinceramente, chama de Ponte Velha a Ponte Noef, de Paris, que, todos
sabem, é a mais antiga daquela cidade? Ou [estaria mentindo] a pessoa que
repassa como verdade a informação inverídica que tenha recebido de alguém da
sua confiança?
Quem disse que o nome desta
maravilhosa cidade é ‘Curitiba’?
Por que não Paris?
Ora, uma convenção diz que
o nome é Curitiba e, assim, chamá-la de Londres é uma inverdade.
Mentira? Verdade? Pouco
importa.
O fato é que, vinda da
forma como os indígenas chamavam os pinheirais da região, o nome ‘verdadeiro’
desta bela cidade é Curitiba e pronto!
Assim, quem chamar esta
cidade de Paris ou de Londres não estará dizendo a ‘verdade’.
A documentação oficial
afirma que a atual ortografia de Curitiba foi estabelecida pelo então
presidente do Estado do Paraná, Affonso Alves de Camargo, que, em decreto-lei,
preteriu as antigas formas Curityba e Corityba em 1919 – uma data, observem,
que reflete o relógio do calendário romano, uma referência com alguma
instabilidade, pois foi reformulada pelo Papa Gregório em 1582. Isto quer dizer
que, se apontada com base em outro calendário – o islâmico, o judeu, o chinês
ou aquele que vem sendo estudado pela ONU – a data que fixou a atual ortografia
de Curitiba não seria 1919 e, sim uma outra.
Estaria faltando com a
verdade quem afirme que a forma de escrever Curitiba foi consagrada em 5.026 (e
não 1919)?
Em Curitiba, enquanto o
recifense sente frio, um europeu pode sentir calor. Estará mentindo o
recifense, que sente frio, ou o europeu, que sente calor?
Estarão mentindo os livros
de geografia e de história? Ou estarão apenas refletindo verdades e valores aceitos
em determinada época por comunidades específicas.
Nomes, datas, valores,
sentimentos e aparências refletem opiniões e convenções e se baseiam em conceitos
inconsistentes que podem mudar em função de referenciais e modas, nada
significando em ternos de verdade ou mentira.
O confronto da ficção com a
realidade é um tema muito instigante.
Vezes, sutil, vezes,
imperceptível, distinguir a ficção da realidade nem sempre é fácil.
Verdades desabrocham
mentiras e vice-versa;
boatos e opiniões
estabelecem verdades;
eventualmente, de tão
fantástica, a realidade se torna incrível;
interesses e conveniências
podem desmoralizar ou estabelecer verdades; razões sociais, comerciais e
diplomáticas afligem a sinceridade.
Minhas senhoras e meus
senhores,
Frase atribuída a [Friedrich]
Goebbels diz que “uma mentira dita mil vezes se transforma em verdade”. E, aí,
vem a pergunta: Se uma mentira pode se transformar em verdade, o inverso também
seria possível?
Quando as torres do World
Trade Center ruíram em 11 de setembro de 2001, abatidas, segundo dizem os meios
de comunicação, pela ação de fanáticos, muitas pessoas desconfiaram daquilo que
seus próprios olhos viam pela televisão.
“Isto não pode ser
verdade”, duvidaram muitos, em reação à realidade incrível – aquela na qual, de
tão fantástico, o fato parece irreal, embaralhando ficção e realidade numa
imagem turva. Por isso, filmes classificados como ‘mentirosos’ já perdem no
quesito fantasia para a realidade de certos documentários.
Pois bem. Naquele 11 de
setembro, o mundo mudou.
As torres desabaram e,
junto com elas, muitas verdades.
Naquele episódio, sobre um
vasto campo de verdades arruinadas, foram construídas realidades até então
impensáveis.
O borralho ainda fumegava
sobre escombros, estranhamente isentos dos sinais da morte e do sofrimento,
quando o mundo foi assaltado por um turbilhão de informações, desinformações,
boatos e censuras que construíram a verdade que prevaleceu na época. Ganharam
fama nomes até então desconhecidos, como Osama bin Laden e Taleban. Com o
respaldo da opinião publicada, de governantes intimidados e da irresistível
força das legiões de George W. Bush, em menos de um mês, julgado e condenado à
revelia por cumplicidade terrorista, o indefeso Afeganistão foi invadido e
ocupado.
Na seqüência, tendo por
base um rígido sistema de controle e manipulação da informação, novas verdades
foram construídas.
Devidamente cevada por
dados fornecidos pelo governo dos EUA, que se aperfeiçoava com maior
intensidade desde o 11 de setembro na gestão da informação, a mídia mundial nos
empanturrou com notícias sobre ‘perigos’ dos novos tempos, especialmente os
representados por Saddam Hussein – homem diabólico de mil faces – e pelo Iraque
– país que [embora sufocado por um severo embargo de mais de dez anos] estaria
levando adiante um programa de Armas de Destruição em Massa. E o Iraque,
acusado de pertencer, juntamente com a Coréia do Norte e com o Irã, a um
quimérico ‘Eixo do Mal’, berço do terrorismo internacional, também foi invadido
e ocupado pelas tropas norte-americanas. As Armas de Destruição em Massa que
justificaram a ação militar jamais foram encontradas, os vínculos do Iraque com
o terrorismo internacional jamais foram provados. Nem mesmo as dezenas de
sósias, que, segundo dizia a mídia, protegiam Saddam Hussein, apareceram.
Tudo fora fruto de uma mega
operação publicitária que iludiu a todos, construindo as verdades que
interessavam aos senhores da informação.
Ficção e realidade
intercambiam posições, construindo as verdades e as mentiras que movem o mundo.
E, no jogo das versões que
vêm a público, verdades e mentiras ocupam o mesmo espaço turvo construindo
realidades que, muitas vezes, passam longe do fato real.
Para compor a nova
realidade, são usadas técnicas antigas e novas de controle e manipulação da
informação. A definição do que é notícia, a forma de apresentá-la, a escolha e
a censura de temas e personagens, a forma de abordagem dos assuntos, a
intensidade, a abrangência e persistência da veiculação das mensagens são
algumas das técnicas usadas na modelagem e criação de novas realidades.
Fatos escolhidos
arbitrariamente dentro da realidade efetivamente verificada são apresentados de
forma fragmentada, com aspectos selecionados e descontextualizados,
re-ordenados de forma invertida, que contraria a relevância, papel e
significado, e, ainda, com partes reais substituídas por versões opinativas.
Palavras como liberdade e democracia foram usadas para designar cenários
convenientes aos controladores da palavra e a informação ganhou aplicação estratégica.
Do boato ao fato, apenas a
conveniência das convenções e o interesse daqueles que controlam as
informações. [Bernardo] Kucinsky chega a dizer que, nas redações, houve uma
rendição generalizada aos ditames mercantilistas ou ideológicos dos proprietários
dos meios de comunicações.
Vale dizer que as massas
sempre foram conduzidas pelas verdades que interessam aos poderosos e, na
construção destas verdades pouco importa o fato real.
A história mostra que
inocentes foram e são condenados por veredictos que, longe da justiça, apenas
traduzem a verdade oficial que interessa e convém às elites. Entre as vítimas
dessas verdades construídas, despontam, entre tantos outros, Jesus Cristo, que
teve a vida terrena ceifada na Cruz aos 33 anos de idade.
Minhas senhoras e meus
senhores,
Nestes tempos modernos,
regidos pelo fundamentalismo de mercado, a notícia deixou de ser um direito
social e passou a ser, como quase tudo, um bem mercantil, estando sujeita a
processos de comercialização como quaisquer outras mercadorias. Jornalistas
foram levados a uma nova ética e, em muitos casos, assumiram a condição de
assessores de imprensa – profissionais especializados em converter fatos,
jornalísticos ou não, em notícias e, portanto, em realidades sociais.
Muitos dizem que, se não
apareceu na mídia, o fato não ocorreu. Esta frase tomada pelo inverso afirma
que, se apareceu na mídia, o fato ocorreu. Assim, a mídia tem a chave da
construção e da desconstrução de realidades. Em função dessa capacidade, a
mídia encarna um poder equiparável às grandes religiões, subjugando,
substituindo ou induzindo ações e comportamentos. Não é a toa que se atribui à
mídia o Quarto Poder, nivelando-a aos poderes republicanos executivo,
legislativo e judiciário.
No ambiente mercantil, o
sonho de consumo criado pela propaganda também estabelece novas realidades. Com
efeito, a conjunção da mercantilização da notícia com a aplicação dos refinados
programas publicitários despertam sonhos de consumo em realidades arrebatadoras
que criam o ‘consumismo’ – eixo em torno do qual gira a sobrevivência do
sistema que, hoje, controla o mundo.
Vale dizer que, além de ser
usada como item indutor do consumismo, a notícia passou a ser um decisivo
elemento de controle social.
O noticiário e o comentário
correlato modula o comportamento geral, criando realidades que orientam as
conversas e indicam o caminho que costuma ser trilhado pela maioria. Não é sem
razão o caráter alienante de certos programas, confirmando o triunfo da
banalidade tratado por alguns como a ‘comunicação do grotesco’, que ocupa o
tempo das pessoas, afastando-as de coisas que possam levá-las a pensar sobre a
irrealidade da realidade que vivem.
Onde está a verdade? Onde
está a mentira? O que é fato? O que é boato?
O controle da informação e,
portanto, do esquema que permite construir verdades e definir a opinião pública
é uma peça central da estratégia militar, comercial e diplomática.
Ficção e realidade não
ocupam posições antípodas. Mostram, apenas as duas faces da mesma moeda.
Minhas senhoras e meus
senhores
Vale lembrar que este
fenômeno não é recente. De fato, embora mais evidente na atualidade, a
construção de realidades psicológicas vem de longas datas e apenas ganhou
impulso com o aperfeiçoamento das modernas técnicas de propaganda e
comunicação.
No segundo período da
história do pensamento grego, no século IV a.C, também conhecido como o Período
Antropológico pela importância que atribuiu ao homem e ao espírito inaugurando
uma nova fase na história da compreensão dos fenômenos, Demócrito (460-370
a.C.) contestou Protágoras (defensor de que todas as sensações eram igualmente
verdadeiras para o objeto sensível) e afirmou que todas as sensações são
falsas, pois não têm contrapartida real fora do objeto sensível. Fundamentando
seus ensinamentos, Demócrito distinguiu aquilo que é ‘Convenção’ (nómos), ou
seja, fruto de uma opinião e de um acordo entre os homens, daquilo que é
‘Natureza’ (phýsei).
"Por convenção – disse
ele –, há o doce, o amargo, o quente, o frio, a cor... as nossas sensações não
representam nada de externo, apesar de serem causadas por algo fora de nós...
Esta é a razão porque a mesma coisa às vezes dá a sensação de doce e às vezes
de amargo... nós, na verdade, não conhecemos nada de certo, somente que as
coisas mudam de acordo com a disposição do corpo e com aquilo que nele penetra
ou lhe opõe resistência [por isso] não podemos conhecer a realidade, pois, a
verdade jaz num abismo".
Com esta linha de
pensamento, Demócrito foi o precursor da lógica dialética, retomada no século
XVIII por [Friedrich] Hegel (1770 - 1831), adotando um ritmo ternário com duas
teorias contrárias (tese e antítese) que se conciliam fundindo-se numa síntese
superior. Demócrito, seus discípulos e adeptos, entre os quais Parmênides e
Leucipo, foram pródigos em proclamar que não há verdade absoluta.
Sob este ponto de vista, o
gênero ‘Ficção’ ganha outro sabor, pois mentira e verdade perdem a linha
divisória rígida.
Minhas senhoras e meus
senhores,
Será que, depois disso
tudo, há limite entre a verdade e a mentira no mundo da arte?
Pablo Picasso afirmou que
“a arte é uma mentira que revela a verdade”. Afrânio Coutinho foi mais adiante
e afirmou que “a literatura, como toda arte, é uma transfiguração do real...
Passa, então, a viver outra vida, autônoma, independente do autor e da
experiência da realidade de onde proveio. Os fatos que lhe deram às vezes
origem perderam a realidade primitiva e adquiriram [uma] outra, graças à
imaginação do artista”.
Desdenhando questiúnculas
sobre verdades e mentiras, a arte faz sua própria realidade.
E aí, onde estará a mentira
e a verdade? Será que existe uma verdade? Ou a realidade se reflete em
múltiplas verdades e, tomando seu inverso, em múltiplas mentiras?
O tema não é simples.
Pouco se lixando para a
questão da verdade, alguns chegam a questionar a própria realidade. Alguns
cientistas modernos admitem a possibilidade de que a própria realidade não
exista e – como no filme Matrix produzido em 1999 pelos irmãos [Andy e Larry]
Wachowski – nossa existência seja apenas uma simulação de computador. Ainda em
1868, o naturalista Thomas H. Huxley comparou o mundo com um tabuleiro de
xadrez e, associando as peças aos fenômenos do universo e as regras às leis da
natureza, afirmou que “o jogador no outro lado está oculto a nós". Este
modo de ver a existência humana fez muitos adeptos. Em fins dos anos 60, Konrad
Zuse – o cientista alemão responsável pela construção dos primeiros
computadores eletromecânicos programáveis e que desenvolveu a primeira
linguagem de alto-nível para computadores – sugeriu que todo o Universo faz
parte de entranhas lógicas de um computador ‘autômato celular', cujo conceito,
criado pelo matemático húngaro John von Neumann nos anos 40, tem como base a
idéia de sistemas lógicos auto-reprodutores e, assim, imitam a própria vida.
Para os que questionam a
realidade, claro, não há sentido falar em verdade e ficção, mas, graças a Deus,
o mundo existe e há uma realidade.
Mas, essa realidade não
obedece a padrões rígidos, pelo contrário. A realidade varia de acordo com as
pessoas, as convenções, épocas e lugares. Não há, portanto, um reino da ficção
e um reino das verdades. Ficção e verdade ocupam o mesmo reino e alimentam o
imaginário das pessoas.
Nesta nova perspectiva, a
Ficção não é composta apenas pelos ficcionistas, mas, também por todas as
pessoas que exprimem o mundo. As estórias são histórias e as histórias são
estórias. Os enredos são roteiros de vida e vice-versa. Os protagonistas e
antagonistas são seres bons ou maus conforme a vida a ser vivida.
Às vezes, a impossibilidade
ou inconveniência da comunicação direta, leva algumas pessoas, especialmente os
artistas, a recorrem a certos tipos de 'mentira', como a ironia e a ficção,
para dizer coisas importantes.
Mas, toda esta aparente
inconsistência tem conseqüências.
Neste ponto, vale lembrar
José Américo de Almeida, para quem “há muitas formas de se dizer a verdade [e]
talvez a mais persuasiva seja a que tem forma de mentira”. Esta observação
insinua o viés político da literatura artística, pois, especialmente, através
de textos abertos com a mensagem "esta é uma obra de ficção e qualquer
semelhança com acontecimentos ou pessoas vivas ou mortas terá sido mera
coincidência", os escritores dizem verdades que dificilmente poderiam ser
ditas de outra maneira.
Muitas vezes, inclusive,
para além do entretenimento, obras de ficção objetivam a denúncia de situações,
a apresentação ou a defesa de modelos e a propaganda de ideias, fincando
posição no universo movediço da política. Que o digam os regimes e governantes
afetados em diversos graus de severidade por obras como '1986' ou 'Animal
farm', de George Orwell, 'A Queda de Paris', de Ilya Ehrenburg, ou mesmo 'O
moinho', de minha autoria.
Com efeito, nem sempre uma
verdade conta verdades e, na visada inversa, nem sempre uma mentira conta
mentiras. Esta observação fica mais clara ao ouvirmos as versões sinceras de
pessoas sinceras que se enfrentam - em acidentes de trânsito ou em querelas
entre vizinhos, por exemplo -, quando contam verdades que formam versões diferentes.
Além de questões
conceituais - que, em alguns casos, chegam a misturar posições aparentemente
antípodas -, há uma infinidade de posições intermediárias, que envolvem
meias-verdades e meias-mentiras em diversos graus, intercambiando e combinando
pedaços de verdade com pedaços de mentira para manipular dados, dosar
informações e compor opiniões segundo conveniências e interesses.
Aliás, autores de diversas
Escolas e em diversas épocas levantam dúvidas sobre o significado dos
conceitos, levando muitos a duvidarem se existem verdades e mentiras, como se o
conjunto fizesse parte de um grande jogo no qual, tomando por base um
caleidoscópio que muda ao longo do tempo conforme o lugar, nós, pobres mortais,
figuramos apenas para proporcionar satisfação a outros, cuja natureza e
dimensão varia em função de crenças e dogmas.
Como costuma ser de leitura
mais fácil do que outros textos - e, além de atingir públicos maiores, não
obedecer rigores acadêmicos, não portar compromissos evidentes, não precisar
justificar teses ou enfrentar adversários ideológicos [pelo menos nos primeiros
momentos] -, a ficção literária parece elemento de propaganda ou
contrapropaganda bem mais eficaz do que os ensaios específicos.
Naturalmente, para exercer
influência, como qualquer outro texto, a ficção literária precisa ser lida.
Acontece que, inserida no vasto campo da palavra escrita - embora normalmente
menos visada por assumir-se abertamente como 'literatura mentirosa' -, os
textos ficcionais também enfrentam a barreira imposta à leitura pelo status
quo, que tem na ignorância das massas estufa, plataforma, trampolim e elemento
de conquista e preservação do poder. De qualquer forma, uma vez lida, cedo ou
tarde, mesmo quando escrita nas entrelinhas, a eventual mensagem embutida na
ficção vem à tona e produz efeitos políticos.
Esta é a razão de muitos
livros de ficção sofrerem censura.
Ninguém duvida que, sob o
manto da fantasia, os textos trazidos pelos livros de ficção possam embutir
verdades e, nessa condição, tornarem-se elementos de importância política.
Por isso, quem tiver medo
da verdade deve começar a ter medo dos livros que contam mentiras.
E fica a grande dúvida
sobre onde termina a mentira e começa a verdade ou, ainda, onde termina a
verdade e começa mentira.
Muito obrigado!!!
Nenhum comentário:
Postar um comentário