Funeral
Cardoso Filho
Tempos atrás, escrevi que Dilma Rousseff já era um cadáver
político. Faltava fechar o caixão. Pois bem, o funeral está próximo de
acontecer. E, dado curioso, me assalta uma certa tristeza. Não aprecio
tragédias e lamento que a primeira mulher eleita para presidência do Brasil esteja
terminando a carreira de forma tão melancólica. Menos mal que sua condição
feminina nada tem a ver com o fracasso. Com certeza, dispomos de mulheres
capacitadas a comandar o País. Haveremos de ter nossas Ângelas Merkel e Margarets. Thatcher Tivemos foi a má sorte
de a escolha ter sido feita por Lula, o mago das trevas.
Lula quis, para sucedê-lo, alguém sem expressão política
que pudesse lhe fazer sombra, lhe permitisse continuar mandando no País por
trás dos panos e, findo o mandato da marionete, esta se recolhesse à
insignificância de origem e lhe abrisse caminho para concorrer a nova eleição presidencial.
Deu tudo errado. Dilma não aceitou deixar de concorrer à reeleição, meteu os
pés pelas mãos e Lula deve chorar, hoje, lágrimas amargas pela empulhação que
enfiou na goela dos que acreditaram no embuste. Dilma Rousseff, sua criatura,
implodiu o governo e levou de roldão o Partido dos Trabalhadores (PT).
Sejamos justos,
porém. Ela não merece responder sozinha pela tragédia. A obra pertence também,
e principalmente, a Lula. Dilma Rousseff é, por ora e pela circunstância de
estar no poder, o símbolo maior do desastre. Mas por que a morte solitária?
Lula tem de acompanhá-la no óbito político. O mal que o PT, sob o comando de
ambos, mais dele do que dela, cometeu ao Brasil não pode ser esquecido e jamais
perdoado. Se esquecermos o terrível equívoco, fantasmas malignos voltarão a
assombrar-nos em futuro próximo.
Nesta altura e apenas a título de argumentação,
vale a indagação singela: o que causou a derrocada petista? As esquerdas
bradarão, eternidade afora, que as forças conservadoras e reacionárias – as
elites, os ricos, a burguesia, os banqueiros etc. –, contrárias ao progresso
social dos pobres, foram as responsáveis. Argumento gasto e imprestável como a
ideologia que elas perseguem com cegueira e idiotice históricas e tragicamente
danosas à liberdade e busca da felicidade dos homens. A verdade, só negada por
fanáticos imunes aos fatos e à razão, é que o governo petista foi tragado por
seus próprios crimes e incompetência. A derrota, como um suicídio, nasceu
dentro de si mesmo. Desde o primeiro governo de Lula, o PT partiu para o jogo
pesado, apostando tudo no chamado aparelhamento do estado e no aliciamento de
parlamentares mediante subornos, com vistas à execução de seu ilícito projeto
de poder, que excluiria a alternância de governantes e, mais adiante, a própria
democracia. Nessas manobras bandidas, arrecadou fortunas para seu caixa e para
o caixa os dos partidos aliados, além, é claro, para os bolsos dos
companheiros, por meio do saqueamento de empresas estatais e fundos de pensão.
A par disso, torrou dinheiro que o estado não tinha e prometeu o que não podia
cumprir, para garantir a reeleição de Dilma Rousseff, no mais escandaloso caso
de trapaça eleitoral.
No fim de tudo, viu-se que o PT se resumia à corrupção e
ao populismo tapeador de ingênuos e simples, orientado no rumo proposto pelo
teórico comunista Antonio Gramci de comer a democracia por dentro em busca do sonhado
estado comunista, e nesse passo e propósito uniu-se à escória latino-americana
aglutinada no chamado Foro de São Paulo. Não contava com a Operação Lava-Jato,
que começou com uma investigação menor em um posto de gasolina em Brasília e,
de repente, como que por acaso, rompeu os diques de um mar de lama no qual o
petismo se afundou. Suponho que, aí, houve a mão de Deus a nos dar mais uma
chance de regeneração. A grande oportunidade foi oferecida; o mais corre por
conta dos brasileiros de bom juízo.
Maio de 2016.
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