Sem negócio com o Diabo
Cardoso Filho
Conto,
entre amigos, com um petista (talvez haja outros, mas, se houver, é certo que
se camuflaram sob o constrangimento moral). Temos mantido um diálogo
democrático e civilizado sobre o Brasil, cada um defendendo seu ponto de vista.
Interessante que, certa altura, ele escreveu em um e-mail uma frase que acabou
adotada como mote humorístico entre os demais amigos: “Deixem a Dilma
trabalhar”, como se alguém tivesse a intenção de impedi-la de cumprir o dever
de bater ponto no Palácio do Planalto. Trabalhar, e muito, é dever primário de
alguém que pretenda governar um país complexo como o nosso. E fazer benfeito é
também obrigação. Não é o caso de Dilma Rousseff, está claro. Afirmar que trabalhou
mal será pouco para dar a medida certa a seu trabalho. Correto dizer que a
qualidade foi péssima. Errou gravemente no campo econômico, no campo social e
no campo das relações internacionais. Mas merece a ressalva de que os erros que
se mostraram na plenitude em seu governo tiveram origem nos dois períodos do
governo Lula. Dilma deu continuidade ao que de errado vinha sendo feito,
aprofundou as besteiras e o resultado é que o carro Brasil capotou. Errar é da
natureza humana, mas imperdoável é errar por má-fé, e os escândalos revelados
pela Operação Lava-Jato dizem exatamente isto: os governos petistas promoveram,
além do populismo irresponsável e eleitoreiro e um esquerdismo de galinheiro, a
maior roubalheira de que se tem notícia na história política do Brasil e do
mundo, título que nos cobre de vergonha e humilhação perante as nações
civilizadas.
Pois outro amigo viajou para a Europa
dias atrás. Não é a primeira vez. De lá, mandou-me uma mensagem amarga. Relatou
que, se antes o Brasil era visto no estrangeiro como um país alegre, de belo
futebol e carnaval e que emergia do Terceiro-Mundo como uma nova potência,
hoje, ao contrário, é considerado uma terra de malandros, relapsos, preguiçosos
e devastadores do meio ambiente, dominada por uma esquerda retrógrada e
irresponsável. Uma republiqueta! Por vezes, completa ele, chega-se a ter
vergonha de declinar nossa nacionalidade.
Eis a que fomos levados pela
devastação petista! E vem a questão inevitável: será admissível continuarmos com
Dilma Rousseff na presidência da república, se houver fundamento legal para
retirá-la do cargo? Supondo que sim, duas outras razões reforçariam a medida:
para continuar a governar o Brasil na situação em que o país se encontra,
mergulhado em gravíssima crise econômica e em meio à turbulência que a Operação
Lava-Jato vai provocando, a presidente necessitaria de competência e força
moral e política, atributos que Dilma não possui. Outra razão diz respeito ao
fato de que, já que o brasileiro terá de sofrer de qualquer modo os prejuízos
causados pelos governos predatórios do PT, como a inflação que já produz seus
efeitos perversos no bolso do trabalhador, o sacrifício será até aceitável
desde que sem Dilma no poder e signifique o fim da maldição petista. Intragável
seria pagar a conta, salvar o mandato da presidente e correr o risco de abrir
caminho para a volta de Lula em 2018. Dilma não disse, e provou, que o PT faz o
diabo para ganhar eleição?
Pois
é. Não se negocia ou transige com Satã e seus comparsas.
Setembro de 2015.
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