Exemplo platinense
Cardoso Filho
Fosse
nos antanhos, a notícia talvez não atravessasse a ponte do rio Jacaré, ou a do
rio das Cinzas. Hoje, porém, o mundo é uma aldeia e as notícias voam e chegam a
toda parte na instantaneidade da internet e suas redes sociais. Foi por esse
caminho que minha conterrânea Adriana Oliveira adquiriu, num zás-trás, notoriedade
nacional, ao liderar mobilização popular que impediu os vereadores de Santo
Antônio da Platina de dobrar os próprios subsídios e o do prefeito, para a
próxima legislatura. Sem entrar no mérito se vereador deve ou não ser
remunerado, ou se, no caso, ganham muito ou pouco, importa que o povo
platinense fez valer sua vontade e Adriana foi a voz que arregimentou e canalizou
uma energia que, sem sua iniciativa, teria se dispersado em críticas isoladas e
murmuração, sem ressonância e consequência.
O episódio ilustra bem os novos tempos.
A internet mudou o mundo, ao dar a rapidez do relâmpago às comunicações e espantosa
força às mobilizações populares, ainda que nem sempre para o bem. O lado bom é que o povo ganhou voz e
capacidade de aglutinar-se rapidamente, para lutar pelo que considera certo e
justo. Além do mais, o ocorrido em Santo Antônio da Platina reafirma uma
verdade crucial: político teme o clamor das ruas. Pressionado, ele age, se
mexe, se explica, se corrige, e o que vale para o âmbito municipal vale para o
estadual e federal. Também lá em cima, nas altas esferas, os homens tremem
diante do rugido das massas. Infelizmente, o contrário é igualmente verdadeiro:
o silêncio e a passividade do povo abonam-lhes os desvios de conduta, a omissão
e o descaso, males que conhecemos e pelos quais vamos pagando caro.
Hoje, portanto, a democracia se
expressa com muito mais efetividade e vigor por meio da comunicação cibernética
do que pelo voto. Este silencia na urna como se morresse, sem voz de cobrança,
enquanto a internet permite a pronta manifestação e mobilização da opinião
pública a respeito de temas de interesse geral.
Na esteira disso tudo, vem aí o 16 de
agosto, um domingo. Nova manifestação popular está sendo convocada pela
internet, em protesto contra os desmandos praticados pelos governos do Partido
dos Trabalhadores – PT, traduzidos em recessão econômica, desemprego, inflação
em disparada e a corrupção astronômica que horroriza o País. Mais uma vez, é
preciso o brado das ruas, mais forte do que nunca, em apoio ao combate aos
ladrões da Pátria. O silêncio é cúmplice da impunidade. Mas falo em horror e faço
um alerta: nosso horror corre o risco de se relativizar. Os números espantosos
da corrupção, de tão repetidos no noticiário, podem perder a força de
expressão, a força de impacto. O sujeito ouve ou lê as cifras, acostuma-se com
os números escabrosos e mal avalia o que representam, a ponto de considerar
dois, três milhões de reais como desprezível dinheiro de troco. Afinal, que são
alguns milhões num universo de bilhões, não é mesmo? E se os números perderem o
poder de afrontar, ficará mais fácil engolir a tese criminosa de que a
corrupção é coisa antiga neste Brasil malandro, faz parte do jogo, sem ela não
tem obras, o país não constrói e não cresce. Um pecado a ser remido com três ave-marias
e um pai-nosso.
Julho de 2015.
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