sexta-feira, 3 de julho de 2015

Raiva

Raiva


Cardoso Filho
Leio, aqui e ali, jornalistas alinhados com o Partido dos Trabalhadores – PT, fazendo coro a Lula, dizerem que a oposição ataca raivosamente o governo de Dilma Rousseff, o raivosamente a significar ódio, ressentimento dos derrotados nas eleições, maldade. Mas raivoso tem outros significados. Por exemplo: sensação de repugnância, de aversão, e aqui chegamos a um acordo. De fato, milhões de brasileiros reagem aos erros e crimes cometidos pelo PT exatamente com isto: repugnância. E cabe a pergunta: os petistas querem o quê?
          Esse partido, lá atrás, em sua origem, trazia um sonho bonito: prometia ser o partido político da ética e da moralidade, valores de uma escassez de deserto nesta desditosa república, e o canto seduziu a muitos. Águas rolaram, o partido chegou ao poder com Lula, e aí se iniciou a derrocada. Pouco a pouco, mostrou sua essência verdadeira. Nada de ética e moralidade. Apenas a sede de perpetuação no poder, não importando os meios, mesmo ilícitos, para atingir o objetivo. Vieram os escândalos de corrupção. Primeiro, o mensalão, destrinchado pela Justiça que mandou para a prisão figurões do partido; agora, o petrolão, que a mesma Justiça vai escarafunchando e expondo a podridão que tomou conta, como nunca antes, do estado brasileiro. Este é o quadro atual. Pois bem. Vamos ao brasileiro tomado de ira. Como poderia se sentir de outro modo? Como deveria reagir à realidade brasileira, enegrecida pelo desgoverno petista, em especial o de Dilma Rousseff, que não com indignação e repugnância veementes e, às vezes, com o extremismo de quem não suporta mais a bandalheira e a irresponsabilidade escancaradas?
          Lula e seguidores, em autodefesa, percebendo que o chão lhes vai fugindo e o laço aperta, esperneiam. Precisam desesperadamente recuperar o feitiço quebrado. Na falta de argumentos, recorrem a surrados motes: os outros, os que se opõe às diabruras do PT (e hoje serão mais de 80% dos brasileiros, segundo recentes pesquisas) formam a elite raivosa que reage contra o avanço social dos pobres, como se a casta dirigente do PT defendesse alguma coisa além da grana grossa para o próprio bolso e tudo o que o capitalismo possa lhes oferecer de luxo e conforto. E vão cunhando expressões que buscam desqualificar a reação do brasileiro indignado: varanda gourmet, coxinha etc., etc. Nós, os outros, somos o burguês que não quer a ascensão econômica do pobre e nem dividir com este aeroportos e aviões; somos o branco que se opõe ao negro, o patrão que explora o empregado, e seguem nessa toada de pregação de ódio e conflito social, apostando no caos salvador.
          Há mais, para açular a raiva do brasileiro: as asneiras das falas da presidente Dilma Rousseff, departamento em que é imbatível. Já virou folclore. Triste, mas folclore. Quando não diz bobagens em estado puro – mandioquices e que tais – ou coisas incompreensíveis formuladas em condições de turbulência mental, faz como em entrevista recente à imprensa, no Estados Unidos: em alto e bom som, cara feia, roncando grosso, disse que não respeita os delatores da Operação Lava-Jato. Uma grosseria verbal injustificável. Pode-se, no íntimo, gostar ou não dos delatores, por força da posição de cada um em relação aos crimes delatados. Ou, na solidão e mudez de um quarto, não respeitá-los, mas o instituto da delação premiada, instrumento legal dos mais eficazes para combater crimes complexos, precisa ser acatado. Sábio teria sido a presidente aguardar o frigir dos bolinhos. Numa dessas, poderá ter de enfrentar as verdades surgidas nas delações e, quem sabe, enfiá-las goela abaixo junto com o desgosto e desrespeito aos delatores.
          A raiva se justifica, conforme visto.
           

Julho de 2015.

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