Raiva
Cardoso Filho
Leio,
aqui e ali, jornalistas alinhados com o Partido dos Trabalhadores – PT, fazendo
coro a Lula, dizerem que a oposição ataca raivosamente o governo de Dilma
Rousseff, o raivosamente a significar ódio, ressentimento dos derrotados nas
eleições, maldade. Mas raivoso tem outros significados. Por exemplo: sensação
de repugnância, de aversão, e aqui chegamos a um acordo. De fato, milhões de
brasileiros reagem aos erros e crimes cometidos pelo PT exatamente com isto:
repugnância. E cabe a pergunta: os petistas querem o quê?
Esse partido, lá atrás, em sua origem,
trazia um sonho bonito: prometia ser o partido político da ética e da
moralidade, valores de uma escassez de deserto nesta desditosa república, e o
canto seduziu a muitos. Águas rolaram, o partido chegou ao poder com Lula, e aí
se iniciou a derrocada. Pouco a pouco, mostrou sua essência verdadeira. Nada de
ética e moralidade. Apenas a sede de perpetuação no poder, não importando os
meios, mesmo ilícitos, para atingir o objetivo. Vieram os escândalos de
corrupção. Primeiro, o mensalão, destrinchado pela Justiça que mandou para a
prisão figurões do partido; agora, o petrolão, que a mesma Justiça vai
escarafunchando e expondo a podridão que tomou conta, como nunca antes, do
estado brasileiro. Este é o quadro atual. Pois bem. Vamos ao brasileiro tomado
de ira. Como poderia se sentir de outro modo? Como deveria reagir à realidade
brasileira, enegrecida pelo desgoverno petista, em especial o de Dilma Rousseff,
que não com indignação e repugnância veementes e, às vezes, com o extremismo de
quem não suporta mais a bandalheira e a irresponsabilidade escancaradas?
Lula e seguidores, em autodefesa, percebendo
que o chão lhes vai fugindo e o laço aperta, esperneiam. Precisam
desesperadamente recuperar o feitiço quebrado. Na falta de argumentos, recorrem
a surrados motes: os outros, os que se opõe às diabruras do PT (e hoje serão
mais de 80% dos brasileiros, segundo recentes pesquisas) formam a elite raivosa
que reage contra o avanço social dos pobres, como se a casta dirigente do PT
defendesse alguma coisa além da grana grossa para o próprio bolso e tudo o que
o capitalismo possa lhes oferecer de luxo e conforto. E vão cunhando expressões
que buscam desqualificar a reação do brasileiro indignado: varanda gourmet,
coxinha etc., etc. Nós, os outros, somos o burguês que não quer a ascensão
econômica do pobre e nem dividir com este aeroportos e aviões; somos o branco
que se opõe ao negro, o patrão que explora o empregado, e seguem nessa toada de
pregação de ódio e conflito social, apostando no caos salvador.
Há mais, para açular a raiva do
brasileiro: as asneiras das falas da presidente Dilma Rousseff, departamento em
que é imbatível. Já virou folclore. Triste, mas folclore. Quando não diz
bobagens em estado puro – mandioquices e que tais – ou coisas incompreensíveis
formuladas em condições de turbulência mental, faz como em entrevista recente à
imprensa, no Estados Unidos: em alto e bom som, cara feia, roncando grosso,
disse que não respeita os delatores da Operação Lava-Jato. Uma grosseria verbal
injustificável. Pode-se, no íntimo, gostar ou não dos delatores, por força da
posição de cada um em relação aos crimes delatados. Ou, na solidão e mudez de
um quarto, não respeitá-los, mas o instituto da delação premiada, instrumento
legal dos mais eficazes para combater crimes complexos, precisa ser acatado. Sábio
teria sido a presidente aguardar o frigir dos bolinhos. Numa dessas, poderá ter
de enfrentar as verdades surgidas nas delações e, quem sabe, enfiá-las goela
abaixo junto com o desgosto e desrespeito aos delatores.
A raiva se justifica, conforme visto.
Julho de 2015.
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