quinta-feira, 11 de fevereiro de 2021

Ê T A, B I C H O L E V A D O!

                                                                         Ê T A, B I C H O   L E V A D O! 

                                                   Anita Zippin

Êta, bicho levado!

Chegou, viajou muito, fez turismo, percorreu todos os países em tempo recorde e, não quer ir embora.

Vem com ar de novidade, recebe o nome feio de Covid19. 

Já deveria ser Covid20, Covid21, mas resolveu aceitar o título que lhe deram. Vai que tem um mais bonito para tanta maldade.

Peludo! Ou será cheio de pontas? Redondo já chega repleto de manias. Gosta, não gosta, quer, não quer; até parece que vai reinar por muito tempo.

A gente demora anos para descobrir o que os filhos gostam ou não gostam. Maridos, então? Nem falar. Estes são bons, mas vem de outra formação. Tem gente que leva a vida inteira tentando agradar seu companheiro, ou companheira e, quase nunca acerta. 

Mas este bicho levado, que já está há um ano por aqui. A gente sabe tanto, mas tanto ! E a mídia, voltou-se inteira para ele; o dia inteiro nas manchetes:

Ele gosta de abraço. De beijinho, então? Deve se sentir muito bem. 

E tosse, então? Fica o bicho na torcida, mais tosse, mais tosse. Tomara que com muita gente ao redor.

Frio é sua estação preferida. Mas em sua viagem pelo mundo, gostou de tudo. Até do imenso calor da África.

Contam que não gosta de álcool líquido. Tem de ser em gel . As garrafas e mais garrafas tomadas por aí, parece que não o assustam, pelo contrário. Quanto mais gente a comemorar, mais tempo ele irá ficar. 

E que chato! Não abandona os idosos. Parece que nunca teve mãe, pai, ou avós? Gruda com todas as forças nestas pessoas e, quanto mais cabelos brancos, mais ele quer conhecer, dar trabalho e, quem sabe, ficar até esgotar a energia dos coitados que tem pouco tempo de vida.

Ele adora festa, aglomeração. Mas, como castigo, já que veio num carnaval e saiu dançando por aí, desta vez não terão os tradicionais. Sei, entendi muito bem! Já está de olho nas fantasias em festas clandestinas. Ah, vai querer ser um pierrô? Ou uma colombina? Azul ou rosa? Menino ou menina? Pelo seu mau  humor, nada combina.

Detesta gente que fica em casa. Ah! Estes nem recebem sua visita. Tem pavor de pessoas isoladas. Pode ser porque vão ficando tristes, de mal com a vida, ou até ficam rezando para que  o bicho vá embora de uma vez.


Adora passear pelas ruas de todas as cidades e, como a brisa voa e não deixa as pessoas enxergarem onde ele está a passar. Percorre  todos os lugares abertos, fechados e gosta mesmo de ônibus lotado, de  hospital sem leito, de idoso sem poder respirar. Ah! Isto sim, é a glória. Parece até que bate palmas quando vê as covas rasas a levarem gente que ele visitou e agora estão numa lista enorme a receber o adeus. Lágrimas dele? Só se for de crocodilo.

Se o bicho escolhe quem levar primeiro? Tal qual produtos que usam contra ele, que chamam de vacinas, vai quem estiver pela frente. Não respeita família, posição social, importância da pessoa na sociedade, se é um artista, um escritor. Seja o que for, passa o dia e a noite ávido por mais vítimas. Mil? É pouco! Adora quando contam que foram 220.000, ou 400.000 de uma cidade com nome de santo, parece que São Paulo. Gosta tanto,  que é capaz de ir às igrejas ser conhecido. Basta que tenham vontade de olhar para o alto. Enquanto estão lá com suas bíblias e músicas, os sinos badalam por mais vítimas que ele deu causa, vai entrando disfarçadamente, sem deixar vestígios. E, como se sente bem!

Ah! Lembrando mais uma vez do carnaval, apareceu do nada  e exige de todo mundo máscaras. Bonitas, feias, grandes, pequenas, coloridas, lisas. Não importa. Pensa que o mundo é um grande baile de máscaras, como o famoso Baile em Veneza. Em vez de alegria, tristeza. 

Batom, maquiagem, mulheres belas? Está nem aí. Bonita ou feia caiu na rede, é peixe!

Etâ bicho levado!

Agora fazem filmes e livros sobre você e, nem vê, tampouco lê. Vaidoso!

Veio para incomodar. 

Irá embora um dia?  Daqui a 20, 30 anos, ou mais.

Por enquanto, receberá umas cócegas na barriga; vacinas fraquinhas que nem o afastam. Mas, fica meio assustado com outras que ainda podem chegar. Umas tem só perfume que ele não gosta. Outras? Quem sabe, quem sabe. 

Até lá, deita e rola! Ri e nunca chora.

Ama a desgraça alheia.  Vai e vem onde tem vontade. É o comentário do século e fica todo garboso, com o peito cheio de pelinhos, vira uma bolinha redonda de tanta alegria.

Êta, bicho levado!

Tomara um dia saia do nosso lado!

Por enquanto, vamos conviver. Você lá e eu cá. 

Como diz marchinha de carnaval: 

“Neste ano, tá combinado. Nós vamos pular separados”.

Xô, bicho levado!

(Anita Zippin, advogada, jornalista, Presidente da Academia de Letras José de Alencar e  membro do Observatório de Cultura do Paraná)


2 comentários:



  1. Parabéns pelo texto, Anita Zippin. É poético, leve e ao mesmo tempo bastante instrutivo. Vou compartilhar o link.

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  2. Especial, importante, letrada , generosa fam[ilia Zippin, e ANITA, ~mulher brasileira em primeiro lugar...~e muito mais.

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