A pessoa idosa turista
Viajar é o sonho daqueles que se aposentam. Muitos vivem
trancados em lojas, fábricas ou escritórios chegando aos tempos de poder sair
em longas viagens com vontade de ver tudo e que deixaram de conhecer pelo mundo
afora.
Quando somos crianças as viagens têm os cuidados dos pais.
Roteiros profissionais contam, ainda que precariamente, com a ajuda dos
contatos distantes. Em muitos casos a vida profissional é um excelente
aprendizado. Foi suficiente? E as cidades diferentes? As inovações? O
crescimento espantoso da Humanidade? Novas taras e vícios?
Nunca estaremos plenamente preparados para enfrentar lugares
distantes. O pesadelo ou alegrias será função da competência pessoal, da forma
de viajar, como sairemos de nossos ninhos, onde iremos, quando, quanto tempo,
com quem, saúde, mobilidade, acessibilidade, assistência clínica etc. e agora
não ser confundido com fanáticos até do esporte ou cruzar com eles virando
notícia.
Note-se que não existe e nunca haverá um padrão 100% seguro,
bom e amável para ir longe.
Mundo de grandes cidades cria ambientes em que a
probabilidade de cruzar com pessoas superagressivas cresce sempre, isso sem
falar das inúmeras formas de ficar doente.
No passado as viagens tinham talvez mais riscos, ou muito
mais. Eram, contudo, privilégios de gente em situações extremas. As muito ricas
e poderosas em condições de equiparem-se para tudo e as mais pobres,
acostumadas a qualquer rigor de tratamento.
Estivemos, eu e minha esposa, na França no seu outono de
2017. Arriscamo-nos a programas de custo classe média e à aventura de não usar
empresas de turismo em viagens e passeios audaciosos.
Editando filmes, fotografias, criando reportagens e
engordando blogs agora conseguimos pensar melhor e até lembrar que tivemos
muita sorte, apesar de passearmos por um país que conhecemos relativamente bem,
mas sempre escondendo (para nós) lugares especiais, ou srja, um casal de
pessoas idosas para a aventura e testando limites.
É fácil atualmente saber previamente um pouco mais, ou muito
mais de roteiros distantes. O que é chato é que ninguém diz tudo. Na
preocupação de se vangloriar (inclusive com os famosos selfies) das
experiências “maravilhosas”, vendo e ouvindo programas midiáticos, podemos cair
em ambientes não muito amistosos ou simplesmente fazer confusões incríveis.
Pessoalmente gosto muito de usar o transporte coletivo
urbano, aqui e em Paris, lá no Metrô quando o tempo é ruim e é importante a
rapidez. Nessa última viagem realmente vi Paris descendo e entrando em inúmeras
estações erradas (visão e audição reduzidas além de raciocínio mais lento).
Algumas situações hilariantes eu me divertia contando-as à minha esposa, que
preferia mais cautela e cuidados quando saia comigo.
E o dinheiro?
Parece que não gostam de dinheiro, só cartão de crédito ou
bancário.
Passaporte? É importante até para dizer que apesar das
aparências você é você, mas perde-lo será um desastre.
Esqueceu de validar tickets? Sue frio até chegar em “casa”.
E nos hotéis de cidades mais velhas? Paris, por exemplo: Acessibilidade
improvisada, material mal instalado, padrões diferentes etc. Sempre o receio de
perder avião, trem etc., passar do tempo no hotel pode significar mudanças
complicadas. Táxi para pequenas distâncias? É difícil. Felizmente agora existe
o UBER, mas em Lisieux, lembrando uma situação com muitas histórias, quem
precisar de táxi na estação de trem deverá telefonar (???) e o ponto de ônibus
está parcialmente desativado... ôooo pernadas.
Paixões religiosas podem significar caminhadas de
penitentes...
Felizmente as calçadas e ruas, boa sinalização, trânsito
urbano disciplinado (cuidado com bicicletas, patinetes, monociclos e outras
novidades velhas, todos pensam que você ouve bem, enxerga melhor) são quase perfeitas e se tivemos a sorte de
levar bagagens mais leves com rodinhas, ótimo! E a esposa concorda com isso?
Milagrosamente as grandes greves (esporte tradicional
francês) não aconteceram. O atual governo promove mudanças cuidadosamente e tem
credibilidade
O pesadelo ou o paraíso começa no Brasil (de onde saímos e
na Europa encontramos a liberdade inacreditável para brasileiros de poder ir
longe simplesmente andando) e só termina quando voltamos, cansados, felizes,
orgulhosos de termos escalado essas montanhas e com a coleção de coisinhas que
damos para familiares sedentos de presentes raros (logo decepcionados ou
felizes...).
Isso é uma gota de histórias de passeios inesquecíveis, mas
que exigem mais e mais atenção à medida que envelhecemos.
Cascaes
21.11.2017
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