Anita: era 17 de outubro de 1981. Dálio Zippin, meu pai disse à sua
amada Lili: "hoje eu não venho. vou jantar com a Anita, grande amor da
minha vida".
Era meu
aniversário. 29 anos, eu ia dar um jantar para parentes e amigos em meu
apartamento.
Dálio Pai
estava na sauna do Graciosa Country Club, onde ia há décadas. Contam eu lá ele
descansava, afinal era o advogado das soluções na ponta da língua, segundo
amigos. Sempre a trabalhar com o cérebro e orientar os perdidos na noite, ou no
dia.
E o telefone
meu tocou: Dálio Pai tinha partido na sauna, de infarto fulminante. Tinham
médicos ao redor, também a usufruir da sauna mas nada puderam fazer.
Foi velado
no Tribunal de Justiça com pompa de Desembargador, graças aos bons amigos que
encontrou e manteve acesa a chama da bondade e dignidade pelo caminho.
E a palavra dele para sua querida Lili começou a
fazer sentido. Sim, Dálio Zippin não veio para casa. Foi jantar com o grande
amor de sua vida, Anita , sua mãe. Eu sempre fui a neta dela, sua Anitinha.
Era num sábado,
como ele gostaria. Dizia para nós, os seis filhos: "quando eu partir,
quero que seja num sábado. Assim, meus fregueses de caderno(quem ele ajudava)
só vão saber na segunda-feira pelo jornal, e então, não precisarão gastar com
passagem de ônibus".
Foi Dálio
Zippin, ficou a saudade.
Na
segunda-feira, nós advogados, Dálio, Sérgio e eu fomos abrir o escritório de
advocacia de Dálio Zippin, para vermos se tinham processos em andamento, etc.
Encontramos
um bilhete numa mãozinha de metal, esta que olho agora ao lado do computador
.Dizia mais ou menos assim:
"meus
filhos. Favor Publicar. Dálio comunica seu próprio falecimento ocorrido no dia
17 de outubro do corrente. Não houve flores porque eu criei a flor simbólica e
todo o que gastarem, façam doação para a Sociedade Socorro aos Necessitados.
Recebi em vida muito mais do que mereci. Depois de morto, nada mais preciso.
Seu irmão , universalista, Dálio Zippin.
Poderia
parar por aqui esta história que aconteceu há 41anos.
Mas tem a
graça que levamos ao Dr. Francisco Cunha Pereira para publicar na Gazeta do
Povo. E ele perguntou-me, com ternura e emoção:
"mas ,
doutora Anita, quer que publique também com a assinatura de seu saudoso
pai"?
Eu disse que
sim, e acredito que metade de Curitiba se emocionou.
Agora, neste
dia , ou nesta noite, recebo o sinal como gosto de sentir perto de mim os que
me são caros e como dizia o jornalista Wanderley Dias,,, partiram antes;
Quando
estava pensando, será que irei escrever algo aos meus amigos e colegas de vida
bem vivida, eis que um dos filhos de Dálio Zippin, daqueles filhos de
estimação, o Amadeu Geara coloca o sinal de Dálio Pai, bem aqui.
Conto, esta
canção, que Geara escolheu hoje no face, Dálio Pai nos chamava depois do
jantar, em noite bela de lua cheia, pedia que fôssemos em silêncio. Ele pegava
o violino e ia à janela de sua amada Lili cantar a música Lua Branca.
e quero mais
sinal que este?
agradeço
todos que nos querem bem, que nos cuidam, nos protegem, nos dão momentos lindos
nesta vida e fazem com que acreditemos que, numa linda noite de luar, ainda
irei fazer uma serenata na janela da eterna Lili, mãe de ouro, com o violinista
Dálio Zippin e meus irmãos que subiram antes José, Dálio Filho, Sérgio e
Marilu.
Por
enquanto, ficarei mais um bom tempo com a irmã Diana a tentar praticar o bem
como eles nos ensinaram e, quem sabe, quando estiver subindo venha um
violinista deste o telhado a me saudar, meu amado pai Dálio Zippin.
para ele, a
eterna frase que escreveu bem grande na parede do quarto das meninas para nunca
esquecermos, hoje tão bela para saudar sua subida à eternidade:
"quando
só se pretende a prática do bem, sempre se triunfa" (J. J. Rousseau)
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