sexta-feira, 16 de outubro de 2020

Saudades de um pai inesquecível

 

Anita: era 17 de outubro de 1981. Dálio Zippin, meu pai disse à sua amada Lili: "hoje eu não venho. vou jantar com a Anita, grande amor da minha vida".

Era meu aniversário. 29 anos, eu ia dar um jantar para parentes e amigos em meu apartamento.

Dálio Pai estava na sauna do Graciosa Country Club, onde ia há décadas. Contam eu lá ele descansava, afinal era o advogado das soluções na ponta da língua, segundo amigos. Sempre a trabalhar com o cérebro e orientar os perdidos na noite, ou no dia.

E o telefone meu tocou: Dálio Pai tinha partido na sauna, de infarto fulminante. Tinham médicos ao redor, também a usufruir da sauna mas nada puderam fazer.

Foi velado no Tribunal de Justiça com pompa de Desembargador, graças aos bons amigos que encontrou e manteve acesa a chama da bondade e dignidade pelo caminho.

E a  palavra dele para sua querida Lili começou a fazer sentido. Sim, Dálio Zippin não veio para casa. Foi jantar com o grande amor de sua vida, Anita , sua mãe. Eu sempre fui a neta dela, sua Anitinha.

Era num sábado, como ele gostaria. Dizia para nós, os seis filhos: "quando eu partir, quero que seja num sábado. Assim, meus fregueses de caderno(quem ele ajudava) só vão saber na segunda-feira pelo jornal, e então, não precisarão gastar com passagem de ônibus".

Foi Dálio Zippin, ficou a saudade.

Na segunda-feira, nós advogados, Dálio, Sérgio e eu fomos abrir o escritório de advocacia de Dálio Zippin, para vermos se tinham processos em andamento, etc.

Encontramos um bilhete numa mãozinha de metal, esta que olho agora ao lado do computador .Dizia mais ou menos assim:

"meus filhos. Favor Publicar. Dálio comunica seu próprio falecimento ocorrido no dia 17 de outubro do corrente. Não houve flores porque eu criei a flor simbólica e todo o que gastarem, façam doação para a Sociedade Socorro aos Necessitados. Recebi em vida muito mais do que mereci. Depois de morto, nada mais preciso. Seu irmão , universalista, Dálio Zippin.

Poderia parar por aqui esta história que aconteceu há 41anos.

Mas tem a graça que levamos ao Dr. Francisco Cunha Pereira para publicar na Gazeta do Povo. E ele perguntou-me, com ternura e emoção:

"mas , doutora Anita, quer que publique também com a assinatura de seu saudoso pai"?

Eu disse que sim, e acredito que metade de Curitiba se emocionou.

Agora, neste dia , ou nesta noite, recebo o sinal como gosto de sentir perto de mim os que me são caros e como dizia o jornalista Wanderley Dias,,, partiram antes;

Quando estava pensando, será que irei escrever algo aos meus amigos e colegas de vida bem vivida, eis que um dos filhos de Dálio Zippin, daqueles filhos de estimação, o Amadeu Geara coloca o sinal de Dálio Pai, bem aqui.

Conto, esta canção, que Geara escolheu hoje no face, Dálio Pai nos chamava depois do jantar, em noite bela de lua cheia, pedia que fôssemos em silêncio. Ele pegava o violino e ia à janela de sua amada Lili cantar a música Lua Branca.

e quero mais sinal que este?

agradeço todos que nos querem bem, que nos cuidam, nos protegem, nos dão momentos lindos nesta vida e fazem com que acreditemos que, numa linda noite de luar, ainda irei fazer uma serenata na janela da eterna Lili, mãe de ouro, com o violinista Dálio Zippin e meus irmãos que subiram antes José, Dálio Filho, Sérgio e Marilu.

Por enquanto, ficarei mais um bom tempo com a irmã Diana a tentar praticar o bem como eles nos ensinaram e, quem sabe, quando estiver subindo venha um violinista deste o telhado a me saudar, meu amado pai Dálio Zippin.

para ele, a eterna frase que escreveu bem grande na parede do quarto das meninas para nunca esquecermos, hoje tão bela para saudar sua subida à eternidade:

"quando só se pretende a prática do bem, sempre se triunfa" (J. J. Rousseau)

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