sexta-feira, 20 de março de 2020

RETIRO CULTURAL

         R E T I R O    C U L T U R A L 

                            Anita Zippin

No outono dia vida, quem diria que ficaríamos ao mesmo tempo em casa, a pensar e repensar na vida?
Quem diria que não iríamos viajar fisicamente, mas como bons escritores, darmos algumas passadas nos lugares sonhados ou até vividos em outras viagens?
Quem diria que estaríamos mais voltados para a família, para a mesa do café da tarde que nunca era usada , porque todos nós tínhamos nossos afazeres até a noite chegar bem forte?
Quem diria que poderíamos tomar banho longo, até de espuma para quem tem banheira ou hidro, como nos filmes, porque, depois de tantos anos, ou décadas... temos tempo?
Quem diria que os abraços e beijos proibidos pelo vírus mundial que se instala, deixariam de ser dados, ao menos nos companheiros e companheiras que há muito esperavam por um afeto um pouco mais longo?
Quem diria que podemos, mesmo de longe, dar um aceno para vizinhos que não víamos há anos, mesmo que de janela a janela, mas pensemos, há quanto tempo não notávamos a existência dos que vivem ao nosso redor?
Quem diria que podemos nos dar ao luxo de ver televisão sem que aquela voz estranha dentro de nós, obrigue a levantarmos para a produção de trabalho, literária ou mesmo doméstica?
Quem diria que iríamos ganhar férias, quase todos  ao mesmo tempo, quase sempre remuneradas e poderíamos ficar de papo pro ar, vendo o sol nascer, se por e a lua toda bela chegar no meio das estrelas, dando até noites de luar?
Quem diria... quem diria...quem diria...
Saca do mal o bem, já me ensinava Dálio Zippin, advogado e jornalista, meu saudoso pai. Também ele dizia em alto brado:
“para nós, nada de ruim acontece”.
E mais, pintou em letras garrafais no quarto das meninas Diana, Anita e Marilu, com o lápis de olhos de nossa mãe Lili a seguinte frase, um lema de vida:
“Quando só se pretende a prática do bem, sempre se triunfa” (J.J. Rousseau)
Quem diria que um dia, todos  ficaríamos em casa e poderíamos produzir literatura, textos, buscar outros escondidos em pastas, deleitarmos com matérias alheias que temos tempo de ler, organizar nosso computador que tudo aceita mas merece uma limpeza  para deixar só o bom ao nosso redor?
Quem diria que os escritores estariam em Retiro Cultural?
Assim vejo os cancelamentos de reuniões culturais de todos os lados, de teatros e cinemas fechados, da Broadway, coração da cultura estar de portas fechadas por uma grande causa.
Por isso venho incentivar o escritor que vive dentro de cada um, aquele que procuro sempre nas palestras que ministro, dizendo que ou estes seres maravilhosos acordam, ou partem sem serem apresentados. 
Busco o escritor dentro de cada um, e não precisa escrever. Basta apreciar a leitura, ou não gostar .É o escritor quem está se manifestando. Se derem um chance , ele vai acordando e, até dará textos belos, poemas lindos. Tudo poderá ficar dentro de uma gaveta, no computador, ser deletado, ou até se transformar em belo livro ou fazer parte de alguma antologia.
Por isso, querido leitor que me dá ouvidos, vamos , vamos, vamos!
Vamos ler, escrever, assistir os filmes que adoramos e nunca mais tivemos tempo para rever, conversar mais com nossos parentes e amigos, mesmo à distância. Mas vale a pena contar a eles o quão  importantes são em nossas vidas. Temos tempo!

Que tudo volte ao normal, em breve.
Por enquanto, maestro música e Champanhe de Peppino de Capri.
Se quiserem acompanhar esta crônica com uma Moet, maravilha. 
Até qualquer dia, ou qualquer noite, sempre com entusiasmo de  quem está em Retiro Cultural.
Que “Tua seja a terra. E o céu também”!
(Anita Zippin, advogada, jornalista, presidente da Academia de Letras José de Alencar)

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