domingo, 25 de abril de 2021

A perda prematura do pai e a sobrevivência da família

 Nossas famílias (minha e de minha esposa) perderam os pais muito cedo. Em 1966 Pedro Cascaes faleceu após curto período de conhecimento do câncer que o fulminou e minha mãe não estava preparada para o desafio da viuvez.

Minha irmã viu-se obrigada a cuidar dos negócios familiares ainda muito jovem pois todos aceitavam o fato de que eu, sendo casado, estudante em Minas Gerais e com uma filha recém-nascida deveria continuar os estudos.

Meu irmão, o Pedrinho para nós, era criança. Sentiu demais a falta do pai, o que lhe afetou a vida posterior de forma decisiva.

Com certeza o Pedro Cascaes não sonhava que isso pudesse acontecer. Tinha muita saúde, escapara com vida até da Gripe Espanhola que contraiu na infância, sucumbiu ao câncer. Fumava demais.

Pedro que os amigos chamavam de Pedrinho era espartano, lúcido, cauteloso, trabalhador e vivia para as famílias, em casa e em Florianópolis.

Deixou muito dinheiro e logo minha mãe e a Soneca mostraram o que fazer com o dinheiro. Compraram um belo carro, mais tarde um apartamento em Camboriú que muito pouco não se transformou em tragédia. O bloco de quatro pavimentos onde estava esse sonho de lazer desabou meio mês antes de ser ocupado.

Ir passar férias em Santa Catarina ganhou outra dimensão para nós em Curitiba.

O estilo folgado era o prêmio que meu pai sonhava ter após a minha formatura, imagino.

Minha irmã assumiu responsabilidades enormes soube cuidar da mãe enquanto aguentou. A velhinha era uma fera quando provocada.

NO principal reflexo da ausência do pai foi a educação do meu irmão. Ele unia suas gaiatices com o trabalho e seu estilo de líder o envolveu em atividades políticas que meu pai abominaria, imagino!

De longe vimos tudo isso e por azar quando o mano foi estudar no CEFET em Curitiba, 1972, mudamos para Florianópolis onde fiz mestrado. A liberdade que usufruiu em Curitiba levou o Pedrinho para amigos laboriosos e modernos. Vendeu até sandália na feirinha. Repetiu lá o que fizera em Blumenau vendendo limão do quintal de casa de um amigo. Eles foram surpreendidos pela mãe, insistentemente convidada a comprar as frutas.  Naturalmente tudo virou piada pois os vendedores deviam ter algo em torno de 5 a 6 anos.

Infelizmente nem tudo eram alegrias, mas situações divertidas aconteceram quando o Pedrinho pode dirigir carros e cuidar de uma loja na Rua 15. Um dia minha mãe foi ao dentista, Dr. Tonolli, e da cadeira de trabalho dele viu um carro atolado na prainha sendo empurrado por pessoas com o uniforme da Instaladora.  Era meu irmão que tinha atolado por lá durante a noite com uma namorada...

Os negócios prosperaram até a criação do Plano Real, foi um desastre em Blumenau.

Antes disso, contudo, compraram um apartamento no Edifício Aquarius em Balneário de Camboriú, lugar que minhas filhas aproveitaram ao máximo.

Quando foi possível eu e a Tânia passamos a ter nosso ninho num conjunto que tinha até piscina. A partir daí a praia perdeu importância e a Isabela e a Juliana ganharam um lugar especial. O Caio Lúcio também, praia para quê?

Isabela até ajudou o porteiro a controlar a cancela... O Caio um dia fez xixi na cabeça do zelador... as artes e festas eram rotina que eu aproveitava nos finais e semana e nas férias.

Deixando amenidades de lado fico pensando no que vemos agora, diariamente, com as viúvas, órfãos, pessoas que perdem a estrutura emocional e material morrendo de Covid e outras doenças por falta de atendimento pleno.

A tristeza é uma sombra diária...


João Carlos Cascaes

Curitiba, 25 de abril de 2021

https://tinformando-meus-blogues.blogspot.com/



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