Nossas famílias (minha e de minha esposa) perderam os pais muito cedo. Em 1966 Pedro Cascaes faleceu após curto período de conhecimento do câncer que o fulminou e minha mãe não estava preparada para o desafio da viuvez.
Minha irmã
viu-se obrigada a cuidar dos negócios familiares ainda muito jovem pois todos
aceitavam o fato de que eu, sendo casado, estudante em Minas Gerais e com uma
filha recém-nascida deveria continuar os estudos.
Meu irmão, o
Pedrinho para nós, era criança. Sentiu demais a falta do pai, o que lhe afetou
a vida posterior de forma decisiva.
Com certeza
o Pedro Cascaes não sonhava que isso pudesse acontecer. Tinha muita saúde,
escapara com vida até da Gripe Espanhola que contraiu na infância, sucumbiu ao
câncer. Fumava demais.
Pedro que os
amigos chamavam de Pedrinho era espartano, lúcido, cauteloso, trabalhador e
vivia para as famílias, em casa e em Florianópolis.
Deixou muito
dinheiro e logo minha mãe e a Soneca mostraram o que fazer com o dinheiro.
Compraram um belo carro, mais tarde um apartamento em Camboriú que muito pouco
não se transformou em tragédia. O bloco de quatro pavimentos onde estava esse
sonho de lazer desabou meio mês antes de ser ocupado.
Ir passar
férias em Santa Catarina ganhou outra dimensão para nós em Curitiba.
O estilo
folgado era o prêmio que meu pai sonhava ter após a minha formatura, imagino.
Minha irmã
assumiu responsabilidades enormes soube cuidar da mãe enquanto aguentou. A
velhinha era uma fera quando provocada.
NO principal
reflexo da ausência do pai foi a educação do meu irmão. Ele unia suas gaiatices
com o trabalho e seu estilo de líder o envolveu em atividades políticas que meu
pai abominaria, imagino!
De longe
vimos tudo isso e por azar quando o mano foi estudar no CEFET em Curitiba,
1972, mudamos para Florianópolis onde fiz mestrado. A liberdade que usufruiu em
Curitiba levou o Pedrinho para amigos laboriosos e modernos. Vendeu até sandália
na feirinha. Repetiu lá o que fizera em Blumenau vendendo limão do quintal de
casa de um amigo. Eles foram surpreendidos pela mãe, insistentemente convidada
a comprar as frutas. Naturalmente tudo
virou piada pois os vendedores deviam ter algo em torno de 5 a 6 anos.
Infelizmente
nem tudo eram alegrias, mas situações divertidas aconteceram quando o Pedrinho
pode dirigir carros e cuidar de uma loja na Rua 15. Um dia minha mãe foi ao dentista,
Dr. Tonolli, e da cadeira de trabalho dele viu um carro atolado na prainha
sendo empurrado por pessoas com o uniforme da Instaladora. Era meu irmão que tinha atolado por lá durante
a noite com uma namorada...
Os negócios
prosperaram até a criação do Plano Real, foi um desastre em Blumenau.
Antes disso,
contudo, compraram um apartamento no Edifício Aquarius em Balneário de
Camboriú, lugar que minhas filhas aproveitaram ao máximo.
Quando foi
possível eu e a Tânia passamos a ter nosso ninho num conjunto que tinha até
piscina. A partir daí a praia perdeu importância e a Isabela e a Juliana
ganharam um lugar especial. O Caio Lúcio também, praia para quê?
Isabela até
ajudou o porteiro a controlar a cancela... O Caio um dia fez xixi na cabeça do
zelador... as artes e festas eram rotina que eu aproveitava nos finais e semana
e nas férias.
Deixando
amenidades de lado fico pensando no que vemos agora, diariamente, com as
viúvas, órfãos, pessoas que perdem a estrutura emocional e material morrendo de
Covid e outras doenças por falta de atendimento pleno.
A tristeza é
uma sombra diária...
João Carlos Cascaes
Curitiba, 25 de abril de 2021
https://tinformando-meus-blogues.blogspot.com/
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