terça-feira, 14 de maio de 2019

M Ã E, Garota do Tempo


M Ã E, Garota do Tempo

É sair de casa e lá vem a frase depois do abraço:
Está levando casaco? Ou até...
Vai passar calor. Melhor trocar de camisa.
E o dia passa que nem sentimos até que , mais uma vez, despedida, um abraço, talvez um beijo e a frase: Está levando casaco? Ou até...Vai passar calor. Melhor trocar a camisa.
Os meteorologistas ligam quase sempre para a mãe e perguntam:
Mas a massa pode ar polar com a frente fria prevista para amanhã, virá hoje à noite, mesmo.
Ou até...
Mas, se está agora com sol a 8 graus, tem certeza de que de noite farão 24 graus?
E assim vai o tempo, o abraço, o beijo.
Vez que outra entram em sintonia com as frases, ou preocupações de todas as mães.
É instinto materno, como se ao darem a luz, ficassem ligadas num termômetro para proteger seus filhos, netos e quem sabe... até bisnetos.
Também tem alguns telefonemas para elas à tarde, algum recado ou momento importante, tipo, mãe parabéns pelo seu aniversário, ou até... pague a conta para mim. Ou até... vou chegar mais tarde. Ou até... vou levar amiga para dormir em casa e, antes de desligar a frase que pode importunar, mas é acalentadora: Está agasalhado?Sabe vem frio por aí. Ou até... que calor. Ponha o blusão no carro porque está muito quente. E tome muita água para não desidratar.
E o tempo passa, e a vida enlaça, e a vida desenlaça.
A mãe não mais tem tempo de levar o menino, ou o homem até a porta e desejar bom dia.
A mãe não mais tem tempo para frases simples, mas que ecoam em todos os corações.
A mãe não mais tem tempo para um abraço, um beijo, que dirá pronunciar algumas palavras.
A mãe não mais tem tempo, porque o tempo irá levá-la.
E a frase fica no ar!
Mesmo sem a mãe a acalentar, filho sem mãe, filha sem mãe, ainda ouvem a frase... no ar.
Param na porta, dão uma risada que muitas vezes não é compreendida pelos que estão a redor e partem para o dia a dia. Para a noite a noite.
E, num lindo dia de sol, ou quem sabe, numa noite de luar, vem a frase:
Leve o agasalho. Vai esfriar.
Ou até... deixe a jaqueta. Vai fazer muito calor.
Ou até... ou até depois... filho amado!
Ou até ...minha menina, futura garota do tempo!
Ou até... ou até...      

(Anita Zippin, advogada, jornalista, presidente da Academia de Letras José de Alencar)

blob:https://web.whatsapp.com/bf8c4e96-6c5a-4f06-a47a-7352e7b488fb

Nenhum comentário:

Postar um comentário

GRATIDÃO OS HEROIS DA PANDEMIA