A Academia de Letras José de Alencar começou como Associação de Cultura José de Alencar, em 04 de outubro de 1939, em Curitiba, Paraná. Atual presidente: Dra. Anita Zippin
segunda-feira, 18 de janeiro de 2016
Nós, tatuagem
Busco
em Drummond a comparação. Ele em seu poema emblemático: “Eu, etiqueta”, nos indica
a dimensão da nossa realidade frente ao sistema estabelecido; de forma
absolutamente majestosa, em sua poética. Vejo, de alguma forma, uma similitude
entre as etiquetas e as tatuagens, salvo que as “etiquetas” se apegam às nossas
indumentárias e as tatuagens se impingem em nossa epiderme. Nos aviamos por aí,
repletos de etiquetas, de anúncios, de reclames que, muitas vezes, nem sabemos
de que se trata. De se indagar, quanto de participação temos, efetivamente, nas
imagens, valores e identidades que disseminamos. Carregamos virtudes,
tendências, dons, personalidades; mas, ainda que em diferentes proporções,
seguimos arrastando uma infinidade de preconceitos, equívocos, desatenções,
maus hábitos e por aí vai. Quando se diz que o mundo está confuso, que não se o
entende mais, que estamos doentes (coisa de maduros e de “crédulos”), o que se
está a dizer é que nos falta o entendimento. E, na verdade, temos razão para
isso, já que a complexidade que se estabeleceu na lógica globalizada torna
difícil a qualquer pessoa – não especializada, distinguir as razões e os
porquês dos fatos e acontecimentos. Assim, de se indagar: qual a “atitude”, com
qual consciência ostentamos frases, dizeres, marcas, dísticos, símbolos,
escudos, bandeira em nossas vestimentas? Em nossas mentes e corações? E aí
reside uma grande diferença. Na linguagem das “etiquetas” há provisoriedade; é
fácil mudar de opinião, até mesmo a opinião é menos presente: pode se estar
usando uma estampa de algo que nem mesmo se saiba o que exatamente significa.
Já na questão das tatuagens há uma permanência e uma certeza (mesmo quando
equivocada) do que se pretende, quanto à tatuagem e à sua exibição. Oportuno
ressaltar que há coexistência, de etiquetas e tatuagens. Nada contra.
Generalizou. Vejo senhoras e senhores, adultos e jovens, com maiores e menores
porções de seus corpos recobertos por indelével tintura. O que me surpreende, é
o fato de que esse domínio (com as reservas já salientadas) estava nas roupas e
agora já nos anda na pele. Sempre tive dificuldade em elaborar a alma humana,
menos ainda, devo confessar, posso lidar com o que poderia à ela se apegar numa
similitude às tatuagens. Que designação se poderia atribuir a uma tão
excepcional ocorrência? Seria bom saber o que Drummond diria a respeito. É por
isso que, a determinadas pessoas, as desejamos imortais...
Joatan
marcos de carvalho – Curitiba, 17 de janeiro de 2015.
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janeiro 18, 2016
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