segunda-feira, 18 de janeiro de 2016

Nós, tatuagem


Busco em Drummond a comparação. Ele em seu poema emblemático: “Eu, etiqueta”, nos indica a dimensão da nossa realidade frente ao sistema estabelecido; de forma absolutamente majestosa, em sua poética. Vejo, de alguma forma, uma similitude entre as etiquetas e as tatuagens, salvo que as “etiquetas” se apegam às nossas indumentárias e as tatuagens se impingem em nossa epiderme. Nos aviamos por aí, repletos de etiquetas, de anúncios, de reclames que, muitas vezes, nem sabemos de que se trata. De se indagar, quanto de participação temos, efetivamente, nas imagens, valores e identidades que disseminamos. Carregamos virtudes, tendências, dons, personalidades; mas, ainda que em diferentes proporções, seguimos arrastando uma infinidade de preconceitos, equívocos, desatenções, maus hábitos e por aí vai. Quando se diz que o mundo está confuso, que não se o entende mais, que estamos doentes (coisa de maduros e de “crédulos”), o que se está a dizer é que nos falta o entendimento. E, na verdade, temos razão para isso, já que a complexidade que se estabeleceu na lógica globalizada torna difícil a qualquer pessoa – não especializada, distinguir as razões e os porquês dos fatos e acontecimentos. Assim, de se indagar: qual a “atitude”, com qual consciência ostentamos frases, dizeres, marcas, dísticos, símbolos, escudos, bandeira em nossas vestimentas? Em nossas mentes e corações? E aí reside uma grande diferença. Na linguagem das “etiquetas” há provisoriedade; é fácil mudar de opinião, até mesmo a opinião é menos presente: pode se estar usando uma estampa de algo que nem mesmo se saiba o que exatamente significa. Já na questão das tatuagens há uma permanência e uma certeza (mesmo quando equivocada) do que se pretende, quanto à tatuagem e à sua exibição. Oportuno ressaltar que há coexistência, de etiquetas e tatuagens. Nada contra. Generalizou. Vejo senhoras e senhores, adultos e jovens, com maiores e menores porções de seus corpos recobertos por indelével tintura. O que me surpreende, é o fato de que esse domínio (com as reservas já salientadas) estava nas roupas e agora já nos anda na pele. Sempre tive dificuldade em elaborar a alma humana, menos ainda, devo confessar, posso lidar com o que poderia à ela se apegar numa similitude às tatuagens. Que designação se poderia atribuir a uma tão excepcional ocorrência? Seria bom saber o que Drummond diria a respeito. É por isso que, a determinadas pessoas, as desejamos imortais...

 


Joatan marcos de carvalho – Curitiba, 17 de janeiro de 2015.

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