Shopping Centers ou cidades.
Criar e vender espaços dentro de ambientes fechados
tornou-se uma forma de exclusão social e inibição das cidades. Do lado de fora
o trânsito, a violência, as faixas de servidão que denominam de calçadas,
pessimamente mal feitas e mantidas (no Brasil), a poluição e lojas, bares,
restaurantes que heroicamente resistem ao apelo de se instalarem dentro dos
grandes mercados de luxo, ou não atendem os critérios de existência nesses
lugares. Isso foi percebido em muitos países europeus que estabeleceram
critérios rígidos para a criação de lojas de departamentos e shoppings centers.
As cidades precisam ter vida, socializar, transformarem-se
em ambiente seguros e agradáveis. O ideal é que possamos sair de casa andando
sem medo de olhar para baixo, sem o perigo de agressões de animais bípedes e
quadrúpedes, sabendo que se ventar nenhum galho de árvore cairá sobre você,
caminhar por vias públicas feitas para agradar os olhos e os sentidos sem medo
e preocupações próprias de selvas das mais perigosas.
Um bom exemplo é Blumenau. Lá o comércio na Rua 15 de
Novembro era exemplar. Aos poucos as lojas 1,99 e agências bancárias foram
tomando o lugar das tradicionais lojas com nomes complicados e a criação de um
shopping center mais as enchentes sepultaram a cidade entre automóveis, ônibus,
caminhões, destroços e lembranças.
Pior ainda, em muitos congestionamentos urbanos brasileiros
(para não repetir o nome cidade) prédios gigantescos aparecem em ruas estreitas
com garagens automáticas, parecendo canhões expelindo e vórtices sugando
automóveis. Pedestres, sim, aqueles que não podem usar quatro rodas...
Cidade com vida justifica proteção policial, sistemas de
segurança sofisticados, calçadões, jardinetes, bancos para sentar, banheiros
públicos, boa iluminação, decoração e
espaço para grupos artísticos além de outras maravilhas. Quem decide o que deve
existir é o povo, é democrático, e não administradoras de templos de consumo. E
que templos! Universalizaram cheiros, marcas e até modas. Cidades mais
aristocráticas, Curitiba é um bom exemplo, parecem criar uniformes para quem
mergulha nesses lugares.
Eles têm méritos. Minhas netas que o digam, seus olhos
brilham diante de suas atrações, mas que adultos serão tão distantes do espaço
externo onde chove, faz Sol, frio, vento e a qualquer descuido, país tropical,
apresentam flores silvestres, matas em terrenos baldios e outros cenários que
fascinam turistas de países gelados.
Perdemos o fio da meada. Esquecemos que o estilo Brasil
poderia existir no dia a dia e não apenas em parques onde para chegar temos que
usar o transporte coletivo ou alguma forma de veículo. Não aprendemos com os
europeus a valorizar aspectos e culturas locais.
Talvez isso esteja mudando em alguns lugares. No nordeste
brasileiro encontramos (em viagens recentes) lugares apaixonantes.
O desafio agora é a sustentabilidade. Ou seja, já não é mais
simplesmente por capricho que devemos analisar projetos, e sim pela necessidade
de não piorar condições climáticas que dão mostras de piorarem. É um grande
desafio que pode começar pela discussão da validade da construção de mais
shoppings centers em nossas cidades.
Afinal, queremos ser gente integrada à Natureza ou a espaços
artificiais e enganadores?
Cascaes
16.3.2013
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