segunda-feira, 24 de outubro de 2011

CARTEIRO

CARTEIRO

Carteiro, o profissional da esperança,
Que em todos os dias chega à minha porta,
Com braçadas de cartas e encomendas,
Que me faz sonhar frequentemente,
acelerando o meu coração com os envelopes
de correspondências, há tanto esperadas.

Carteiro, que trás nestas mensagens, os segredos
Dos meus anseios mais íntimos, e que ficou,
Sem saber, por muito tempo, como depositário
Dos meus tesouros, das preciosas palavras de amor
Da minha distante amada!

A cada chegada sua, meu coração fremia, no anseio
Tresloucado de que eu ia ouvir a voz dela, bebendo
A sua letrinha caprichada com a menina dos meus olhos,
E reverenciava o envelope aéreo, com respeito e carinho.
Antes de abri-lo, a não correr o estranho risco de danificá-lo. E, assim, carteiro, sem saber, era o emissário do sonho e da paixão.
Era o alimentador diário da minha caixa de sapatos
Que eu enchia das mais lindas cartas de amor,
Com  juras e promessas de uma felicidade imorredoura.

Chegou o dia, porém, em que eu não queria acreditar.
Suas mãos estavam vazias para mim, definitivamente.
Eu olhava  a sua chegada, via os macinhos de cartas
Que chegavam para outros, mas aquelas verde- amarelinhas,
Via aérea, indefectíveis, haviam sumido, para nunca mais.
Sim o mesmo ?nunca mais? do Corvo do poeta Edgard Alan Poe.

Aquele ?nunca mais? soturno, sentenciante, impiedoso
Numa noite escura, fria e desesperançada.

E, assim foi, meu caro carteiro,? nunca mais?, ?nunca mais?.
Mas um dia, elas voltaram, não as cartas, que eu recebera,
Por três longos anos, mas as que eu as enviara, igualmente numa caixa, como a devolver-me todos
Os dizeres amorosos, todos os preitos de ventura, todos os sonhos elaborados. E eu aí, mais profundamente, senti,
Amigo carteiro, o quanto vc foi o transportador das ilusões que se desvaneceram pelos íngremes caminhos do pobre coração humano.

Assim mesmo, passados tantos anos, deste desalentado
Amor, ainda eu sinto um sobressalto na alma, quando vc
Entra em greve.
Por favor, carteiro, não mais entre em greve, não prolongue a tortura do meu coração.
Quem sabe um dia, ela mude de idéia, e mesmo que,
Já velhinha, tendo perdido o viço reluzente da juventude,
Se lembre deste pobre poeta, que tanto a amou, sinceramente, e escreveu as mais belas cartas de amor.
E, então possa dizer, contrariando o Corvo: para sempre, meu amor, para sempre.....
Para sempre, meu amor, para sempre.......


Dr. e Acadêmico 
José Wanderlei Resende

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